Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Família - Novos modelos - (7'27")

06/09/2010 - 00h00

  • Especial Família - Novos modelos - (7'27")

"A filha do meu marido é a Zara, a minha filha é a Clara, e a nossa filha é a Helena. E o irmão da minha filha pelo meu primeiro marido é o Thiago. Então na verdade são quatro crianças nesse mosaico, né?"

A família da Ana Cláudia mostra um pouco da diversidade da vida moderna. Se antes era muito normal desenhar a família com o pai, a mãe e os filhos, hoje existe a preocupação de considerar outros arranjos como parte da sociedade atual.

Novos casamentos com filhos de relações anteriores, casais homoafetivos, crianças educadas pelos avós ou tios - se antes tudo isso era estranho, hoje pode ser apenas família.

"Quando a estrela acende, Ninguém mais pode apagar. Quando a gente cresce, Tem o mundo pra ganhar: - Brincar, dançar, saltar, correr. Meu Deus do céu, onde é que eu vim parar?"

Neste ano de 2010, o relatório Desenvolvimento Humano do Pnud, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, destacou a imensa importância da família. Mas o coordenador do relatório, Flávio Comim, aponta que antes de tudo é preciso trabalhar com um conceito amplo de família.

"A nossa definição de família é uma rede de cuidados e de afeto, o que significa que você pode estar com pai, mãe, irmão e irmã e se não tem essa rede de cuidado e afeto você não está numa família, como pode ser se você vive com a sua avó, ou dois pais ou duas mães e tem esse cuidado e esse afeto, você está numa família."

E por que a Organização das Nações Unidas foi pesquisar a família brasileira? Porque eles perguntaram a mais de meio milhão de pessoas o que precisaria mudar no Brasil para a vida melhorar de verdade. E uma das respostas mais mencionadas foram os valores.

Ao colocar a atenção sobre valores, a pesquisa concluiu que eles são guias de ações formados na prática do dia-a-dia, e essas ações podem ser positivas ou negativas.

Flavio Comin destaca que a maior contribuição da família é relacionar as pessoas com as práticas. Seja o pai, a mãe, o padrasto ou a avó, é agindo que eles transmitem práticas de solidariedade, gratidão e ética.

"Você chega para uma criança e diz: meu filho, não faça isso. E daqui a pouco o seu filho observa que você está fazendo isso, o conselho que você deu fica no conselho, ele não é traduzido na prática, porque ele vê que na prática outros valores são utilizados. Então essa dimensão de que valores dependem muito das práticas, das vivências, das experiências que as pessoas têm, é o que nos deu uma ótica para entender melhor o papel das famílias."

Se o papel da família também é passar os valores adiante, como isso acontece nesse mundo tão rápido onde os próprios valores estão em xeque? A tecnologia apresenta uma novidade a cada dia e há pressa em querer trocar o velho pelo novo.

Hoje, os relacionamentos também são considerados velhos quando as novidades ficam escassas. Se em décadas passadas o casamento era visto como indissolúvel, hoje as famílias se fazem e desfazem, e essa é uma questão a ser conversada, como explica a psicóloga Vera Regina Miranda.

"Então os valores estão muito mais para o indivíduo, da busca do prazer individual mais do que da manutenção desse grupo que teria que ser preservado, vamos dizer assim. Agora, independente disso, que é um fato, não é porque o mundo está rápido, que os jovens ficam e talvez se aprofundam cada vez menos, que os pais não vão conversar sobre essas coisas, sobre o que se ganha e o que se perde."

Em tempos onde as famílias mudam rapidamente, a imagem do masculino e do feminino se transforma. Pais ou mães criando os filhos sozinhos, casais do mesmo sexo que conseguem direito de adoção, tudo isso suscita o questionamento de como ficam os papéis dentro de casa.

Ainda que essa divisão do que seja masculino ou feminino esteja mudando junto com a família, para Vera Regina, o importante é que as funções do pai e da mãe estejam presentes, mesmo que sendo exercidos por outras pessoas.

"Então o que é função materna? É aquela ligada à acolhimento, à carinho, à dar continência, a dar colo, ao senso do pertencimento, e o que é função paterna? É aquela que tem a ver com disciplina, norma, regra. Pai e mãe devem exercer função materna e paterna, devem os dois. Sempre vai ser importante alguém que assuma a função de pai ou de mãe de dar afeto e de dar limite, independente do sexo que eu tenha e independe da minha condição: sou pai, sou mãe."

A família está mudando sim, mas sempre é tempo de celebrar a sua existência. E Ana Cláudia, que abriu essa reportagem contando de sua família mosaico, anuncia que vai se casar, e quem convida são as filhas: Clara, do seu primeiro casamento, Zara, do primeiro casamento de seu atual marido, e a caçula Helena, filha dos dois.

"A gente decidou oficializar a união até por elas, para elas terem a relação familiar bem definida. É o padrasto da Clara, e eu sou a madrasta da Zara, não é um namorado, apesar de a gente já viver junto. Então a gente resolveu fazer um casamento e elas que estão convidando. O convite é Zara, Clara e Helena convidam para o casamento dos pais, Ana e Fred. Estão todas animadíssimas porque vão ser damas de honra."

Que continuemos celebrando essa fantástica invenção que são as famílias, de todos os jeitos que possam existir.

De Brasília, Daniele Lessa

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