Rádio Câmara

Reportagem Especial

Voto jovem: especialistas apontam soluções para a crise de representatividade

26/09/2013 - 16h34

  • Voto jovem: especialistas apontam soluções para a crise de representatividade

Como resolver a crise de representatividade política e despertar a participação do jovem nas definições do destino do paÍs? E qual é o papel das redes sociais no diálogo com os eleitores? Confira agora, no quarto capítulo, as soluções apontadas por especialistas.O voto jovem é o tema da reportagem especial desta semana, com José Carlos Oliveira.

Eleitores desiludidos, onda de manifestações populares, redes sociais na internet, crise de representatividade política... tudo isso a pouco mais de um ano para as próximas eleições gerais, que vão definir nomes para a presidência da República, governos estaduais, Congresso Nacional e Assembleias Legislativas. Os reflexos dos recentes protestos nas eleições de 2014 ainda estão indefinidos, mas vários cientistas políticos apostam que o voto será um dos instrumentos da mudança reivindicada nas ruas, sobretudo pelo eleitorado jovem.

Diretor do Instituto Data Popular, o pesquisador Renato Meirelles aponta o caminho para os políticos se reaproximarem de seus eleitores.

"A grande mudança que aconteceu foi a internet se consolidando como um instrumento não só de proliferação da opinião das pessoas, mas de consolidação dessas opiniões. A internet é uma plataforma de diálogo. Ou a classe política aprende que, para falar com esses novos manifestantes e com esses jovens que estão na rua, é necessário ter diálogo e que não existe mais espaço para uma comunicação unidirecional, ou ela não vai ter aprendido nada com um milhão de pessoas nas ruas".

Ao cruzar pesquisas do IBGE com as do Data Folha e do Ibope, Meirelles nota a crescente popularização da internet, seja por meio do computador tradicional ou da telefonia móvel dos smartphones, iphones e tablets. Quanto mais jovem é o brasileiro, maior é o percentual de acesso à internet, segundo o Data Popular: 80% dos adolescentes de até 17 anos de idade navegam nessa rede; o percentual é quase o mesmo, 78%, para aqueles de 18 a 24 anos, o que leva Renato Meirelles a apostar em redes sociais como instrumento de diálogo entre os eleitores e os políticos.

Kemuell Barbosa tem 16 anos e participou ativamente das manifestações populares convocadas por meio das redes sociais. Ele está disposto a tirar o título eleitoral para votar a partir de 2014, mas não acredita que seja possível mudar a atual política só com o voto: a pressão popular tem que continuar.

"Primeiramente, deve haver manifestações porque não são todos que estão acordados e sabem escolher bem os candidatos para representá-los. Com as manifestações, mais pessoas vão acordar e se mobilizar".

O cientista político José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo, acredita que o caminho é por aí mesmo: o "gigante acordou", rugiu e agora quer reconstruir uma nação plenamente democrática, e de forma mais coletiva.

"E acho que vai depender muito das instituições - em particular, dos partidos políticos - em saber, de alguma maneira, interpretar isso e estabelecer canais de comunicação, chamando os jovens para indicar nomes de candidaturas, chamando os jovens para dizer o que eles pensam sobre os eventuais candidatos a presidente, a governador, a prefeito. No Brasil, os partidos se transformaram em máquinas que, exclusivamente, elegem e fazem todo o esforço para se manterem no poder. Perderam o contato com a sociedade".

Após as manifestações que varreram o país, vários partidos promoveram reuniões internas ou seminários para tentar entender a chamada "voz das ruas". Coordenadora da Frente Parlamentar da Reforma Política com Participação Popular, a deputada Luíza Erundina, do PSB paulista, diz o que é preciso mudar nos partidos brasileiros na tentativa de superar a atual crise de representatividade.

"Partidos sem identidade programática, sem identidade ideológica e com uma falta absoluta de critério na composição de seus filiados, de seus militantes, de seus quadros. Isso, a meu ver, fragiliza a democracia. É sempre um incômodo para mim - e me deixa nocauteada nas minhas esperanças - quando a gente percebe isso em todos os partidos. Há uma flexibilização demais: todos cabem em todos os partidos. Mas como é que se define o quadro partidário? A partir de um projeto político que se define por meio de compromissos, de ideais, de sonhos, de utopias. E eu não sinto isso em nossos partidos".

Cientista política da PUC de Minas Gerais, Fátima Anastasia acredita em maior contato, diálogo e interação entre eleitores e políticos a partir de agora.

"Eu tenho visto jovens nas ruas e acho isso muito interessante como parte do exercício de cidadania. Ir às ruas não é necessariamente rejeitar a política tradicional. Vi, na TV aqui de Brasília, uma cena que me pareceu muito expressiva: as pessoas jogando a bola para o Congresso. Ou seja, as pessoas deram o seu recado e agora estão devolvendo a bola para o Congresso. Eu espero que esse desafio continue nas urnas para que possamos, efetivamente, ter uma maior relação entre participação e representação".

Anastasia se refere à manifestação da ONG Rio de Paz, que, em junho, promoveu ato no gramado do Congresso, de onde foram chutadas 594 bolas de plástico em direção ao Parlamento. As bolas representavam o número de deputados e senadores e simbolizavam que a responsabilidade pelas mudanças está agora com os parlamentares, sob a rigorosa vigilância do cidadão em geral, e do jovem, em especial.

A reportagem especial sobre o voto jovem termina amanhã com as ações de incentivo ao voto limpo e consciente.

Da Rádio Câmara, de Brasília, José Carlos Oliveira

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

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