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Reportagem Especial

Voto jovem: confira as ações de incentivo ao voto limpo e consciente

27/09/2013 - 11h37

  • Voto jovem: confira as ações de incentivo ao voto limpo e consciente

MÚSICA: "Xote do Ficha Limpa"

"Não voto em nenhum ladrão, eu não. (bis)
Só voto com ficha limpa. Se você tem cara suja, não peça meu voto não..."

Esse "Xote do Ficha Limpa" serviu de trilha sonora para as comemorações da promulgação da lei (Lei Complementar 135/10) que ampliou os casos de inelegibilidade a fim de "proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato" eletivo.

A ficha limpa nas eleições surgiu de um projeto de lei de iniciativa popular, assinado por mais um milhão e meio de brasileiros e aprovado pelo Congresso Nacional, em 2010, a partir da mobilização do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. A lei impede a candidatura de políticos condenados em decisões colegiadas da Justiça e também daqueles que tiveram o mandato cassado ou que renunciaram para fugir da cassação.

MÚSICA: "Xote do ficha limpa"
"Não adianta enrolar com o seu discurso,
Siga agora o seu percurso, pega o beco e vá embora.
Sendo você, eu usava óleo de peroba pra sua cara de pau.
Sei que é minha vez agora de dar um basta nessa situação
Sou decente e sou nação, sou amor ao meu país.
Siga o seu caminho sem verdade, quero ver felicidade vendo meu povo feliz..."

A Reforma Política e uma nova cultura do eleitor diante do voto são os outros passos esperados para superar a crise de representatividade dos partidos e dos parlamentos. Integrante da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política, José Moroni alerta que essa é a hora de todos os segmentos subrepresentados na política aproveitarem a onda de protestos, liderada pelos jovens, para influenciar as decisões do país.

"Se a gente pegar a Câmara dos Deputados, não chega a 9% a presença das mulheres. A gente quase não vê a representação negra, a representação indígena, da juventude, da periferia, homoafetiva. Então, se o Parlamento é, de fato, a representação, é preciso que todos os segmentos estejam representados neste espaço. E a gente não percebe isso".

A primeira oportunidade efetiva de alterar o quadro dessa representação política já tem data marcada: 3 de outubro de 2014, quando o mesmo manifestante que saiu às ruas gritando ou estampando reivindicações em faixas e cartazes poderá usar o voto como instrumento da "soberania popular", conforme diz a Constituição brasileira. E Moroni sugere uma autocrítica ao eleitor.

"A gente fala do valor da política e do resgate dos instrumentos de se fazer política. Se não houver uma mudança da nossa cultura política enquanto sociedade, não adianta votar nenhuma Reforma Política. A primeira coisa que temos de mudar nessa nossa cultura política é o entendimento de que política se faz por meio de favores, no campo de 'o que é que eu posso ganhar'. Se não se conseguir romper isso e colocar a política como uma função essencialmente pública, nós não vamos conseguir fazer as transformações que estamos querendo".

TRILHA

Até outubro de 2014, o diretor da União Nacional dos Estudantes, Thiago Aguiar, espera que os partidos se abram à participação efetiva do cidadão comum, deixando de lado o que ele chama de submissão partidária ao poder econômico. A UNE, segundo Thiago, defende o financiamento público das campanhas eleitorais e o espaço de vários segmentos sociais em listas preordenadas de candidaturas.

"Para aprofundar a democracia e também dar aos candidatos um perfil mais de projeto político e de ideia. Despersonificar o debate, equilibrar as disputas eleitorais, o que, na nossa opinião, é fundamental para a consolidação da democracia em nosso país".

"Eleições 2006: nas eleições de outubro, o voto é obrigatório para os maiores de 18 anos e facultativo para quem tem 16 e 17 anos e para os maiores de 70. Você que pode votar vai decidir por quem ainda não pode. Pense nisso. Pense e vote. O Brasil é tão bom quanto o seu voto. O Brasil está em suas mãos. Vota Brasil. Justiça Eleitoral".

Essa campanha, veiculada nas rádios e TVs em 2006, representou o apelo do Tribunal Superior Eleitoral pelo exercício do direito ao voto, sobretudo da legião de jovens de 16 e 17 anos, que não são obrigados a votar.

Naquele ano, só 2 milhões deles tiraram o título eleitoral, o que representou apenas 1,7% do eleitorado. Preocupada com esse desinteresse por política, a Associação dos Magistrados do Brasil lançou, também em 2006, uma cartilha voltada para o público infantil, incentivando o diálogo político entre pais e filhos. A ideia, segundo o jurista e então presidente da AMB, Rodrigo Colaço, era ter as crianças, desde cedo, como multiplicadores da importância da política e de "eleições limpas".

"A experiência mostra que, quando a criança é motivada a discutir um assunto, ela leva essa discussão para casa. E os pais nunca querem parecer, perante a criança, como desinformados e alienados e também vão procurar se informar".

TRILHA (manifestações)

O "gigante" que acordou ainda não sabe até onde vai o impacto de seu rugido. A dinâmica das redes sociais na internet, a inquietude dos jovens que lideraram as manifestações de junho, a movimentação dos partidos e dos políticos em geral, as respostas dadas pelo poder público e as mazelas que ainda persistem no país continuam em plena ebulição.

A Câmara dos Deputados também reflete essa ebulição, acelerando a busca de consenso em torno de matérias polêmicas e aprovando propostas para a melhoria dos serviços públicos, sobretudo de educação e saúde. Também é claro o aumento do interesse do cidadão, principalmente dos jovens, em acompanhar as votações dos deputados e apresentar sugestões nas audiências públicas por meio dos canais de interação da Câmara, batizados de e-democracia. Aos 79 anos de idade, a coordenadora da Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular, deputada Luíza Erundina, do PSB paulista, se permite, mais uma vez, sonhar com um passo adiante da democracia brasileira.

"Eu também tenho uma dose de descrédito. Estou aqui há 14 anos e, desde que cheguei, articulando com a minha participação nos movimentos sociais, luto contra esse descrédito, porque o descrédito gera desânimo, gera desalento e gera, portanto, desmobilização. Quando se desmobiliza, perde-se a perspectiva do possível, do viável. A presença de vocês aqui e a contribuição de vocês reforçou essa minha dimensão de esperança. Vocês trouxeram a consciência de que é possível".

TRILHA (manifestação)

Termina hoje a série especial sobre o voto jovem. A Reportagem Especial teve produção de Daniel Zuco, Carmem Brito e Íris Cary; trabalhos técnicos de Francisco Mendes; edição de Mauro Ceccherini e reportagens de José Carlos Oliveira. 


Da Rádio Câmara, de Brasília, José Carlos Oliveira

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h