Rádio Câmara

Reportagem Especial

Turismo regional no Brasil: como incluir os parques nacionais no roteiro de quem viaja

31/10/2013 - 14h40

  • Turismo regional no Brasil: como incluir os parques nacionais no roteiro de quem viaja

Os parques nacionais brasileiros receberam em 2012 cerca de cinco milhões e 300 mil visitantes. Nos Estados Unidos, os parques atraem uma média de mais de 200 milhões de pessoas ao ano.

Hoje, na terceira matéria da série especial sobre turismo regional, saiba o que tem sido pensado para ampliar a visitação em nossos parques Brasil afora. A reportagem é de Ana Raquel Macedo.

Terceiro destino turístico mais visitado por estrangeiros que vêm ao Brasil a lazer, Foz do Iguaçu, no Paraná, tem no Parque Nacional do Iguaçu o seu principal atrativo. Em 2012, entre brasileiros e estrangeiros, o parque recebeu mais de um milhão e meio de visitantes, 10% a mais do que no ano anterior. Depois do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, é a unidade de conservação mais visitada no país. Com a diferença de que, no caso da Tijuca, os turistas muitas vezes têm no parque apenas uma entre as razões para estar na capital fluminense. No Iguaçu, não. É justamente a beleza cênica das Cataratas que leva o visitante à cidade de Foz.

Mas o que torna o Parque Nacional do Iguaçu uma das referências brasileiras em ecoturismo e turismo regional?

Integrante da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara dos Deputados e morador da região, o deputado Professor Sérgio de Oliveira, do PSC do Paraná, tem uma resposta.

"Em Foz do Iguaçu, houve uma conjunção de fatores, mas o principal deles foi a união, ações articuladas entre as entidades representativas do turismo. Toda a campanha feita para que Foz do Iguaçu fosse escolhida mundialmente como uma das sete novas maravilhas da natureza, para que conseguíssemos sair também daquela imagem estereotipada de que Foz do Iguaçu é terra de contrabando. A parceria entre o poder público - Instituto Chico Mendes, prefeitura, governo federal, governo estadual - com a iniciativa privada. Tínhamos poucos voos para Foz do Iguaçu, agora aumentou bastante."

A natureza e o ecoturismo são o segundo principal motivo das viagens realizadas por estrangeiros ao país, de acordo com o Ministério do Turismo. Mas o próprio ministério reconhece que, apesar do potencial, o ecoturismo e o turismo de aventura ainda não apresentam uma oferta estruturada de serviços.

Dos 69 parques nacionais, somente 22 contam com estrutura própria para visitação. Em alguns casos, como o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, até existem boas instalações para o turista, mas o acesso fica comprometido pela ausência de aeroporto próximo.

Em 2012, cerca de 5,3 milhões de pessoas visitaram os parques nacionais brasileiros. Desses, pouco mais de quatro milhões estiveram nos parques do Iguaçu e da Tijuca. Nos Estados Unidos, onde, além de infraestrutura adequada, existe uma tradição nacional de visitação, a média ultrapassa 200 milhões de acessos anuais.

Em Minas Gerais, o governo estadual está tentando mudar esse cenário e aposta na parceria com a iniciativa privada. O Parque Estadual do Sumidouro, o Monumento Natural Gruta Rei do Mato e o Monumento Natural Peter Lund - numa extensão de cerca de 100 quilômetros desde Belo Horizonte - passarão a ser geridos em bloco pelo setor privado. Em troca da conservação desta que é uma das rotas de cavernas mais importantes do país, a empresa que obtiver a concessão poderá lucrar com a visitação turística.

O projeto está em consulta pública. Segundo Ana Luísa da Riva, diretora-executiva do Instituto Semeia - ONG que ajudou o governo mineiro a desenhar a parceria público-privada -, o modelo proposto é pioneiro no país.

"Normalmente, editais concedem atividades. Por exemplo, eu te concedo o direito de você explorar trilhas. Quando você concede um espaço, você permite que aquele parceiro privado que vai entrar na concessão possa propor coisas inovadoras para aquele espaço. Claro que tem que estar muito transparente o que não pode ser feito. E isso tudo é regulamentado pelo plano diretor do parque. No momento em que você diz o que não pode ser feito, há um benefício de você dar liberdade para que aquele parceiro ofereça um tipo de atividade turística que mais faz sentido para o mercado no momento, para o público que ele pretende atingir, para região em que se está inserido."

No governo federal, as parcerias público-privadas também estão em estudo. De acordo com Beatriz Gomes, que coordena no Instituto Chico Mendes, a estruturação de visitação e ecoturismo, deve ser aberta à consulta pública, até o primeiro semestre de 2014, um edital para a concessão de um bloco de quatro unidades entre o Ceará e o Piauí, incluindo o Parque Nacional de Jericoacoara.

Beatriz diz que o Instituto Chico Mendes tem como meta ampliar a visitação aos parques em pelo menos 10% anualmente.

"Sempre estamos tentando crescer porque nossa visitação dos parques ainda é muito baixa. Mas a gente precisa realmente ampliar com responsabilidade, para evitar que a gente prejudique um recurso que lá na frente a gente tenha um desinteresse dos turistas por esses locais. Nós temos uma série de tarefas a cumprir para poder ampliar essa visitação. É um interesse até em termos de conservação que esse público externo seja bem recebido, queira voltar ao Brasil ou conhecer outros parques nacionais, mas também precisamos melhorar bastante a estratégia para atrair o público nacional."

Entre os municípios mato-grossenses de Poconé e Barão de Melgaço, a cerca de 100 km da capital do estado, Cuiabá, uma experiência em curso há 15 anos tem demostrado que boa divulgação e estrutura para visitação de cenários naturais podem atrair o turista brasileiro mesmo onde o acesso não é dos mais fáceis. O hotel Sesc Pantanal surgiu dentro de uma proposta de ecoturismo, associada à gestão sustentável de uma reserva particular de mais de 106 mil hectares. Localizado às margens do rio Cuiabá, no lado oposto à reserva, o empreendimento recebeu 22 mil hóspedes em 2012, 99% deles brasileiros.

Guarda-parque na reserva e guia no hotel, Antônio Coelho da Silva avalia que a experiência tem rendido frutos não apenas para a estruturação do ecoturismo, com geração de emprego e renda para a região, mas também para a recuperação ambiental de uma área antes impactada principalmente pela criação de gado.

''Cheguei após dois anos e meio da unidade em funcionamento. Posso dizer com toda a segurança: mudou e muito. Hoje temos mais animais, mais aves, a flora no geral se recuperou muito bem. (...) E o pantanal tem uma capacidade de regeneração grande, principalmente a parte de flora, pelo ciclo das águas, inundação, fertilização. O Pantanal é um lugar lindo."

A expectativa é para que experiências exitosas como a do Parque Nacional do Iguaçu e a do Sesc Pantanal possam se espalhar e levar o país a figurar entre os principais destinos do mundo. Levantamento do Fórum Econômico Mundial indica que o Brasil é líder no ranking de beleza cênica, mas ocupa apenas 51ª posição em competitividade turística.

Da Rádio Câmara, de Brasília, Ana Raquel Macedo

Amanhã, na última matéria da série especial sobre o turismo regional, saiba como o setor pode mudar para melhor a vida de comunidades carentes.

Os parques nacionais brasileiros receberam em 2012 cerca de cinco milhões e 300 mil visitantes. Nos Estados Unidos, os parques atraem uma média de mais de 200 milhões de pessoas ao ano.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h

MAIS CONTEÚDO SOBRE