Rádio Câmara

Reportagem Especial

Jorge Amado - A história do escritor brasileiro mais difundido no mundo (08'01'')

13/09/2010 - 00h00

  • Jorge Amado - A história do escritor brasileiro mais difundido no mundo (08'01'')

TRILHA "Ascanio no Jeguinho"

Eduardo Portella - Jorge Amado na Literatura

"Pra mim, Jorge Amado é um dos mais importantes escritores da literatura brasileira de todos os tempos. Ele aliava a competência do narrador, do contador de histórias a uma profunda sensibilidade social e humana. Essas duas coisas vão juntas. O bom contador de histórias e as histórias ancoradas na condição humana, no cotidiano brasileiro, nas diferenças sociais, nas desigualdades. Esse foi o Jorge, o grande intérprete do Brasil dos vencidos."

Em 2011, serão lembrados os dez anos da morte de Jorge Amado. E em 2012, também no mês de agosto, será celebrado o centenário de nascimento de Jorge Amado. O depoimento que você ouviu é de um amigo do escritor. O também escritor e colega de Academia Brasileira de Letras Eduardo Portella.

TRILHA "Ascanio no Jeguinho"

Jorge Amado nasceu em 1912 em uma fazenda em Ferradas, município de Itabuna, na Zona do Cacau da Bahia. No ano seguinte, a família foi expulsa da fazenda por uma epidemia de varíola e todos se mudaram para Ilhéus.

Em 1922, aos dez anos de idade, o garoto Jorge se muda pra Salvador. Se o menino é o pai do homem, como diz Brás Cubas em Memória Póstumas, de Machado de Assis, Ilhéus deixou uma marca profunda na memória de Jorge Amado, como explica a diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, Mirian Fraga:

"Ele passou períodos em Ilhéus. Ele tinha uma visão muito aguda da região do Cacau, dessa luta pela dominação e uma grande parte da obra dele se passa em Ilhéus, né?"

Várias histórias de Jorge Amado se passam na Zona do Cacau, como o próprio "O Cacau", "Terras do Sem-Fim", "Tocaia Grande", "Gabriela" e "A Descoberta das Américas pelos Turcos".

TRILHA "Tieta e Ascanio"

Em 1929, Jorge Amado começou atividade jornalística em "O Jornal". Lá, publica a novela "Lenita" sob um pseudônimo: YU. Karl. Em 1931, sai "O País do Carnaval". No ano seguinte se muda para o Rio de Janeiro e conhece Rachel de Queiroz, a responsável por aproximá-lo dos comunistas.

As primeiras obras de Jorge Amado são marcadas pela preocupação social e por uma inclinação stalinista.

Em uma viagem a Pirangi, na Bahia, escreve "Cacau". Em 1936, é preso por motivos políticos, acusado de participar da Intentona Comunista, em Natal. Na época, foi publicado "Mar Morto".

Após o lançamento de "Capitães da Areia" e de voltar de viagem ao exterior, Jorge Amado é preso em Manaus e seus livros considerados subversivos são queimados em Salvador.

Viram cinzas "O país do Carnaval", "Cacau", "Suor", "Jubiabá", "Mar Morto" e "Capitães da Areia". Como explica o escritor Moacyr Scliar, nesta fase o universo dos personagens de Jorge Amado é maniqueísta.

"Certamente, essa era a regra, era o que chamava de realismo socialista. Quem era comunista era bonzinho, quem não era, era malvado. Parecia filme de faroeste e isso era uma literatura panfletária, destinada a convencer."

TRILHA "A Luz de Tieta"

Em 1939, Jorge Amado mergulha na política. Em 1945, participa do Primeiro Congresso de Escritores em São Paulo, que protesta contra o Estado Novo.

Na época é publicado "Vida de Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança". Jorge Amado é preso novamente por um período curto. Em 1946, vira constituinte e é cassado dois anos depois, quando o Partido Comunista se torna ilegal. Sai em exílio voluntário para Paris.

