Rádio Câmara

Reportagem Especial

Turismo regional no Brasil: problemas de logística afetam o deslocamento de turistas

29/10/2013 - 13h55

  • Turismo regional no Brasil: problemas de logística afetam o deslocamento de turistas

A Rádio Câmara apresenta, nesta semana, uma série especial de quatro matérias sobre o turismo regional no paÍs: os principais desafios e as perspectivas de crescimento do setor.

Hoje, na primeira matéria, confira como problemas de logística afetam o deslocamento de turistas pelo País, com consequências para o desenvolvimento de novas rotas pelo território nacional. A aviação regional é um dos principais gargalos do setor. A reportagem é de Ana Raquel Macedo.

O casal Gilvana e Lari Backes tem um encantamento pelas belezas do país e, sempre que pode, sai de férias. Gilvana e Lari contam que, em geral, buscavam aproveitar o tempo de descanso em alguma praia brasileira. Mas, em setembro último, resolveram inovar. Saíram do Rio Grande do Sul em direção ao Mato Grosso para conhecer aquela que é uma das regiões mais ricas em biodiversidade do planeta: o Pantanal.

A expectativa em ver de perto jacarés, tuiuius, capivaras, macacos e, com sorte, até onças falou mais alto do que as dificuldades para se chegar à região, como conta Lari.

"Partimos de Passo Fundo a Porto Alegre, de ônibus. De Porto Alegre a Brasília, onde fizemos a conexão, e viemos de Brasília para Cuiabá. De Cuiabá até aqui, de ônibus. Uma viagem muito longa. Se tivesse linhas aéreas, mais linhas aéreas, e aeroportos melhores, acho que essa viagem se reduziria em questão de horas. E assim ficamos um dia e meio de estrada e voo. Apesar disso, a gente fica com vontade de voltar na época de cheia, porque a experiência é muito boa."

Mas nem todo turista tem a disposição do casal gaúcho. E os problemas logísticos que hoje tanto afetam a economia brasileira também comprometem o desenvolvimento do turismo regional. Faltam estradas de qualidade, hidrovias, ferrovias e voos interligando o país. As dificuldades aumentam custos, como lembra o deputado Wellington Fagundes, do PR de Mato Grosso, integrante da Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados.

"Hoje dependemos de estradas e as estradas brasileiras, infelizmente, a maioria delas é impeditiva. Principalmente no Centro-Oeste, porque temos um volume de importação e exportação de produtos de valor agregado baixo, mas de alto peso. Melhorar ferrovias, ampliar ferrovias, buscar fazer com que hidrovias possam ser utilizadas e também a questão da aviação regional. (...) Hoje temos a aviação centralizada em São Paulo e Brasília e isso faz com que a aviação regional fique muito mais cara."

Na região do pantanal mato-grossense, por exemplo, o turista gasta, em média, em torno de R$ 350 a R$ 400 por pessoa, por dia, com hospedagem, transporte e passeios, segundo Marcus Kramm, gerente do hotel onde Gilvana e Lari Backes se hospedaram, o Sesc Pantanal.

"Ainda é um turismo caro o Pantanal. Ele vem diminuindo os valores, vem diminuindo preço, vem cada vez mais acessível. Mas ainda é um turismo caro, até porque nem todos têm a condição de atender o comerciário como nós aqui. Os acessos ainda por estrada de chão. Isso aumenta custo de transporte. Mas tenho certeza de que com aumento do fluxo de turistas o preço vai diminuir automaticamente e vai dar condição de todos poderem conhecer esse pedacinho do Pantanal."

O Pantanal mato-grossense está entre as 276 regiões indicadas pelo Ministério do Turismo como prioritárias na divulgação de roteiros, dentro de um programa de investimentos em qualificação profissional e infraestrutura.

Recentemente, o ministério anunciou a liberação de R$ 25 milhões para a construção da Estrada Verde, uma rodovia estadual que ligará Rondonópolis à capital do Mato Grosso, Cuiabá. A obra não inclui a MT - 060, por onde o casal Gilvana e Lari Backes passou, mas vai cortar o chamado Polo Pantanal, que representa 80% do Pantanal mato-grossense.

