Rádio Câmara

Reportagem Especial

Universidades brasileiras: chegar nelas está mais fácil

19/05/2012 - 15h55

  • Universidades brasileiras: chegar nelas está mais fácil (bloco 1)

  • Universidades brasileiras: um debate sobre a qualidade (bloco 2)

  • Universidades brasileiras: a diversidade do país está em sala de aula? (bloco 3)

  • Universidades brasileiras: a posição no ranking mundial (bloco 4)

  • Universidades brasileiras: a carreira e a formação do professor (bloco 5)

Acompanhe a série de cinco reportagens sobre as universidades brasileiras. O repórter Edson Junior vai mostrar como está o ensino superior no país, em oferta de vagas e na qualidade. Será que estamos formando mais e melhor os nossos universitários? Na primeira reprtagem, você vai saber porque está mais fácil chegar lá. 

TEXTO

TRILHA (Juarez Maciel – Brasiliana):

E já está melhorando. Estamos formando mais jovens nas nossas universidades e o número de empregos formais no Brasil cresceu.. Entrar para a faculdade pode não ser uma perda de tempo, como ironiza a canção do mineiro Juarez Maciel. Para se ter uma idéia, nos anos 60, o percentual de jovens entre 18 e 24 anos matriculados no ensino superior no Brasil não chegava a 2%. Atualmente, ultrapassa os 14%.

Mas o aumento na oferta de vagas é só uma variável para traçar um panorama do ensino superior no Brasil. Primeiro, porque a quantidade não é necessariamente acompanhada de mais qualidade. Além disso, é preciso comparar a situação do Brasil com a dos países mais desenvolvidos, para saber onde desejamos chegar, e também com a dos demais países emergentes, para saber se estamos bem posicionados em relação às nações de economia semelhante.

Na opinião do professor Mozart Neves, ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco e membro do Conselho de Governança do movimento Todos pela Educação, o acesso ao ensino superior no Brasil foi democratizado, tanto pela adoção de outros meios de acesso à universidade além do vestibular tradicional, como pela oferta de programas de inclusão de estudantes de baixa renda, como o Prouni e o Fies. O ex-reitor observa, no entanto, que as estatísticas brasileiras ainda estão ruins para os padrões internacionais, mesmo quando a comparação é com os países com a mesma realidade econômica.

“Apesar desse avanço, comparando com os anos 70, nós estamos também ainda muito abaixo do percentual que o Brasil precisa para enfrentar naturalmente uma competitividade mundial. Para você ter uma ideia, os países da comunidade Europeia, hoje, estão com cerca de 60, 70 por cento. A Alemanha por exemplo, há quase uma universalização do acesso ao ensino superior.”

O professor Mozart Neves destaca que a qualidade da educação nas universidades está intimamente ligada à qualidade da educação básica, ou seja, ensino fundamental e médio. Para ele, o aluno que chega na faculdade sem o domínio adequado dos conhecimentos da língua e da matemática terá dificuldades durante a vida universitária e corre o risco de uma formação inadequada. O professor salienta que essa é uma das razões para que o Brasil forme menos engenheiros do que a Coréia do Sul, que é proporcionalmente menor. Mozart Neves aponta três medidas que, em sua opinião, podem melhorar a educação básica brasileira e, por conseqüência, o ensino superior.

“ A formação do professor tem que mudar no Brasil; para mudar a formação tem que valorizar a carreira do magistério; tem que ter um currículo que seja mais interdisciplinar para que ele seja mais motivador, para que o jovem goste mais do ensino médio. E o terceiro aspecto que eu acho muito importante é a própria flexibilização desse ensino médio, preparando o jovem não só para universidade, mas também para outras modalidades, por exemplo, cursos que sejam tecnológicos...”

Para a professora e pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo, Elisabeth Balbachevsky, o crescimento do acesso ao ensino superior no Brasil não tem apenas causas internas, já que, segundo ela, o fenômeno não ocorre exclusivamente aqui.

“ o processo de massificação do ensino superior é, digamos assim, um processo em escala planetária e isso vem acontecendo em todos os países do mundo, quer seja em países mais desenvolvidos, quer seja em países menos desenvolvidos, quer você esteja falando da África , da Europa, das Américas, da Ásia e assim por diante.”

A pesquisadora da USP advoga a tese de que a massificação do ensino superior não compromete a qualidade. Para Elisabeth Balbachevsky, uma instituição de ensino não pode ser considerada ruim porque se dedica apenas ao ensino e não à pesquisa, ou porque orienta seus cursos para a formação profissional mais do que para a vida acadêmica. A professora defende que o estudante deve buscar a instituição que melhor se encaixa nos seus objetivos.

“Tem pessoas que querem se formar mais rapidamente porque elas veem no ensino superior um objetivo mais utilitário , de encontrar uma qualificação, melhorar sua posição para o mercado de trabalho e assim por diante. Tem pessoas que têm uma atração mais para uma atividade intelectual, de longo prazo e assim por diante. O que não dá para você pensar é que a mesma instituição, o mesmo curso sirva para as duas coisas, porque não serve. Daí, você tem que sacrificar um dos dois lados."

TRILHA (Juarez Maciel – Pelos Mares e Oceanos):

Em 2004, o poder Executivo enviou para a Câmara dos Deputados o projeto de lei conhecido como projeto de reforma universitária. De lá para cá, vários projetos tratando do tema foram apensados à proposta do executivo, mas a Comissão Especial que deveria analisar o projeto não foi constituída. A deputada Professora Dorinha, do DEM de Tocantins, acredita que a a discussão do projeto deve ser retomada, inclusive para que haja um amplo debate sobre a qualidade do ensino superior no país. Para a parlamentar, o aumento no número de vagas nas universidades brasileiras aconteceu principalmente pelo maior número de faculdades particulares no país. No entanto, ela avalia que a qualidade do ensino universitário não acompanhou o crescimento numérico. Para a deputada, a idéia de que uma universidade de má qualidade é melhor do que não se ter universidade alguma é equivocada.

“Eu acho que a gente não pode pensar que, mesmo que sejam cursos de qualidade duvidosa, é melhor do que não ter acesso. Eu acho que não, acho que a gente acaba às vezes falceando , porque não tem qualidade, aquela pessoa não vai ter condição de participar ativamente do mundo do trabalho, a seleção acontece naturalmente, então acho que nós temos que romper esse desafio que é um ciclo muito perigoso.

A deputada Professora Dorinha disse ainda que espera um empenho maior por parte do governo federal para que a discussão da reforma universitária seja retomada na Câmara.

De Brasília, Edson Junior

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

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