Em 1950, vai morar no Castelo da União dos Escritores em Praga, Tchecoslováquia, quando realiza viagens políticas pela Europa Central e União Soviética.

São dessa época "Os Subterrâneos da Liberdade" e "O Mundo da Paz", sobre os países socialistas, premiado em Moscou com o Prêmio Stalin Internacional da Paz. Jorge Amado é enquadrado na Lei de Segurança.

Em 1956, Jorge Amado passa por sua segunda revolução mental. A partir daí, sua obra dá uma guinada. Surge um dos maiores livros de Jorge Amado, como explica o antropólogo Roberto da Matta:

TRILHA "Modinha pra Gabriela"

"A partir de Gabriela você tem uma mudança radical na obra dele. Uma mudança da água pro vinho. Porque a partir dali ele entra num mundo de fantasia. Evidente que ele continua o Jorge Amado, continua a falar da Bahia, do Pelourinho, das prostitutas, dos homens do povo. Há um momento dos Pastores da Noite em que as prostitutas da Bahia resolvem fazer uma greve. Mas a obra é muito mais brasileira, muito mais ligada a valores comuns do que problemas políticos."

Jorge Amado escreveu 16 livros em sua fase stalinista e 20, depois. A diferença entre as duas fases é imensa.

"A obra de Jorge Amado está dividida em dois momentos críticos. Jorge Amado do Partido Comunista e Jorge Amado que saiu do partido quando houve o relatório Kruchev, na década de 50, em que ele saiu do partido. E aí ele publica 'Gabriela Cravo e Canela', que é uma ruptura com tudo o que ele escreveu antes. Porque 'Gabriela' já não tem mais o pobre que necessariamente vai entrar no partido comunista ou vai ser um revoltado, ou vai ser um miserável. E depois ele publica "Pastores da Noite" e depois ele começa a série 'Dona Flor' e depois 'Teresa Batista..."

"Gabriela" foi uma quebra em seu estilo. Em 1954, ocorreu o Vigésimo Congresso do Partido Comunista da União Soviética, quando as atrocidades de Stalin são denunciadas publicamente.

Oficialmente, Jorge Amado explica que abandonou a militância política apenas porque o engajamento estava impedindo a carreira literária. Mas o escritor, então, já havia deixado marcas profundas na cultura brasileira.

"Eu tenho 74. Todo mundo da minha geração leu Jorge Amado comunista porque todo mundo foi comunista. Então, a religiosidade pra nós entrava naquela linha que tinha a ver com o povo baiano, que era o povo que, evidentemente, tinha que ser salvo."

Em 1961, Jorge Amado escreve "Os Velhos Marinheiros", o livro preferido de Eduardo Portella.

Trilha "Ascanio no Jeguinho"

"São duas histórias muito interessantes. Uma com o comandante Vasco Moscoso de Aragão e outra do Quincas Berro D´água. Esse livro, constituído dessas duas novelas, é fundamentalmente Jorge Amado. O mar, a praia, a boemia, a noite são os marginais e há diferença entre o Brasil oficial e o Brasil real, o Brasil de Quincas é o real, e o Brasil de Vasco é o ideal."

No mesmo ano de lançamento de "Os Velhos Marinheiros", Jorge Amado é eleito para a cadeira 23 da ABL. Na época, sai a primeira adaptação para a TV de Gabriela. Esta fase da carreira de Jorge Amado é considerada a melhor por Eduardo Portella.

"Eu acho que a segunda parte é muito mais livre. É um Jorge falando em nome do povo brasileiro, e não um Jorge falando em nome da ideologia."

Jorge Amado ainda é o autor brasileiro mais publicado em todo o mundo: sua obra foi editada em 52 países, e traduzida para 49 idiomas e dialetos, que vão de A a Z.

Além dos principais idiomas do mundo, Jorge Amado pode ser lido em albanês, azeri, búlgaro, croata, eslovaco, esloveno, estoniano, georgiano, guarani, iídiche, letão, lituano, moldávio, tailandês, turcomano e vietnamita.

De Brasília, Luiz Cláudio Canuto

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h