Rádio Câmara

Reportagem Especial

As complicações do excesso de peso (07'27'')

31/08/2010 - 00h00

  • As complicações do excesso de peso (07'27'')

A barriguinha saliente pode prejudicar a saúde e a luta contra aqueles excessos é mais que uma questão estética.

A obesidade é uma enfermidade crônica acompanhada de múltiplas complicações, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura em quantidade que compromete a saúde. A definição é do Consenso Latino Americano em Obesidade. Entre as complicações mais comuns, está o diabete mellitus, a hipertensão arterial, as dislipidemias - presença de níveis elevados ou anormais de gordura no sangue - alterações osteomusculares e o incremento da incidência de alguns tipos de cânceres.

O endrocrinologista e ex-presidente da Abeso, Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade, Márcio Mancini, afirmou que o excesso de peso afeta vários sistemas do organismo.

"As doenças mais comuns são bem conhecidas: pressão alta, diabetes, aumento do colesterol, mas existem doenças menos comuns. Alguns tipos de cânceres são mais comuns em pacientes obesos. Por exemplo: câncer de cólon, câncer de mama, câncer de útero são mais comuns em pessoas obesas. Além disso, apneia do sono - que são episódios de sufocação durante o sono - também são mais comuns em indivíduos obesos. Aumento de ácido úrico, problemas articulares, sem falar na diminuição de autoestima, de problemas psicológicos que os obesos têm."

Também a diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional, Ellen Paiva, alertou para o alto número de pacientes obesos que apresentam algum tipo de câncer.

"Quando a gente olha mulheres obesas, nós temos muito maior risco de câncer de mama, e não só em mulheres, por exemplo o câncer de cólon é muito maior a incidência entre obesos. Câncer de útero é muito maior entre mulheres obesas. Isso são constatações. Nós não sabemos nem explicar o porquê da relação, nós sabemos que a relação existe."

Os obesos também têm mais dificuldade na realização de exames. Márico Mancini ressaltou que existem alguns equipamentos em que pessoas obesas não conseguem entrar, além disso o excesso de tecido adiposo dificulta a leitura dos aparelhos de ecografia.

A obesidade é reconhedica pela Organização Mundial de Saúde como doença e atinge tanto países desenvolvidos como países em desenvolvimento, onde tem crescido mais. E o número de pessoas com sobrepeso no mundo já é o dobro do número de desnutridos.

No Brasil, pesquisa do IBGE, divulgada na semana passada, mostrou que a obesidade pode atingir dois terços dos brasileiros nos próximos dez anos.

A pesquisa analisou dados de 188 mil pessoas e concluiu que a ovesidade e o excesso de peso são encontrados em todos os grupos de renda e regiões do país, em crianças a partir de cinco anos.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou, em relação à pesquisa, que se o excesso continuar no ritmo atual, em dez anos os brasileiros estarão os mesmos problemas relacionados ao excesso de peso que os norteamericanos enfrentam atualmente.

É considaerada obesa a pessoa que tiver o índice de massa corporal, IMC, maior que 30.

O IMC é conseguido se dividindo o peso da pessoa por sua altura ao quadrado.

Márcio Mancini, endocrinologista e ex-presidente da ABESO, Associação Brasileira para Estudo da Obesidade, lembrou que o IMC serve para nortear o médico para o maior ou menor risco à saúde do paciente.

"A grosso modo isso serve para nortear um pouco, para tentar colocar a indivíduo numa faixa de maior ou menor risco, mas às vezes a gente tem um indivíduo que tem um peso dentro do normal, mas tem muita gordura na barriga por exemplo, e isso pode levar à alteração de exames, então nos últimos anos o conceito de obesidade tem mudado um pouco. Claro que tem pessoas que a gente olha e já sabe que é obeso, mas às vezes, têm indivíduos que não são propriamente gordos e que têm perninha fina e muita gordura na barriga, isso é um problema de saúde também."

A Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico - Vigitel - é realizada desde 2006 em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal.

Cinquenta e quatro mil pessoas acima de 18 anos são entrevistadas pelo telefone e os números são escolhidos aleatoreamente entre aqueles que possuem linha de telefone fixo.

O Vigitel de 2009 mostrou que 46,6 por cento da população adulta nas capitais está com excesso de peso.

Já os obesos representam 13,9 por cento dos brasileiros.

A médica sanitarista, Deborah Malta, coordenadora geral de Doenças e Agravos não Transmissíveis, é responsável pelo Vigitel e explica que a pesquisa serve para nortear as ações do Ministério da Saúde na prevenção de doenças crônicas relacionadas aos hábitos dos brasileiros.

Deborah Malta disse que em relação ao excesso de peso, a opção por comidas prontas ou semi-prontas e a falta de atividade física são os grandes responsáveis por esse aumento.

"A piora da qualidade da alimentação, aumento do acesso, mas piora na qualidade desses alimentos. Então, sem dúvida, isso é um fator muito importante para o crescimento do excesso de peso e da obesidade. E por outro lado, os baixos níveis de atividade física."

Para Deborah Malta, é preciso aumentar a atividade física dos brasileiros, porque o percentual de pessoas que a praticam regularmente é de apenas 15 por cento.

"Há muitas evidências nos estudos internacionais sobre os benefícios da prática regular da atividade física na redução, na prevenção das doenças crônicas e nós temos infelizmente 15 por cento da população adulta que pratica atividade física nos níveis recomendados, que seriam 30 minutos, cinco vezes por semana. São níveis muito baixos, então esses dois fatores aliados são, sem dúvida, a explicação para esse aumento quase epidêmico do excesso de peso no país."

Diante de números alarmantes, há pessoas que defendem políticas ofensivas de restrição da venda de alimentos com altos teores de açúcar, gordura ou sódio.

Ellen Paiva classifica a obesidade como uma pandemia, que atinge pobres e ricos, cidades e zona rural. Para ela, o grande detonador desse aumento no número de pessoas com excesso de peso, é o acesso a produtos industrializados.

"Pequenos grupos populacionais que não tinham acesso a esse alimento rico em gordura, rico em açúcar, muito palatável, muito saboroso, que arrebata, que seduz. Esse alimento ele praticamente chegou em todos os lugares do mundo."

A Fundação Nacional de Saúde, Funasa comprovou que mesmo entre os índios a chamada fast food está causando aumento de peso.

O primeiro Inquérito Nacional de Saúde Indígena, realizado em 2008, avaliou seis mil mulheres, de 177 tribos, de 14 a 49 anos e mostrou que 30,9 % delas estão com sobrepeso e 15,6% foram classificadas como obesas.

De Brasília, Karla Alessandra

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