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Reportagem Especial

A percepção de especialistas sobre a nova imagem do Brasil no mundo (08'35")

04/04/2011 - 00h00

  • A percepção de especialistas sobre a nova imagem do Brasil no mundo (08'35")

A música brasileira, assim como o futebol e o carnaval, sempre esteve presente no imaginário do estrangeiro em relação ao Brasil. Mas, de uns tempos para cá, outros elementos vêm sendo adicionados a esta mistura. Houve uma mudança de imagem.

Mais recentemente, boa parte da imagem positiva veio da figura singular do ex-presidente Lula. Mas o país, com certeza, também foi consolidando a característica de um local mais confiável para os investimentos externos ao longo de vários anos.

Nosso objetivo é mostrar um pouco a política que envolve esta mudança de imagem e como ela é percebida por algumas pessoas que atuam diretamente nas relações internacionais, sejam parlamentares, pesquisadores, embaixadores ou correspondentes estrangeiros.

Para o professor da USP, José Augusto Guilhon Albuquerque, a mudança da imagem do Brasil pode ser explicada pela alta exposição de Lula e pelo fato de o país ter entrado mais no jogo político internacional:

"O fato de o Brasil ter reformulado a sua inserção no mundo, não de maneira, digamos, de sempre procurar ter benefícios sem ter contrapartida; mas jogando as regras do jogo, no comércio, na questão do meio ambiente - que o Brasil até 92 era visto como opositor de um meio ambiente mais protegido, mas em 92 se sediou aqui no Rio de Janeiro a convenção do clima e essa política foi mudando. Da mesma forma com relação aos direitos humanos. Nós tínhamos uma perspectiva de não nos imiscuir e não deixarmos que ninguém se metesse no nosso quintal. Essa posição está mudando. O comércio brasileiro era completamente fechado, era um dos mais fechados. Hoje, é um dos mais abertos do mundo e sob certos aspectos mais aberto até do que o dos Estados Unidos, que são os campeões do livre comércio. Além de termos acertado a questão da dívida, termos acertado a questão da superinflação, então tudo isso nos deu segurança, uma imagem de seriedade, de respeito aos nossos compromissos, etc, e isso vem de longo tempo."

É, o Brasil ficou mais assanhado. Para o assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Antonio Jorge Ramalho da Rocha, o país não é visto apenas como mais um emergente, mas como uma nova liderança:

"Os estrangeiros hoje percebem o Brasil como uma potência emergente, alguns caracterizam já como uma liderança, ou seja, não é um país que ainda estaria emergindo, mas já teria emergido como uma liderança dos países em desenvolvimento. Há um interesse enorme pelo Brasil, há uma preocupação em entender as posições brasileiras em certas áreas como comércio, por exemplo, como não proliferação, como governança global. Há um interesse enorme, inclusive de países desenvolvidos, eu diria sobretudo de países desenvolvidos, em entender as posições brasileiras pra poder dialogar, negociar com o Brasil."

O ex-ministro de Assuntos Estratégicos e hoje Alto Representante do Mercosul Samuel Pinheiro Guimarães, acredita que o Brasil conquistou maior respeito da comunidade internacional pela coerência das políticas externa e interna:

"Na medida que um país qualquer, ele tem posições, e ele afirma com serenidade a sua posição, a sua opinião, e procura convencer os outros países da sua opinião; se ele é isento, se ele tem uma posição de equilíbrio; ele vai ganhando maior respeitabilidade e todo o esforço interno inclusive de luta contra as disparidades, isso tem um reflexo externo em países que sofrem problemas semelhantes como os países africanos, por exemplo."

Como consequência dessa ampliação do espaço do Brasil no mundo, Guimarães afirma que a busca por uma cadeira no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas não seria um projeto megalomaníaco.

Hoje o conselho, que decide sobre a intervenção militar em outros países, tem cinco membros permanentes: Rússia, China, Estados Unidos, França e Reino Unido; composição fixada em 1946.

"Naquele momento, havia dois grandes impérios coloniais, pelo menos, que eram o inglês e o francês, sem contar o império colonial português e o holandês. Hoje em dia o mundo mudou, o Brasil tem três vezes mais habitantes do que a França. Naquela época, o Brasil tinha possivelmente o mesmo número, sendo que em anos anteriores o Brasil tinha muito menos. O Brasil hoje tem um Produto Interno Bruto maior possivelmente do que o da Inglaterra, não tenho certeza, mas enfim, se não é semelhante.... Então o sistema político tem que refletir de certa forma a importância econômica, social e política dos países."

Hoje, o Brasil ocupa uma das dez vagas de membros temporários do Conselho de Segurança e, segundo o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, vem conseguindo imprimir um tom diferente aos debates:

"O Brasil está hoje entre os membros do Conselho de Segurança, cumprindo seu décimo mandato como membro não permanente, um mandato de dois anos; e no Conselho de Segurança, nós temos sido capazes de contribuir para que os itens trazidos à agenda desse conselho sejam examinados a partir de uma perspectiva equilibrada. O que eu quero dizer com isso? Por exemplo a questão do Haiti, inúmeras questões africanas que estão na agenda do conselho, não envolvem frequentemente apenas uma dimensão de segurança e não podem ser exclusivamente abordadas pela perspectiva militar. Nós temos também que olhar para os desafios que esses países enfrentam em termos de seu desenvolvimento econômico, social e institucional e é nesse espírito de uma complementariedade entre a segurança e o desenvolvimento que nós temos trabalhado no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas."

Apesar de todos os esforços relacionados à política externa, para o embaixador Rubens Barbosa o maior trunfo relacionado à mudança da percepção externa sobre o Brasil está ligado aos aspectos econômicos:

"A percepção externa em relação ao Brasil muda não por causa da ação de A, B ou C, de um presidente ou de um ministro; muda porque mudam as condições do país. Não adianta nada você fazer um bruta esforço no exterior para melhorar a imagem quando a percepção externa sobre o Brasil é que a gente fica desmatando a floresta, que a gente não presta atenção no meio ambiente, não presta atenção nos direitos humanos... então eu acho que essa percepção melhor que existe hoje no exterior em relação ao Brasil veio sobretudo por causa da mudança na política econômica que não veio do governo anterior, vem desde o presidente Fernando Henrique, estabilizando a economia, reduzindo a inflação e dando segurança aos investidores de uma estabilidade econômica e política que muitos outros países não têm."

Nos últimos anos, o país também tem priorizado a relação com os vizinhos latino-americanos e com outros países fora do hemisfério norte, como os do continente africano, além do oriente médio.

Isso, segundo alguns especialistas, reforça o papel de protagonista que o Brasil quer ter na cena mundial. Afinal, em organismos multilaterais, como a Organização dos Estados Americanos, cada país representa um voto.

Os críticos, porém, afirmam que tanto a vaga no Conselho de Segurança quanto o aumento do comércio dependem mais de países centrais como China e Estados Unidos.

De Brasília, Sílvia Mugnatto

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