Entre as rodovias federais, os investimentos vêm, ainda, pela segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento. O último balanço do governo indica a conclusão de obras em mais de 2.600 quilômetros de rodovias até o fim de agosto e outros 7.100 quilômetros com projetos de recuperação, duplicação ou construção em andamento.

Mas o governo sabe que somente o transporte rodoviário não resolve a demanda por melhorias das condições de deslocamento de pessoas e mercadorias no país. A União anunciou investimentos em ferrovias e aeroportos.

No caso da aviação civil, as obras caminham principalmente em aeroportos concedidos para iniciativa privada, como Brasília e Guarulhos, ou onde haverá jogos da Copa do Mundo no próximo ano.

Mas, dos 270 aeroportos regionais indicados como prioritários no lançamento do programa federal de investimento em logística aeroportuária no fim do ano passado, apenas 50 estão com licitação de reforma prevista até o fim do ano, para início das obras em fevereiro. Nesses locais, falta, principalmente, um terminal de passageiros. A maioria deles, 17, está no Norte do país, onde a aviação regional é praticamente o único meio de transporte além do barco.

O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, reconhece que os custos da aviação regional são altos. Ele avalia que, mesmo com as obras previstas, será preciso conceder subsídios aos passageiros nessas rotas. O assunto, de acordo com o ministro, está em análise no Tesouro Nacional.

"O Tesouro está fazendo os estudos necessários para que eles possam servir de estímulo, garantia e o funcionamento dos voos regionais. O subsídio não atende às capitais. Ele é uma ferramenta para garantir a interiorização e garantir que as pessoas que moram no interior do Brasil possam se beneficiar desse avanço que estamos dando de trazer a aviação brasileira para o século XXI."

Em outra frente, o governo também planeja passar para o controle de municípios alguns aeroportos operados pela Infraero. O primeiro passo já foi dado com a municipalização do aeroporto de Campos, no Rio de Janeiro.

Para o especialista em aviação Jorge Leal de Medeiros, da Universidade de São Paulo, o Executivo federal poderia conceder à iniciativa privada outros aeroportos federais além de Brasília, Guarulhos, Viracopos, Confins e Galeão. Segundo ele, em alguns terminais estaduais, como Vitória da Conquista, na Bahia, a concessão tem trazido bons resultados.

"Infraero diz que há pouquíssimos aeroportos superavitários. Eu coloco em questão a gestão. Você pode não ter um padrão de conforto de um Dubai da vida, mas você pode ter um padrão de conforto como estamos oferecendo na Bahia, no aeroporto de Vitória da Conquista. Tem 600 metros quadrados. Não oferece um grande conforto, mas atende a população. Uma empresa concessionária tem resultado como isso lá. As pessoas estão satisfeitas."

Presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, o deputado Valadares Filho, do PSB de Sergipe, acrescenta que todos os modais de transporte devem ser pensados para incentivar o desenvolvimento do turismo no país, inclusive o marítimo.

"É um setor de suma importância. Você sair de um navio no Nordeste para o Sul do País, o Sudeste, Norte. Onde tiver possibilidade de esses navios passarem, isso também seria um incremento para o desenvolvimento do turismo regional."

Em 2012, 5,7 milhões de turistas estrangeiros visitaram o Brasil e cerca de 60 milhões de brasileiros viajaram pelo país. A meta da Embratur é ampliar para 10 milhões, até 2020, o número de turistas vindos de outros países.

Especialistas concordam, no entanto, que o nosso potencial é maior, principalmente se o turismo regional ganhar competitividade. Hoje, capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador estão entre os principais destinos visitados por brasileiros. Entre os estrangeiros, as capitais também lideram o ranking dos destinos de quem vem a passeio ou a trabalho ao Brasil.

Amanhã, na segunda matéria da série especial sobre o turismo regional, conheça as dificuldades para a qualificação de mão de obra envolvida com o setor.

Da Rádio Câmara, de Brasília, Ana Raquel Macedo

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