Rádio Câmara

Reportagem Especial

Tecnologias assistivas - A inclusão de crianças com deficiências (09'33'')

09/07/2011 - 00h00

  • Tecnologias assistivas - A inclusão de crianças com deficiências (09'33'')

TEC- TRILHA ABRE REP ESPECIAL

TEC- CABEÇA LOCUTOR:

TEC- TRILHA (Trem da Alegria - Alfabeto)

Aprender a ler, escrever. Descobrir que as palavras, além de faladas, podem ser representadas através de símbolos. Entender como cada letra se une a outra, e a outra, até que a palavra esteja formada.

Se a alfabetização não é uma tarefa das mais simples mesmo quando se trata de uma criança sem qualquer limitação, para os que possuem alguma deficiência, principalmente motora ou sensorial, o desafio é ainda maior.

É exatamente para servir como instrumento de apoio aos professores e estudantes com alguma deficiência que a tecnologia assistiva é um item fundamental, tanto dentro da sala de aula como em espaços de atendimento especializado, como as salas de recurso.

Jogos de computador que auxiliam crianças cegas na alfabetização e nos primeiros conceitos da matemática, ensino e utilização da língua brasileira de sinais na comunicação com crianças surdas, adoção de equipamentos para auxiliar aos alunos com dificuldades motoras.

Enfim, a idéia é dar às crianças com deficiência as ferramentas para que possam aprender junto com os colegas que não enfrentam essas limitações.

Marcelo Lino, coordenador de políticas para as pessoas com deficiência do município de Contagem, em Minas Gerais, ressalta a importância da tecnologia assistiva para aproximar as condições de aprendizado das crianças com e sem deficiência.

"A tecnologia assistiva, mais do que equipamento, ela é um conceito. Esse conceito da acessibilidade, passando por vários setores, pelo arquitetônico, pela acessibilidade da informação, cultural, chegando aos equipamentos. Então, a tecnologia assistiva permite que o estudante, que a pessoa com deficiência tenha acesso a toda a possibilidade pedagógica que os outros estudantes, ditos normais ou que não têm nenhuma deficiência, também têm."

Marcelo Lino acrescenta que os equipamentos permitem uma interação entre os alunos, de modo que o aprendizado seja mútuo. Ele exemplifica com a alfabetização de crianças cegas e de visão normal através do computador.

"Por exemplo: a criança que não enxerga, através do coleguinha que enxerga, ela descobre que a letra não é só um som: ela é uma imagem, que ela tem uma figura. E a criança que enxerga, que está vendo, descobre que, por trás daquela imagem, pode ter um som também. Então ela vê o A, a criança que enxerga vê o A, e escuta o computador falando "A". A criança que não enxerga aperta a tecla correspondente à letra A, ela sabe, o colega comenta, que vai aparecer uma letrinha A na tela, mas ela vai escutar essa letra A."

Marcelo Lino afirma que a Prefeitura de Contagem tem investido na inclusão de alunos com deficiência na rede regular de ensino, tanto através de políticas pedagógicas como por meio da aquisição de equipamentos de tecnologia assistiva.

Uma das escolas que vem se tornando referência na cidade nesse aspecto é a Escola Municipal Vasco Pinto da Fonseca. Atualmente, a instituição possui mais de 50 alunos incluídos, a maior parte deles surdos, entre os seus mais de 1200 matriculados.

Além de incluir a criança com deficiência e promover o aprendizado mútuo, a escola estimula a participação da família no processo educativo, como explica a diretora da escola, Zenaide Ribeiro.

"Os nossos profissionais buscam mesmo, têm essa preocupação, esse diferencial, e nós temos instrutores e intérpretes de Libras, porque, como nós temos os estudantes com deficiência auditiva, então nós resolvemos implantar umas aulas de Libras para os estudantes e para a família dos estudantes. E a gente elabora projetos, a gente convida a comunidade para estar participando e estar ciente que o aluno de inclusão não é só um aluno nosso. Tem que estar envolvida toda a família. Tem que ter essa parceria da família com a escola."

Para Zenaide Ribeiro, a inclusão da criança com deficiência no ensino regular é uma prática que veio para ficar. Ela acredita que, na educação contemporânea, não há mais espaço para as escolas especializadas.

