Rádio Câmara

Reportagem Especial

Livro digital: altos custos freiam crescimento no Brasil

23/03/2011 - 00h00

  • Livro digital: altos custos freiam crescimento no Brasil (bloco 1)

  • Livro digital: com tanta informação, o mundo digital oferece mais conhecimento? (bloco 2)

  • Livro digital: como driblar a pirataria no ambiente virtual (bloco 3)

O livro digital é o personagem da Reportagem Especial desta semana. Se a invenção do livro impresso revolucionou a cultura humana, o que esperar da leitura no mundo digital?

TEXTO

"O brilho do laptop me incomodou um pouco, o fato de não ter o livro nas mãos para passar a páginas, tudo isso que eu venho fazendo há tantos anos, né.... O contato com o livro nas mãos, eu me sinto mais seguro, mais confortável, eu já tentei ler um livro pela internet e não consegui..... E o livro que você compra você tem a sensação que está levando alguma coisa pra casa. Então, a minha cabeça ainda não está muito preparada para gastar com isso..... É mais por febre mesmo, porque todo mundo tem, todo mundo está querendo, a gente vai querer também, entendeu.... É, não sei se é pela minha personalidade, talvez um pouco mais conservadora, mas eu ainda fico ligado nesse grande barato do livro, de folhear, de sentir o cheiro do papel, eu venho aqui nessa livraria porque eu gosto desse cheiro."

Os leitores da livraria se mostram com o pé atrás. Um livro não se faz apenas de letras, mas de afetos. São os momentos marcantes divididos com as páginas, as reflexões e o gosto por olhar as obras mais especiais na estante.

Mas não dá para segurar a evolução dos tempos. O livro digital chegou para ficar. Hoje já representa 5% das vendas de livros nos Estados Unidos, devendo chegar a 30% nos próximos dois anos.

O Brasil vem bem mais lentamente, mas o mercado já se movimenta e oferece aparelhos de leitura e obras digitais. Mas isso significa que em breve só iremos ler em uma tela? O especialista em livros eletrônicos, Ednei Procópio, afirma que quem vai decidir o futuro é o leitor.

"O leitor digital se confunde com o leitor impresso hoje. Nesse estágio em que estamos, nós não sabemos o que vai acontecer. Mas nesse estágio que estamos ele se confunde com os 32 milhões de consumidores de livros impressos. É o leitor de livro impresso que está conectado, gosta de ler, consome leitura e portanto vai consumir livro digital."

Ednei Procópio, membro da Comissão do Livro Digital da Câmara Brasileira do Livro, destaca que o Brasil precisa equacionar problemas de infraestrutura para colocar os dois pés no mundo dos e-books. Internet rápida e equipamentos mais baratos são fundamentais.

"Vamos supor que o governo consiga realmente colocar banda larga para a maioria da população - esse é o primeiro passo. O segundo é o aparelho. Não precisa ser um smartphone, pode ser um tablet, um e-reader, um netbook, qualquer tipo de equipamento móvel."

E esse monte de palavras estrangeiras significa aparelhos caros que nem de longe fazem parte do dia-a-dia do brasileiro. É preciso ao menos R$ 700 para conseguir um bom acesso à internet e um aparelho adequado, porém a maioria dos equipamentos custa bem mais do que isso.

Mas o diretor da editora Évora, Henrique Farinha, aposta que, com preços menores, o livro digital também irá crescer no Brasil.

"Ninguém teve apego ao manuscrito depois que a prensa do Gutemberg virou a mídia predominante. A grande questão é: se a mídia se comprovar eficaz, barata, da fácil acesso, ela vai predominar. Esse é o ponto principal, a mídia eletrônica ainda é cara. O livro eletrônico pode ser mais barato que o livro impresso, mas para ler o livro eletrônico, você tem que ter um e-reader, um dispositivo eletrônico de leitura."

Existem vários e-readers no mercado, a maioria deles é importada mas já existem exemplares nacionais. Parecem um livro de tamanho médio, bem mais fino e com teclas para passar as páginas. Os mais modernos já têm acesso à internet, e o leitor pode até sublinhar uma frase do livro e publicar em redes sociais como o Twitter.

A professora universitária Karina Barbosa conta que segue louca pelo impresso, mas também se apaixonou pelo livro digital.

"Para mim, para leitura, é perfeito. Foi paixão à primeira vista. Abri, botei na capinha e fui ler o primeiro produto. E foi impressionante. Eu adoro livro, adoro papel, compro muito livro, mas o livro tem aquele desconforto, como é que eu vou ler na cama, dobra a página, às vezes não dá para ler o cantinho da página porque está dobrado..."

Uma coisa é certa: No papel ou no mundo digital, as palavras vão seguir contando histórias e registrando a cultura onde vivemos.

De Brasília, Daniele Lessa

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