Rádio Câmara

Reportagem Especial

Empregos no Brasil - O que as empresas procuram e as profissões do futuro (7'31'')

13/04/2010 - 00h00

  • Empregos no Brasil - O que as empresas procuram e as profissões do futuro (7'31'')

Qual será o tipo de profissional que as empresas querem? Recentemente, o Ministério da Educação reformulou o Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, com o diagnóstico de que as provas devem estimular menos a memorização e mais a capacidade de raciocínio dos estudantes.

Para a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Leila Nascimento, a mudança está em sintonia com as demandas do mercado:

"Flexibilidade, que o profissional tenha iniciativa, flexibilidade às mudanças, que tenham boas relações pessoais, relações humanas dentro da empresa; porque a empresa está toda estruturada em equipes. Então essas pessoas precisam desenvolver bastante esta parte do raciocínio lógico, a parte da análise, da objetividade, da clareza, da comunicação. Comunicação é um fator-chave hoje dentro das organizações, saber se comunicar, saber lidar com as ferramentas da web, interagir na web. Hoje por um e-mail você abre uma nova perspectiva de contato dentro da empresa com o cliente, mas você também pode fechar uma porta por um e-mail mal conduzido".

Lúcio Tezotto, gerente de atendimento da Catho Online, ressalta ainda a disponibilidade do profissional de estar sempre aprendendo:

"Se eles têm uma experiência profissional de relevância, ou seja, atuaram em empresas onde se envolveram em grandes negócios, foram empresas de ponta no mercado, líderes de mercado, existe uma preferência. E atualização. Então, não basta simplesmente o profissional ter tido uma experiência profissional interessante, mas esta experiência, ela é aplicada na atualidade? Não existe um treinamento, uma palestra, alguma informação que este profissional pode adquirir hoje e que vai ser um diferencial para os próximos anos? A empresa questiona bastante isso. Fora que o profissional tem que estar sempre procurando aprender".

Mas, se é importante saber quais carreiras e quais perfis as empresas querem hoje, também é importante avaliar o futuro próximo. É que o avanço tecnológico pode exigir novas habilidades dos profissionais que podem não ser tão valorizadas agora.

Uma tentativa de mapear estas habilidades foi realizada em uma pesquisa conduzida no Instituto de Estudos Avançados Interdisciplinares da UFMG pelo professor Carlos Antônio Leite Brandão. Ele explica que a palavra-chave para o profissional é justamente a interdisciplinariedade. Ou seja, saber interagir com diferentes áreas como meio-ambiente, cultura e internet.

Em relação ao meio-ambiente, Brandão cita algumas áreas que devem crescer:

"A gente pode destacar algumas como a gestão das águas que vai ser o grande recurso do século 21, gerir a água, seja recursos hídricos, seja água do mar, seja a interface entre a água e as culturas, as populações que vivem da agricultura. Então, isso é fundamental. A questão da energia, claro, sobretudo a questão das energias alternativas; o que implica, inclusive, em questões não só como produção de energia como também de distribuição de energia. Por exemplo, produção de energia através de materiais que são capazes de, por exemplo, a bota de um soldado no deserto é capaz de gerar uma determinada energia capaz de carregar o celular deste soldado. Há uma questão de energia que está afeta também a uma tecnologia de materiais. Eu posso ir para outro campo, por exemplo. A questão do lixólogo. O lixólogo é o especialista em resíduos sejam eles sólidos, líquidos ou gasosos. Então, este especialista em gerir os resíduos, seja reciclagem que a gente faz com lixo de casa; mas também os resíduos de satélites, microsatélites que pesam menos de nove quilos que desabam aí cotidianamente no planeta; ou então resíduos hospitalares, radioativos. Então esses especialistas em resíduos serão fundamentais".

Em outra parte do trabalho, também foram citadas profissões antigas que vão sofrer novas abordagens, como a medicina, e a necessidade de o profissional ter uma nova formação ética:

"Passando para outro campo, por exemplo, da medicina, a gente pode falar do nanocirurgião. Nós estamos aí na produção já de nanorobôs, robôs na escala nanométrica que poderiam, por exemplo, ser injetados nas artérias de um paciente que, por exemplo, um câncer ou uma obstrução arterial que poderia dar em um AVC. Nós teríamos então um nanocirurgião que ele operaria este robozinho por dentro das artérias para desobstruir ou para atacar um determinado tumor e junto com este nanocirurgião, nós teríamos aí um criador de nanorobôs e ao mesmo tempo o mantenedor de nanorobôs. Além disso poderíamos enfatizar na área de humanas uma série de impasses no campo da ética, no campo do humanismo como, por exemplo, com o advento da biotecnologia, a possibilidade de criar próteses artificiais da memória, de tecidos celulares. E aí nós temos um grande impasse, desafios na questão ética. Mas sobretudo nosso grande impasse é como, dentro de um século extremamente tecnológico, introduzir valores humanistas, culturais, éticos que sejam capazes pautar e delimitar este desenvolvimento tecnológico, inclusive do ponto de vista do meio ambiente".

Brandão explica que tavez as universidades ainda não estejam preparadas para lidar com estas mudanças porque têm uma tradição voltada para a especialização. Mas afirma que elas serão obrigadas a isso. Em termos de políticas públicas, o professor acredita que os recursos públicos terão que valorizar o lado humano da capacitação dos profissionais em um mundo que o lado tecnológico já estaria muito valorizado.

De Brasília, Sílvia Mugnatto

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