Rádio Câmara

Reportagem Especial

Inovações Tecnológicas: Conceito

01/08/2011 - 00h00

  • Inovações Tecnológicas: Conceito (bloco 1)

  • Inovações Tecnológicas: produção nacional (bloco 2)

  • Inovações Tecnológicas: Financiamento (bloco 3)

  • Inovações Tecnológicas: Legislação (bloco 4)

A reportagem especial desta semana vai falar de inovações tecnológicas. Vamos entender esse conceito e avaliar o que faz com que o Brasil seja o 13º colocado no ranking mundial de produção científica e um dos últimos no ranking internacional de patenteamento. Nesta primeira reportagem, entenda a diferença entre inovação, invenção e descoberta científica.

TEXTO

Inovação. Essa palavra sugere a imagem de algo diferente, mirabolante, bem ao estilo do Professor Pardal. Mas, por mais engraçadas, interessantes e úteis que pudessem parecer as engenhocas do famoso inventor das historinhas em quadrinhos, elas não seriam consideradas inovações na nossa sociedade industrial.

Segundo Suely Maria Silva, diretora de Assuntos de Desenvolvimento Tecnológico da Fibra, Federação das Indústrias do Distrito Federal, algo só é considerado inovação quando gera um produto e esse produto é colocado no mercado, trazendo receita para a empresa.

"A inovação pressupõe um produto que seja vendido. A universidade pesquisa, mas não gera produto e não gera emprego e dinheiro com isso. (...) A pesquisa e desenvolvimento na universidade gasta dinheiro. O objetivo da inovação é ganhar dinheiro com aquele produto novo que você produziu."

A inovação é, portanto, diferente da descoberta científica, que não tem necessariamente uma ligação com o mercado. Descobrir que a lua gira em torno da Terra, por exemplo, não afeta os negócios de uma empresa.

A inovação é diferente também da invenção, como explica o diretor de inovação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Fernando Landgraf.

"A invenção é essa etapa anterior. É uma novidade que eu posso ter concebido, mas que ainda não foi ao mercado. (...) Ele pode ser patenteado e ainda sim não ser uma inovação. Uma patente que eu faça e que ninguém use não é uma inovação. (...) O que nos interessa é a inovação, mas quanto mais patentes tivermos, maior a chance de termos mais inovações".

O consultor alemão Helmut Kergel resume a situação do Brasil da seguinte maneira: nosso investimento em pesquisa e desenvolvimento é baixo e feito principalmente pelo setor público.

Quando feito pelo setor privado, é por meio da contratação de universidades ou institutos de pesquisa, com muito pouco conhecimento sendo gerado por pesquisadores das empresas.

Isso não quer dizer que as empresas não devam contratar ou realizar parcerias com universidades e institutos de pesquisa. Os professores podem, sim, contribuir para a busca de soluções para as demandas da indústria.

Mas, como a universidade tem, antes de mais nada, o papel de educar, o pesquisador não pode ter a obrigação de só fazer pesquisa aplicada, como explica Patrícia Magalhães de Toledo, diretora de propriedade intelectual e transferência de tecnologias da Inovação da Unicamp.

"O pesquisador também faz pesquisa para avançar o conhecimento, para melhorar a formação dos seus alunos, justamente pela curiosidade dele, motivado com o intuito de avançar o conhecimento da área dele."

A ideia é, portanto, que a indústria faça também pesquisa e desenvolvimento por conta própria. Nesse ponto, explica Patrícia, o Brasil está na contramão da tendência mundial.

Aqui são as universidades as líderes em depósito de patentes. Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a produção de pesquisa aplicada se concentra nas empresas.

Para mudar esse quadro, a Confederação Nacional da Indústria lançou um plano para construir uma cultura de inovação entre os empresários brasileiros, a Mobilização Empresarial pela Inovação.

O caminho ainda é longo. Suely Maria, da Fibra, diz que enfrenta dificuldade até para tirar o empresário de sua rotina diária e levá-lo, por exemplo, a um seminário sobre inovação.

Mas ela tem confiança de que vai ser possível, ainda assim, despertar a atenção do empresariado para a importância de se investir em inovação.

"Você lembra quando se começou a falar em qualidade no Brasil? Levou-se muito tempo para que as empresas acreditassem que esse processo poderia ajudá-las. Hoje em dia, você vê muitas empresas ISO 9000, 14000. Eu acredito que a cultura da inovação vai ser a mesma coisa. Mas espero que bem mais rápido, porque não temos mais tanto tempo."

E quem oferece uma oportunidade de inserção da indústria no sistema de inovação é a Agência Espacial Brasileira.

Segundo o presidente Marco Antonio Raupp, a ideia é alavancar as contratações de empresas nacionais para desenvolver peças e softwares para foguetes e satélites.

Apenas no projeto Cbers, Satélite Sinobrasileiro de Recursos Terrestres, o investimento na indústria nacional foi de quase 300 milhões de dólares.

"Quero fazer uma câmara de observação da Terra com instrumentos óticos, por exemplo. A gente contrata essa empresa e dá a ela condições de aprender a fazer o projeto. (...) O objetivo é que elas participem junto com os institutos tecnológicos no desenvolvimento de novos produtos. Ao desenvolver uma câmara dessas, ela possa desenvolver outros produtos derivados dessa câmara que pode nem estar relacionados com o espaço, mas que ela possa explorar comercialmente, industrialmente."

Segundo Raupp, a oportunidade não vale apenas para grandes empresas, pois as contratações costumam vir acompanhadas de apoio econômico para capacitação.

As pequenas podem receber subvenções, e as grandes, empréstimos com juros baixos. Dessa forma, a empresa consegue atender às demandas do programa espacial e, ao mesmo tempo, explorar outros mercados com produtos derivados da pesquisa espacial.

De Brasília, Verônica Lima

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