"É muito interessante que as escolas hoje estejam abertas para receber esse estudante, para receber a inclusão. Então, o profissional tem que estar se adaptando, tem que estar sendo preparado, tem que ter uma formação... Então, a criança ficar só numa escola especial, ela não vai ter aquela socialização com os outros estudantes. Então, ela tendo contato com os outros estudantes, que não têm deficiência, ela aprende muito mais."

A diretora da escola Vasco Pinto da Fonseca ressalta ainda que a recíproca é verdadeira. Segundo ela, as crianças que não têm deficiência também enriquecem o seu aprendizado e vencem a barreira do preconceito, convivendo com os colegas com deficiência.

Ela relata, por exemplo, que os próprios alunos manifestaram o desejo de aprender a Língua Brasileira de Sinais para conversar melhor com os colegas surdos. Essa demanda será atendida futuramente através da inclusão da Libras no currículo escolar.

TEC- TRILHA (Som do jogo Letravox)

Um dos aspectos mais importantes do Dosvox, o minissistema operacional criado na UFRJ para o acesso de pessoas cegas a uma série de recursos da informática, foi a sua ênfase na educação através de vários jogos que reforçam a alfabetização e a matemática básica, estimulam a memória e o raciocínio lógico e reforçam a capacidade auditiva da criança cega.

O professor Antonio Borges, do Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ, explica ainda que a maneira como o Dosvox interage com o usuário foi concebida para facilitar o aprendizado, principalmente de quem nunca teve a oportunidade de lidar com o computador, seja uma criança ou uma pessoa que, pela condição social, ainda não teve essa possibilidade.

"Quando você trabalha com uma ferramenta de acessibilidade, você não pode estar dissociado do contexto em que essas ferramentas vão ser aplicadas. O que o Dosvox e outras ferramentas que são criadas aqui têm, é que elas tornam essa curva de aprendizado muito rápida. Então você, com um pequeno treinamento... assim... de um dia, a pessoa já está usando o Dosvox plenamente. Qualquer pessoa, semianalfabeta, já consegue usar o Dosvox. Eu diria que o papel dele mais importante é o papel de levar a tecnologia às pessoas que têm uma situação social menos vantajosa."

Se, para os cegos, o computador se tornou uma potende ferramenta de comunicação e aprendizado, para crianças com deficiência na comunicação oral, a tecnologia assistiva, da mais simples à mais sofisticada, trouxe uma nova possibilidade de comunicação face a face.

O Núcleo de Desenvolvimento e Tecnologia Assistiva da Universidade do Estado do Pará trabalha nessa perspectiva, levando em conta o lado pedagógico, mas também a possibilidade de garantir a comunicação da criança com os que vivem ao seu redor. A professora Ana Irene Alves de Oliveira, que é psicóloga e coordenadora do núcleo, explica esse processo.

"E essa aprendizagem como uma forma de que essa criança tenha menos supressões, tenha um melhor relacionamento, interações na escola, então, se ela não se comunica oralmente, pela fala, ela possa ter dispositivos, recursos, que possibilitem a interação dela com o colega, com o professor, e que isso facilite não só a interação no sentido emocional, no sentido da sua autoconfiança, mas também no sentido da sua aprendizagem."

A psicóloga explica que o desenvolvimento do aspecto lúdico é fundamental. E exemplifica.

"Uma criança com paralisia cerebral é uma criança que eu costumo dizer que é uma mente aprisionada em um corpo. É uma criança que tem as dificuldades motoras, para expressar a fala, para expressar o movimento, mas que ela tem desejo de brincar, ela tem desejo de interagir com o colega, ela tem os mesmos desejos que as outras crianças. E esses desejos não são expressados por uma dificuldade de comunicação, ou oral ou escrita, e que a gente tenta facilitar, melhorar essa possibilidade dessa criança poder se comunicar, poder interagir, poder brincar e poder explorar esse ambiente de forma mais satisfatória."

As discussões que envolvem a questão da inclusão de crianças com deficiência no ensino regular são muitas, do preparo dos professores à disponibilidade de material pedagógico adequado, passando até mesmo pelo preconceito de alguns pais, que pensam que ter um colega com deficiência pode atrapalhar o desenvolvimento escolar de seu filho.

Mas o fato é que, se a escola pretende ser um lugar para todos, todos mesmo, ela precisa incluir. Como afirma a jornalista Cláudia Wernek, diretora da ONG Escola de Gente, não se trata de ser bonzinho. Trata-se apenas de garantir o direito à educação a todas as pessoas e garantir a convivência, mesmo diante das diferenças.

De Brasília, Edson Junior.

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