Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Mulheres - A participação na política (07'40'')

28/03/2011 - 00h00

  • Especial Mulheres - A participação na política (07'40'')

TRILHA - “Que venha essa nova mulher de dentro de mim, / Com olhos felinos felizes e mãos de cetim”

Em 2010, os brasileiros optaram por ter uma mulher na Presidência. No primeiro turno das eleições, Dilma e Marina conquistaram, juntas, 67% da preferência do eleitorado. No segundo turno, Dilma venceu José Serra, com 56% dos votos.

Esses números indicam que os eleitores brasileiros não discriminam as mulheres na hora de escolher seus candidatos.

Segundo o professor de Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, José Eustáquio Alves, eles tomam sua decisão com base nas propostas e na honestidade do candidato, e não simplesmente no fato de serem homens ou mulheres.

Outro fato que reforça esse argumento é o de que a maioria dos votos de Dilma não veio das mulheres. No confronto com Serra, ela teve mais votos tanto dos homens quanto das mulheres. Mas a maioria dos votos que recebeu veio de homens.

Segundo José Eustáquio, isso aconteceu porque, com o discurso da continuidade, ela herdou o eleitorado de Lula, historicamente composto por homens, maioria entre os sindicalistas. Além disso, na avaliação de José Eustáquio, ela não soube explorar temas que preocupam mais as mulheres, como a saúde, ponto forte da campanha de Serra.

Mas, se a eleição de Dilma tem sido considerada como um marco da história brasileira, as melhorias vão depender de como ela vai conduzir as políticas em prol das mulheres, como afirma a professora de História da Universidade Federal Fluminense e estudiosa da história das mulheres Rachel Soihet.

"O fato de ser apenas mulher já é um elemento de peso, mas é importante também perceber até que ponto a presença dessa mulher vai representar uma série de mudanças que garantam às mulheres de um modo geral condições de autonomia dentro da sociedade. Isso vai depender também da atuação da presidente, no caso."

De qualquer forma, para Rachel Soihet, a existência de mulheres em cargos elevados já dá a elas a confiança de que podem e devem ocupar essas funções.

TRILHA - “Que tenha o cio das corças e lute com todas as forças, / Conquiste o direito de ser uma nova mulher”

Para José Eustáquio, não é essencial haver mulheres na política para que os direitos delas sejam garantidos. Os homens também podem fazer isso. Mas, para ele, uma democracia não pode excluir metade da população de cargos do poder. Por isso, ele sugere que haja paridade entre candidatos e candidatas.

"Se o eleitorado quiser votar só em homens, eu respeito a vontade do eleitorado. Se o eleitorado quiser votar só em mulher, eu respeito a vontade do eleitorado. Agora, a gente sabe, no resto do mundo, se tiver igualdade de oportunidades, a tendência do eleitorado vai ser se dividir: eleger uma parte de homens e eleger uma parte de mulheres. O problema hoje em dia é que o eleitorado não tem muito essa escolha, porque os partidos concentram maior apoio, maior dinheiro nos homens."

Em 2009, a minirreforma eleitoral estabeleceu uma participação mínima de 30% de cada gênero na composição dos partidos. Guacira Oliveira, do Centro Feminista de Estudos em Assessoria, explica que, para que a proporção fosse respeitada, alguns partidos deveriam ter reduzido o número de homens candidatos.

"Comprova-se a falta de compromisso político de todos os partidos com a igualdade na participação das mulheres nos espaços de poder porque as candidaturas de mulheres foram, na sua grande maioria, inviabilizadas. Inviabilizadas pela falta de recursos para financiar as campanhas, inviabilizadas pela falta de espaço na propaganda eleitoral, inviabilizadas até pela forma como foram entregues os documentos para os tribunais para inscrição dessas candidaturas. Muitos documentos faltando e várias candidaturas de mulheres foram impugnadas por falta de documentos que deveriam ter sido entregues pelos partidos políticos dentro dos devidos prazos."

E, se o descumprimento das cotas tem sido atribuído a um suposto desinteresse das mulheres pela política, José Eustáquio Alves defende que isso não é verdade.

Dados do TSE indicam que, nas eleições de 2010, havia 1.335 mulheres concorrendo às 513 cadeiras da Câmara dos Deputados. E, para José Eustáquio, o número ainda não é maior porque as mulheres não querem concorrer apenas para fazer número.

"Esse argumento que os partidos falam que as mulheres não estão interessadas não é verdade. Os dados não mostram isso. E usam esse argumento para justificar ao TSE o fato de não terem conseguido preencher as cotas. E por que não conseguiram? Porque não investiram nas mulheres, porque não deram apoio às mulheres. No dia em que o partido der apoio às mulheres, elas vão ser candidatas e vão vencer."

Outras regras da minirreforma de 2009 buscam aumentar o investimento dos partidos nas mulheres. Mas, segundo a ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, elas precisam ser fiscalizadas. A ministra defende ainda que a própria militância das mulheres nos partidos contribuirá para a mudança de postura das agremiações.

Mas a luta pela retomada do poder feminino apresenta um risco, segundo o folclorista e professor de Mitologia Marcos Ferreira Santos: o de masculinização da mulher.

"Se você tem de um lado, por exemplo, mulheres fantásticas, como Golda Meir, Indira Gandhi, Madre Tereza, que conseguem exercitar papéis importantes de destaque com a manutenção dos princípios femininos, você tem outras que acabam se masculinizando, como é o caso clássico da Margaret Thatcher. Ela não difere em absolutamente nada de nenhum outro politico masculino da Inglaterra. Por isso conhecida como a dama de ferro."

De fato, Guacira Oliveira, do Centro Feminista de Estudos e Assessoria, defende que há, ainda, mulheres no poder comprometidas com a manutenção da diretriz política de exclusão de mulheres.

TRILHA – “Quero ser assim, quero ser assim, senhora das Minhas vontades e dona de mim....”

De Brasília

Verônica Lima

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