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Reportagem Especial

Seca no Nordeste: experiências de quem vive a pior estiagem dos últimos 50 anos

20/05/2013 - 00h01

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Reportagem Especial foi ao sertão do Nordeste para ver de perto os efeitos da seca, que provocou prejuízos à população e à economia da região. Se, no passado, estiagem era sinônimo de saque em supermercado e êxodo para os estados do Sul, hoje essa realidade mudou. Saiba por quê. Você ainda está convidado a conhecer experiências de convivência com a seca. A reportagem é de Roberto Seabra, que também visitou as obras de transposição das águas do São Francisco.

Confira, amanhã, no segundo capítulo: a transposição do Rio São Francisco vai reduzir o impacto da seca no Nordeste ou seria melhor investir em obras menores?

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TRILHA QUINTETO ARMORIAL (QA-14)

O semiárido brasileiro é o mais populoso do mundo. Cerca de 22 milhões de pessoas vivem na região, que ocupa quase um milhão de quilômetros quadrados. A área tem a maior parte do seu território coberto pela Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, e rico em espécies endêmicas, ou seja, que não existem em nenhum outro lugar do mundo.

Além de extenso e bastante povoado, o nosso semiárido também é produtivo. O rebanho de cabras da região é o maior do País e o número de cabeças de gado gira em torno de 15 milhões. Além disso, no sertão do Nordeste e do norte de Minas Gerais, por onde se espalha o semiárido, a agricultura familiar é uma das mais fortes do País.

O problema é que o semiárido tem também o maior déficit hídrico do Brasil. A média pluviométrica varia de 200 a 800 milímetros anuais, dependendo da região. Em 2012, no entanto, choveu muito abaixo disso. E 2013, não tem sido muito melhor. O resultado é que a agricultura do semiárido vem sofrendo com a estiagem e muitas cidades tiveram que racionar água nesse período.

Quem mora na região, como dona Alaíde, que produz frutas em Triunfo, no sertão de Pernambuco, confirma: essa foi a pior seca dos últimos cinquenta anos.

“Choveu um pouco, tem verde, tá ficando bonito nosso sertão, só que não criou água. Não pode nem considerar uma seca verde porque na seca verde cria pelo menos um pouco de água, e nem isso criou. Eu gosto de conversar com pessoas mais velhas, mais experientes e elas falam que nunca tinham visto, na vida deles, anos como esses. O ano de 2011 foi variado, 2012 não choveu e 2013, aqui, na região, só nas garoinhas.”

João Batista, da cidade de Afogados da Ingazeira, em Pernambuco, perdeu toda a colheita.

“No mês de janeiro deu uma chuvada boa e eu plantei, aí começou a seca, o milho já estava desse tamanho assim, o feijão... e bateu a seca, bateu a seca e veio chover agora, desse mês passado pra cá deu mais uma chuvadinha, mas eu perdi.”

Cícero de Almeida Lima, vizinho do seu João Batista, lembra que a seca vem desde 2012.

“Nós já estamos aqui com dois anos de seca, viu? Praticamente. Porque tá chovendo, mas água ainda não fez, o açude tá seco, só tem capim no açude.”

Everaldo Melo Lima, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Serra Talhada, diz que a economia perdeu força em todo o Nordeste.

“Estávamos há 14 anos sem seca. Nesse período, a economia vinha sempre crescendo. Agora, com a grande seca de 2012, que se estendeu para este ano, a economia perdeu força de forma que sentimos uma grande redução na economia de Pernambuco e do Nordeste, em comparação com períodos anteriores.”

Veríssimo da Silva, da comunidade do Limão, em Afogados da Ingazeira, diz que só não perdeu quem vendeu o gado antes.

(sonora)

Expedito Pereira é agricultor. Mas desde o ano passado não consegue produzir nada. A solução foi trabalhar de atravessador. Expedito compra frutas e verduras que vêm de Petrolina, na beira do São Francisco, e revende para a população rural do sertão de Pernambuco.

“A gente sempre produzia, mas vai fazer dois anos que a gente não produz nada. Nem feijão, nem milho, nem mandioca.”

TRILHA

O combate à seca foi debatido com autoridades e especialistas em comissão geral, no plenário da Câmara, no dia 8 de maio.

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, defendeu o uso da energia eólica e solar e da tecnologia para garantir a produção agrícola no semiárido.

“O Nordeste não tem que ser marcado pela pobreza, pelas desigualdades sociais, pela degradação ambiental e, muito menos, pela desesperança. Nós temos a missão de elaborar e implantar um modelo de desenvolvimento para o semiárido.”

O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, disse que a conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco vai garantir novos empreendimentos na região.

“A transposição é apenas o começo de aproximar as águas do São Francisco das áreas mais secas e mais necessitadas porque a transposição vai ser a mãe de outras obras. É a transposição no eixo-leste que vai viabilizar o ramal do agreste e adutora do agreste, a maior obra hídrica da América do Sul.”

Mas Leonardo Gadelha, do PSC da Paraíba, contestou a fala do ministro.

“A transposição não é a resposta única. Obras de menor vulto precisarão complementar os esforços da transposição, até para que essa água seja capilarizada. Precisamos de esforços no sentido de perfurar poços, construir cisternas e pequenas adutoras.”

TRILHA

Após a comissão geral, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, garantiu que até junho vai colocar em votação projetos com propostas concretas para a solução do problema da seca.

De Brasília, Roberto Seabra.

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