Rádio Câmara

Reportagem Especial

Vitamina D: tempo ideal de exposição ao sol depende do tom de pele

05/11/2013 - 12h55

  • Vitamina D: tempo ideal de exposição ao sol depende do tom de pele

 A Rádio Câmara apresenta, nesta semana, uma série especial de cinco reportagens sobre a vitamina D. Hoje, na segunda matéria da série, você vai saber por quanto tempo e qual o melhor horário para tomar sol para que haja absorção da vitamina D pelo organismo. Também vai saber que o uso de filtro solar impede o corpo de metabolizar os raios do sol. A reportagem é de Renata Tôrres.

Aproximadamente 60% dos brasileiros têm insuficiência ou defiência de Vitamina D. A estimativa é da Dasa, empresa proprietária de 25 laboratórios de análises clínicas localizados em 13 estados, de norte a sul do Brasil. Pertencem à empresa, no Distrito Federal, os laboratórios Exame e Pasteur .

A Dasa avaliou quase 800 mil dosagens de Vitamina D, com amostras de pessoas do Brasil inteiro, colhidas em exames de sangue realizados de 2012 até o meio deste ano. Representantes da Dasa apresentaram o resultado dessa pesquisa durante congresso realizado em Houston, nos Estados Unidos, em julho, pela Associação Americana para Clínica Química, cuja sigla em inglês é AACC. Esse evento da AACC é considerado o principal congresso de análises clínicas do mundo.

O endrocrinologista da Dasa Fabiano Sandrini explica que os resultados da pesquisa confirmam o que tem sido verificado em outros países tropicais: carência de Vitamina D, apesar de o Brasil estar localizado numa área do globo terrestre onde há muita incidência de sol, principal fonte da Vitamina D. Fabiano Sandrini explica como a pesquisa foi realizada:

"A literatura diz que quanto mais distante do Equador você estiver, maior o seu risco de deficiência de Vitamina D. Então nós estratificamos em regiões. Então, por exemplo, há um grupo chamado Norte-Nordeste, há um outro que é Sudeste e o Centro Oeste, e há um terceiro que é o grupo da Região Sul. Então nós dividimos essas regiões de acordo com a distância delas do Equador. Também dividimos pela época do ano. Então o período em que foi melhor seriam as amostras provenientes da região Norte-Nordeste do País no verão. Mas, mesmo assim, somente 55% dos indivíduos tinham valores normais de Vitamina D. Os outros teriam deficiência. Aí você vai pensar: poxa, Fabiano, mas como é que vai ter deficiência no Norte e Nordeste? Porque o que acontece é que não adianta você estar naquele local. Você tem que estar exposto à luz solar. Muitas vezes, nesses ambientes, o que ocorre, até por ser muito quente, você vai estar em carros fechados com ar condicionado, em ambientes fechados com ar condicionado, você vai estar se protegendo do sol porque é muito quente. Em compensação, o pior cenário é na Região Sul, onde aproximadamente, no inverno, só um terço da população estava com valores normais de Vitamina D. Dois terços estavam ou deficientes, ou insuficientes."

Mas qual o tempo necessário de exposição ao sol para que o organismo metabolize a Vitamina D? Isso varia de acordo com a cor da pele: quanto mais clara a pessoa, menos tempo ela precisa ficar ao sol; quanto mais escura a pele, mais tempo.

O endocrinologista e pesquisador norte-americano Michael Holick, considerado um dos maiores especialistas do mundo em Vitamina D, explica que o tempo necessário também varia segundo a hora do dia, a estação do ano e a localização da cidade no globo terrestre. No entanto, alguns critérios podem ser considerados universais.

Segundo Michael Holick, o tempo médio seria de 15 a 20 minutos ao sol, sem nenhum protetor solar nos braços, pernas, abdomen e costas, mas com o rosto sempre protegido. Ele explica que o filtro solar impede que a Vitamina D seja metabolizada. Mas depois desses minutos de exposição ao sol sem proteção, Holick alerta que o uso do filtro é essencial.

