Rádio Câmara

Reportagem Especial

O turismo ecológico no Nordeste (08'04'')

09/05/2011 - 00h00

  • O turismo ecológico no Nordeste (08'04'')

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Conhecido pelas belas praias, o Nordeste brasileiro também oferece boas opções para aqueles que desejam se aventurar por passeios ecológicos, seja em atividades de mergulho, trilhas até cachoeiras ou caminhadas pela caatinga. Com a proximidade da Copa do Mundo de 2014, empresas e operadores de ecoturismo esperam ampliar a visibilidade da região como destino de referência em turismo de aventura.

Mas, para isso, os desafios são muitos.

Dono do D´Aventura Esportes e Turismo, na Bahia, o consultor em Ecoturismo Tiago Valois destaca a Chapada Diamantina como indutora de turismo de aventura no estado, que terá a capital, Salvador, entre as 12 sedes dos jogos. Com belas paisagens de cachoeiras, vales, grutas e morros, a chapada oferece ao turista uma amostra do mais típico bioma nordestino, a caatinga.

Até a Copa, a expectativa é de que os acessos à região estejam melhor estruturados, já que a chapada está a mais de 400 quilômetros de Salvador. O acesso pode se dar por carro ou por avião, havendo voos regulares até as cidades de Lençóis e Vitória da Conquista. O problema é que, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, as obras no aeroporto de Salvador não devem estar concluídas até 2014, apesar de a Infraero dizer o contrário.

Para Tiago Valois, outro gargalo do turismo de aventura é a qualificação profissional.

"Hoje, dentro de um universo de 100% de profissionais existentes no mercado, a gente já qualificou 10%. Então a gente precisa qualificar o restante e, além disso, precisamos desenvolver novos profissionais porque o Brasil é um país continental, que tem uma biodiversidade muito significativa e que todo mundo, e não só a Bahia e os demais estados, precisa aproveitar esse frente de turismo de natureza, ecológico e de aventura para transformar a economia brasileira numa economia fortalecida a partir do turismo. Então a mão de obra é o principal elemento para alavancar todos os benefícios que a Copa do Mundo pode gerar."

Tiago Valois acredita que, até a Copa, essa demanda por qualificação esteja suprida com os projetos de qualificação em andamento pelo Ministério do Turismo, o Sebrae nacional e as próprias secretarias estaduais.

Na Bahia, além da Chapada Diamantina, outros interessantes roteiros de aventura são o mergulho nas águas do Parque Nacional Marinho de Abrolhos e as caminhadas pelas trilhas ecológicas da região de Itacaré, no litoral sul do estado.

Apesar das diferentes opções, o ecoturismo ainda não parece incorporado à agenda de prioridades da Secretaria de Turismo da Bahia. Entrevistado pela equipe da Rádio Câmara, em março, o secretário, Domingos Leonelli, informou não estar preparado para comentar sobre passeios ecológicos naquele momento, mas reforçou que, de maneira geral, a Bahia tem se planejado para a Copa.

"Em termos de fluxo turístico, nosso crescimento pode ser medido pelos índices de chegadas no aeroporto de Salvador, de Porto Seguro e de Ilhéus. Nós tivemos, por exemplo, no último ano medido, de 2009 para 2010, um aumento de 15% de desembarques na Bahia e de 11% especificamente em Salvador. (...) A Bahia está disputando a abertura da Copa em Salvador, estamos trabalhando pra isso, argumentamos que temos alguns elementos que nos credenciam em termos de tecnologia e gerenciamento de grandes eventos. Nós temos o Carnaval de Salvador, que é, segundo o Guiness, a maior festa popular de rua do mundo, com cerca de 2 milhões de pessoas na rua, 500 mil turistas nesse período aqui."

(trilha)

Outro conhecido destino brasileiro de carnaval está entre as cidades-sede da Copa de 2014: Recife. Mas, diferentemente dos outros três estados nordestinos que receberão os jogos, Pernambuco não deve encontrar problemas para concluir as reformas da principal porta de entrada para a região.

Segundo o Ipea, o cronograma de obras do aeroporto de Recife é considerado adequado. Já as cidades de Natal e Fortaleza, a exemplo de Salvador, devem encontrar problemas para concluir as obras em aeroportos, de acordo com o Instituto.

Em Pernambuco, o ecoturismo encontra espaço, principalmente, nos roteiros de mergulho. Além das belezas naturais da Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha, a 545 quilômetros de Recife, o estado conta com vários naufrágios prontos para serem visitados pelos mergulhadores.

Socioproprietário da Aquáticos Centro de Mergulho, em Recife, Edízio Rocha acredita no potencial da Copa de 2014 para alavancar a ida de turistas para a cidade.

"São mais de 25 navios afundados aqui, desde navios afundados naturalmente até navios afundados artificialmente para turismo de mergulho. (...) A nossa embarcação, ela tem uma capacidade para 25 mergulhadores. Podemos fazer até duas saídas por dia, então, vamos dizer que hoje nós aqui, só a Aquáticos, ela atende em torno de 3 mil mergulhadores por ano. Então, eu espero que a gente aumente isso em um pouco mais de 10% a 20% até 2014, ou até mais do que isso."

Além do mergulho, o secretário de Turismo de Pernambuco, Alberto Feitosa, avalia que outras regiões do estado podem incrementar os roteiros ecológicos até a Copa.

"Além dos destinos naturais de Fernando de Noronha, litoral sul, temos o agreste, que está recebendo infraestrutura do Prodetur, bem como está sendo fomentado através da Secretaria de turismo e melhorado a assistência a quem se destina a esses locais através de qualificação de mão de obra da rede hoteleira (hotéis e pousadas), como também do polo gastronômico."

Na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, está a sede do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação em Mamíferos Aquáticos. O centro e outras 24 unidades de conservação fazem parte do projeto Os Parques da Copa, desenvolvido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio, e o Ministério do Turismo para incentivar a visitação das áreas de proteção durante e após o mundial.

As 25 instituições escolhidas estão próximas às cidades-sede dos jogos. A ideia é que, até 2014, todas essas unidades contem com uma boa estrutura para receber o turista, tanto entre seus limites como no entorno, com opções de hospedagem e alimentação.

No Nordeste, alguns importantes parques, apesar de conhecidos, ainda não dispõem nem mesmo de plano de manejo para permitir cobrança de ingressos e visitação formal. É o caso, por exemplo, dos parques nacionais de Jericoacoara, no Ceará, e Chapada Diamantina, na Bahia.

De Brasília, Ana Raquel Macedo

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