Rádio Câmara

Reportagem Especial

Resistência ao preservativo e crescimento da incidência entre jovens (06'45")

21/02/2011 - 00h00

  • Resistência ao preservativo e crescimento da incidência entre jovens (06'45")

A resistência ao uso do preservativo é uma das explicações para a Aids ser uma epidemia estabilizada no Brasil, com cerca de 35 mil novos casos por ano. Os últimos números oficiais contabilizam 630 mil soropositivos no país. Um fator que chama a atenção das autoridades é o crescimento da incidência entre jovens.

A coordenadora do programa de saúde do adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Albertina Duarte, conta que é comum que eles abandonem a camisinha assim que o relacionamento se estabiliza.

"Adolescência é mágica, tem tempos diferentes, muito tempo pode ser dois meses, então muitas vezes elas confiam nos parceiros, fazendo com que o anticoncepcional oral seja a prevenção da gravidez, esquecendo das doenças sexualmente transmissíveis. Embora ela saiba que as DSTs podem ocorrer na relação sexual, é difícil pra adolescente assumir que seu parceiro amado, que é cheiroso, que é gostoso, possa contaminá-la também"

Para o diretor adjunto do Departamento de DST/Aids do Ministério da Saúde, Eduardo Barbosa, o problema que afeta tanto jovens quanto adultos não é a falta de informação sobre a doença, mas sim a dificuldade de se adotar uma cultura de prevenção.

"O grande dificultador é a tomada de atitude, que é individual. O governo investe e forte em medicamentos, tratamentos, atenção, promoção, em campanhas, informação. Hoje cerca de 97% da população sabe como pega, que o preservativo é a melhor forma de prevenção, porém tomar atitude é o mais dificil"

Essa tomada de atitude é ainda mais difícil onde o acesso à informação é menor, como nas áreas rurais.

Há 14 anos, Nadir Moraes trabalha na Rede Acreana de Mulheres e Homens que, dentre diversos temas, promove ações de saúde preventiva. Ela conta que além da dificuldade para conseguir camisinhas, as mulheres enfrentam a resistência e o preconceito dos próprios maridos.

"Quando se fala na prevenção e se fala do uso da camisinha, você sabe que na área urbana a camisinha é mais presente. Na área rural não tem tanto essa presença, nunca teve e hoje em dia quando tem é mínima. Outra coisa é como conseguir essas camisinhas já que elas estão na área rural e têm dificuldade de acesso a elas, sendo que elas têm que ter isso em casa porque os maridos na maioria das vezes não querem usar desse método. E isso não só na zona rural, na zona urbana também ainda é muito citada a insistência do homem a não usar camisinha, dizerem que não tem porque estar usando e, principalmente as mulheres casadas, eles perguntam porque elas querem usar, com quem elas estão saindo, e fazem aquelas perguntas ameaçadoras, tipo condenando-as a estar cometendo algo de errado"

No trabalho desenvolvido no Acre, os educadores reforçam a importância da camisinha e esclarecem dúvidas sobre outras doenças sexualmente transmissíveis. Uma das estratégias é vincular o uso do preservativo ao amor e ao cuidado com o parceiro.

Em alguns casos, informações equivocadas sobre os remédios anti-HIV acabam estimulando o comportamento de risco, como observa a presidente da Sociedade Viva Cazuza, Lucinha Araújo.

"Muita gente, acho que 50% pensa assim: ´se eu me contaminar eu vou na farmácia e tomo um coquetel e pronto´. Primeiro que não é coquetel, isso foi muito mal explicado, é a junção de um, dois ou três remédios que o médico que tem fazer de acordo com os seus exames. As pessoas pensam que é um remédio milagroso: ´ah, eu vou transar e amanhã tomo um coquetel´, também é outro erro. "

Mas o vírus não deve ser uma barreira para relacionamentos. Especialistas são unânimes em dizer que não há problemas em namorar e manter relações sexuais com um soropositivo desde, é claro, que sejam tomados cuidados, de preferência sob orientação médica, como aconselha o infectologista Esper Kallas.

"Claro que é possível. Mas o meu conselho é que isso ocorra sob orientação pra não deixar acontecer algum descuido e pra não deixar acontecer paranoia. Vários casais de pessoas que vivem com HIV que eu cuido são casais que a gente chama sorodiferentes, um é positivo outro é negativo, e conseguem levar uma vida normal. Vários exemplos a gente tem também, mulheres que têm o vírus e o parceiro não tem, e que acabaram engravidando, constituindo família. O oposto também é verdadeiro. Cada vez mais a gente está conseguindo fazer com que essas pessoas tenham uma vida normal. O preço disso é fazer sempre um segmento médico adequado. É observar as recomendações gerais de prevenção"

A mulher que aqui vamos chamar de Joana é um exemplo do que diz o dr. Esper Kallas. Ela já namorou dois soropositivos e conta que é simples não se contaminar.

"Evitar, me prevenir, você pode se prevenir com a camisinha no sexo, e se a boca do parceiro está ferida e a sua também tiver alguma coisinha é só não beijar naquela época e tomar os remédios que não passa nada. Aí depois que tá tudo normal pode beijar na boca muito, não tem nada, que é muito bom! Faz a gente ficar feliz, ficar tudo normal, né?"

Como destacou Joana, o uso de preservativos em todas as relações sexuais é a principal forma de prevenir a contaminação pelo vírus da Aids. As camisinhas estão disponíveis gratuitamente na rede pública de saúde, assim como os testes de HIV.

Muita gente ainda pensa que um beijo, um abraço ou o uso dos mesmos talheres são capazes de transmitir doenças. Mas o HIV só é contraído por meio de relações sexuais desprotegidas, ou no contato com o sangue ou fluidos contaminados, desde que haja um canal para a infecção, como uma ferida. Também não se fala mais em grupos de risco, mas sim em comportamento de risco. Por isso, a prevenção é fundamental.

De Brasília, Mônica Montenegro

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