Rádio Câmara

Reportagem Especial

Síndrome de Down - O sucesso profissional (07'45'')

04/05/2011 - 00h00

  • Síndrome de Down - O sucesso profissional (07'45'')

TEXTO

Rodrigo Marinho tem 39 anos e é secretário parlamentar do deputado Eduardo Barbosa, do PSDB mineiro, desde 2003. Ele já trabalhou como atendente numa lanchonete, gosta de pintura em tela e é medalhista de natação. Namora há mais de três anos e pretende formar uma família. É ele quem lista as atividades que exerce no gabinete.

"Eu faço todo o serviço de office boy, né? Vai aos Correios. Eu vou na Tam, na Gol. Eu pego o Diário Oficial, no subsolo do anexo IV. (...) Tudo sozinho... Aprendi com a equipe do gabinete, aprendi tudo isso."

Já a Marianna Pagy trabalha numa creche, como auxiliar em sala de aula. Samuel Sestaro é formado em Design de Moda e, além de desenvolver sua linha de roupas, ajuda a mãe na instituição UPDown e o pai em seu escritório de advocacia. Fernanda Honorato é atriz de teatro, repórter e passista.

Como todos esses exemplos demonstram, o sucesso profissional de pessoas com Síndrome de Down não deve mais ser considerado uma exceção.

Especialistas defendem que o desenvolvimento desses indivíduos, assim como o daqueles que não têm a Síndrome, depende mais dos estímulos que recebem do que das limitações que têm. Como resume a coordenadora da Apae de Sobradinho, no Distrito Federal, Ester Toledo:

"A estimulação precoce, desde lá do bebezinho até ele chegar na fase adulta, faz uma grande diferença. Que é esse acreditar que ele pode, que ele consegue. (...) Os nossos programas são desenvolvidos a partir dessa ideia: de entender que, se você deixar de lado um pouco a Síndrome e trabalhar os potenciais, você vai avançar muito mais. Por isso a gente nem valoriza tanto o laudo que chega para nós. A gente trabalha no dia a dia, buscando o potencial."

O presidente do Departamento Científico de Genética da Sociedade de Pediatria de São Paulo, Zan Mustacchi, confirma que a pessoa com Down é capaz, sim, de aprender.

O difícil, ele diz, é saber como ensiná-la, pois há peculiaridades no seu processo de aprendizado. E a principal delas é a dificuldade de abstração. Para propiciar esse aprendizado, portanto, é necessário trazer modelos práticos.

"Então, se eu falo para ele quanto é um quarto mais um quarto, ele pode me responder com facilidade: ah... sala, cozinha e banheiro é uma casa. Ora, enquanto a minha expectativa era de ele responder ´meio´. (...) Se eu falar numa questão matemática, eu tenho que mostrar para ele, por exemplo, que um pedaço de pizza dividido em quatro pedaços chama-se um quarto. Mais um quarto, ele vai ver que, eu somando esses dois pedaços, eu vou ter meia pizza."

TRILHA DE PASSAGEM - Mais uma vez - “Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena // Acreditar no sonho que se tem // Ou que seus planos nunca vão dar certo // Ou que você nunca vai ser alguém”

Se as pessoas com Down têm potencial de aprendizado e desenvolvimento profissional, fica a pergunta: como garantir que ele aconteça?

Segundo diretor de Educação Especial da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Antônio Leitão, o atendimento educacional às pessoas com deficiência vai do bebê à idade adulta e varia de acordo com a deficiência.

Existem desde instituições especiais para receber apenas esses alunos até classes em escolas regulares que recebem alunos com deficiência, no chamado sistema de inclusão.

Esse aluno é atendido em tempo integral: além das aulas regulares, recebe acompanhamento de psicólogos, pedagogos e tutores nas chamadas salas de recursos.

Seja na classe especial, seja na inclusão, a equipe escolar faz uma adequação do currículo de acordo com as necessidades de cada aluno. Na Escola Classe Cerâmica da Benção de São Sebastião, no Distrito Federal, os avanços com as crianças com deficiência são facilmente percebidos, como conta a orientadora da escola, Nazaré de Jesus Vieira.

"Nós temos um aqui na escola um projeto que chama ´Projeto 21´. Esse projeto visa à integração dos alunos, prinicipalmente Síndrome de Down, com os outros alunos regulares. E, nessa primeira culminância que nós tivemos desse projeto, a Michele e a Marina fizeram uma apresentação maravilhosa, com muita desenvoltura, expressão facial, dança, uma coisa linda, linda, linda que foi."

Esther Toledo, da Apae, questiona o sistema de inclusão, pela dificuldade que o professor tem para montar uma estratégia específica de ensino para o aluno com deficiência dentro de uma sala com dezenas de alunos regulares.

"O deficiente não é um grupo de pessoas que aprendem de um jeito diferente. O deficiente, cada um aprende de um jeito. Numa sala de aula, colocam-se 30 alunos com um deficiente. O que vai acontecer com aquele deficiente, com aquela pessoa que aprende de outro jeito? Você acha que o professor tem condições de montar uma estratégia? É muito complicado. Essa é a inclusão que hoje está acontecendo."

Mas, em São Sebastião, o que atrapalha mesmo é falta de infraestrutura da escola. A pedagoga Blandine Souza explica, por exemplo, que as salas de aula são poucas e pequenas, o que dificulta a redução do número de alunos nas classes que recebem crianças com deficiência.

Além disso, as professoras não contam com o apoio de uma monitora, que, no plano ideal, deveria estar em sala para ajudar no atendimento diferenciado ao aluno com deficiência.

Nossa reportagem ouviu críticas à falta de qualificação e de boa vontade de professores para atender os alunos com deficiência. Por outro lado, vimos de perto o empenho de professoras e pedagogas da escola de São Sebastião, apesar das dificuldades estruturais que enfrentam.

Se o acolhimento nas escolas ainda não está ideal, o que especialistas concordam é que a presença das crianças com deficiência nas escolas regulares faz bem aos professores, pais e alunos, com e sem deficiência.

TRILHA - Mais uma vez - “Confie em si mesmo. Quem acredita sempre alcança!”

De Brasília, Verônica Lima

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