O especialista também diz que o melhor horário para que haja sintetização da Vitamina D pelo organismo é das dez horas da manhã até as três da tarde, por causa do ângulo de incidência dos raios solares. Michael Holick explica que o organismo não sintetiza Vitamina D solar antes das nove horas da manhã, nem depois das três da tarde:

"So you make no Vitamin D before 9 a.m. and you make essencially no Vitamin D after 3 p.m. So, only from about 10 a.am. until 3 p.m. will you make the most Vitamin D."

O horário de maior absorção da Vitamina D é justamente o que os dermatologistas apontam como o mais perigoso para a pele, como explica Marcus Maia, coordenador da Campanha de Câncer de Pele da Sociedade Brasileira de Dermatologia:

"Existe uma coincidência muito grande entre a radiação ultravioleta que produz a Vitamina D na pele e essa mesma radiação, esse mesmo comprimento de onda, é o que também gera o envelhecimento e o câncer da pele. Essa colisão, por assim dizer, de uma coisa boa com uma coisa ruim é um grande problema, porque a Vitamina D é necesária à saúde óssea. Acontece o seguinte: nós, dermatologistas, sabemos quem pode ter o câncer na pele e sabemos o que causa o câncer da pele. O câncer da pele é causado pela radiação solar excessiva por aquelas pessoas que têm o risco para câncer da pele. Ou seja, pessoas que têm pele clara, olhos claros, cabelos claros, que têm antecedentes familiares de câncer da pele, se queimam com muita facilidade, já tiveram queimaduras, têm muitas pintas. A essas pessoas é feita, digamos assim, a proteção solar absoluta. Ou seja, se essa pessoa tomar sol, ela, no futuro, fatalmente vai ter o câncer da pele. A essas pessoas é recomendada proteção solar absoluta."

O neurologista Cícero Coimbra, professor da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, também é especilista em Vitamina D. Desde 2002, ele já tratou aproximadamente 1.400 pessoas com esclerose múltipla, usando a substância. Cícero Coimbra afirma que, se um dermatologista proíbe uma pessoa de tomar sol, ele tem que prescrever para o paciente a Vitamina D na forma medicamentosa:

"Pode parecer que nós estamos brigando com os dermatologistas. Na realidade, é apenas uma questão de bom senso. Nós não estamos dizendo que não existem condições clínicas em que a pessoa não pode se expor ao sol. Mas toda a vez em que o dermatologista recomendar redução da exposição solar, uso de filtros solares, ele tem a obrigação de corrigir a deficiência da Vitamina D que, de outra forma, ele certamente iria provocar. E essa deficiência da Vitamina D iria provocar muito mais problemas do que aquele que ele está querendo evitar através do aconselhamento de evitar a exposição ao sol."

O dermatologista Marcus Maia afirma que os dermatologistas estão cientes disso:

"No momento em que nós receitamos a proteção solar absoluta, nós tratamos de verificar como a situação da Vitamina D fica. Se verificado que existe uma insuficiência de estoque de Vitamina D para o indivíduo, então fazemos a suplementação medicamentosa."

A vitamina D também é encontrada em alimentos, mas é quase impossível conseguir quantidades adequadas a partir da dieta. Por isso, é necessária a suplementação por meio de medicamentos. Para saber se o paciente tem suficiência ou insuficiênca de Vitamina D, o médico pede um exame de sangue específico para isso. A partir daí, a dose é receitada.

Amanhã, na terceira matéria desta série especial sobre vitamina D, você vai saber que doenças autoimunes, como lupus, vitiligo e esclerose múltipla, têm sido tratadas com altÍssimas doses de vitamina D. As doenças autoimunes ocorrem quando o sistema imunológico da própria pessoa ataca e destrói os tecidos saudáveis do corpo.

Da Rádio Câmara, de Brasília, Renata Tôrres

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