Rádio Câmara

Reportagem Especial

Superdotados - Habilidades acima da média (07'28")

25/10/2010 - 00h00

  • Superdotados - Habilidades acima da média (07'28")

Sabe aquele colega seu da escola, que sempre tirava notas ótimas, entendia as matérias, ajudava os colegas? Pois é. Provavelmente ele era um cara esforçado. Mas será que era uma pessoa superdotada? Nos últimos anos, muito foi descoberto a respeito de pessoas superdotadas, ou com altas habilidades.

Psicólogos e pedagogos afirmam que as pessoas com altas habilidades precisam de apoio para poderem aproveitar todo o potencial deles.

Para entender melhor, vamos conhecer o Enzo. Ele tem nove anos, e possui alta habilidade matemática e mecânica. A aptidão de Enzo o torna muito hábil com as contas.

Enquanto os colegas dele precisam de vários exercícios para aprender fórmulas e contas, Enzo consegue entender a matemática muito rapidamente. Apesar disso, Enzo precisou de ajuda para poder obter boas notas de matemática no boletim.

Por quê? Porque ele é uma criança, e fica entendiado ao ter que aguentar exercícios que ele já sabe fazer e não acrescentam nada.

Joelma Pereira, a mãe de Enzo, conta que o garoto sofreu com baixo desempenho escolar até começar a ser atendido por um psicólogo, e compreender um pouco melhor sua habilidade.

"Ele é curioso, ele é questionador, ele é observador, e acaba que por conta disso ele fica muito angustiado. Ele burla as regras normais da escola, porque como algumas regras para ele não têm lógica, ele precisa questioná-las pra entender. E aí tem coisa que, como se diz? É a dinâmica social, né? Seja a favor, seja contra, o mundo funciona assim. Então, algumas coisas a gente tem que mostrar para o Enzo porque ele precisa entender porque elas funcionam e isso não significa que ele está aceitando a regra, mas que ele vai aprender a conviver com ela."

Joelma, ao descobrir as habilidades do seu filho, se sentiu confusa. Isso acontece com a maioria das mães, segundo a psicóloga especializada em crianças superdotadas Viviane Orlandi. Ela explica que as crianças com altas habilidades sofrem enquanto não têm o apoio necessário, tanto pedagógico quanto psicológico.

Segundo a Mensa, entidade internacional que estuda o fenômeno da superdotação, um ser humano superdotado tem uma habilidade altamente desenvolvida, algumas vezes chamada de talento, em pelo menos um campo geral de conhecimento.

A criança superdotada se interessa profundamente por aquilo em que possui habilidade, e tem motivação própria para aprender mais sobre o tema.

Ela também exercita muito sua criatividade em relação a seu talento, criando soluções inovadoras para tarefas ou problemas apresentados.

Além disso, a maioria das crianças com alta habilidade ou superdotadas possuem um senso de humor bastante desenvolvido e sofisticado, uma capacidade de liderança elevada e uma resistência acima da média para aceitar ideias preconcebidas.

Em outras palavras, um superdotado não apenas obedece a uma regra, ele quer entender o porquê daquela regra existir. Porém, uma criança com alta habilidade ainda é uma criança, e isso envolve a inexperiência ao lidar com crianças que não possuem as habilidades dela, ou simplesmente não entendem o que ela diz.

Para isso, o auxílio de um psicólogo e o acompanhamento dos pais são importantes para que a criança compreenda que outras pessoas não possuem as habilidades dela, e por isso às vezes não a entendem.

Viviane Orlandi explica que esse conflito é muito comum entre as próprias crianças, que podem segregar quem tem altas habilidades.

"Às vezes aquela criança que tem altas habilidades não se interage tão bem com crianças da mesma idade. Às vezes é deixado de lado porque, como ele sabe mais, ele tem um assunto, às vezes é o vocabulário, tem características que destoam daquele grupinho deles, e às vezes eles também são deixados de lado. Então são crianças que também sofrem emocionalmente. Porque nem sempre atingem um padrão de excelência em todos os critérios, é uma área. Então, a família também precisa ser orientada junto à escola para dar esse conforto, que aquela criança, aquele jovem com potencial acima da média em determinada área, ele também precisa de suporte."

A psicóloga Erondina Vieira, presidente da Associação Brasileira para Altas Habilidades, explica que o número de superdotados identificados e atendidos por programas específicos no Brasil é de cerca de 5 mil crianças.

Mas ela afirma que o número total estimado é bem maior. Aproximadamente 5% das crianças possui pelo menos uma alta habilidade e poderia se beneficiar de programas específicos para elas.

"Esse aluno é observado na escola, pelo professor dele. A partir do momento que essa avaliação é devolvida pra gente, a gente faz uma tabulação, e aqueles alunos que aparecem, na média um, dois por sala, a gente começa a conversar com esse aluno, começa a observar esse aluno, e vê qual a área de interesse dele, para começar o atendimento. E aí, eles nos surpreendem, né? Porque não é só o talento acadêmico, tá? A gente não trabalha só com o talento acadêmico. Nós temos várias áreas, o leque abre, né? De acordo com o interesse dele. Então, tem aluno que quer fazer coisas inimagináveis, que a gente não imagina que tenha alguma sala de aula que ele poderia querer. Então, aí entra função da associação. Ele quer um trabalho, um projeto em que não tem condição na escola, não tem professor que possa atendê-lo, então a associação vai em busca de voluntários e parcerias para atender esse aluno."

Erondina ainda explica que muitas crianças não são identificadas corretamente, e seu comportamento as faz serem confundidas com crianças com problemas de aprendizagem.

Além disso, não se pode esquecer que para que ocorra o pleno desenvolvimento de suas habilidades é necessário apoio pedagógico específico.

Por isso, provavelmente a resposta para a pergunta lá do começo da reportagem seja de que seu colega era só um cara muito esforçado mesmo. E aquele garoto tímido, meio deslocado, lá no fundo da sala, que até tirava boas notas, mas quando conversava com os outros parecia viver no mundo da lua, provavelmente tinha alguma alta habilidade. Só faltava um impulso para ele.

De Brasília, Bruno Angrisano

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