Rádio Câmara

Reportagem Especial

Ajuda Humanitária 3 - O trabalho dos médicos sem fronteiras (08'13'')

25/01/2010 - 00h00

  • Ajuda Humanitária 3 - O trabalho dos médicos sem fronteiras (08'13'')

A organização Médicos Sem Fronteiras surgiu em 1971 por iniciativa de médicos e jornalistas franceses inconformados com as limitações do trabalho humanitário durante a guerra civil da Nigéria. Milhares de pessoas morriam na região de Biafra enquanto vários voluntários viam suas ações emperradas por causa da falta de acordo com as partes em conflito e da burocracia das autoridades locais. A primeira ação humanitária dos Médicos Sem Fronteiras ocorreu em 1972, na Nicarágua, devastada por um terremoto. Já em campos de guerra, o primeiro trabalho de socorro às vítimas aconteceu na fase final da Guerra do Vietnã, em 1975.

O carioca Paulo Reis já trabalhou em diversos projetos dos Médicos Sem Fronteiras. Ele é clínico geral, tem 37 anos e prestou ajuda humanitária em países da África e da Ásia atingidos por guerra civil. Entre eles, estão Serra Leoa, Sudão, Libéria e Papua, província da Indonésia. Paulo Reis ressalta que o objetivo da organização é levar ajuda a quem precisa, independentemente de interesses políticos, religiosos e étnicos.

"A gente tem um símbolo específico, que parece um bonequinho correndo com umas listras vermelhas, que tem toda uma simbologia. Esse é o único símbolo que a gente usa. O símbolo, para a gente, é bastante importante porque a maior segurança que a gente tem no campo é o nosso nome. Então, o símbolo demonstra quem nós somos. Na verdade, esse símbolo é super importante porque é o nosso protetor. Geralmente, quando eles vêem o símbolo, eles sabem que esse grupo não está ligado com o governo, não está ligado com ninguém e geralmente não tem muito problema".

Atualmente, 25 brasileiros participam dos trabalhos humanitários dos Médicos Sem Fronteiras no mundo. Além de África e Ásia, a América Latina costuma ser o destino dessas ações. E não são apenas profissionais de saúde que têm sido recrutados pela organização. A diretora-executiva dos Médicos Sem Fronteiras no Brasil, Simone Rocha, explica que profissionais de todas as áreas são muito bem-vindos.

"Para manter, por exemplo, uma estrutura de saúde, muitas vezes precisa-se de um administrador, de um contador, de um engenheiro. Para trabalhar nos Médicos Sem Fronteiras, no mundo todo, a gente recruta profissionais das mais diversas áreas. Claro que, em grande medida, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, mas também temos engenheiros da parte de água e saneamento, engenheiro civil, administradores, enfim, tudo o que é necessário para fazer uma estrutura de logística, que é muito grande e pesada para funcionar num dado país do mundo."

Os números da ajuda humanitária dos Médicos Sem Fronteiras impressionam. Só no período entre julho de 2007 e julho de 2008, a organização realizou 27 milhões de atendimentos de saúde em todo o mundo. Malária, desnutrição e doenças infecciosas lideram a lista dos problemas de saúde registrados no pós-guerra ou pós-catástrofe. Em período de apenas um ano, os médicos realizaram ainda quase 13 mil atendimentos ligados à violência sexual e 54 mil intervenções cirúrgicas, situações que o médico Paulo Reis experimentou bem de perto.

"Eu já peguei pessoa atingida por bala, criança que achou explosivo e o explosivo explodiu. Esse tipo de coisa aconteceu no Sudão. Era um período de pós-conflito. Muita gente ainda tem arma e ainda tem metralhadora. Ainda tem conflito local, mas não é mais guerra civil. Mas como a população ainda é armada e está acostumada com violência, (o cara) vai se vingar ou vai acontecer alguma coisa, o cara usa uma metralhadora. E tem muita munição e explosivo largado que, às vezes, a criança acha em locais que não foram desminados".

No Brasil, os Médicos Sem Fronteiras estão presentes desde 1991. Inicialmente, a organização ajudou o Ministério da Saúde a conter uma epidemia de cólera na Amazônia e depois desenvolveu projetos de saúde preventiva para os índios da região. Em 2002, equipes se deslocaram até o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, para socorrer vítimas de enchentes.

A atuação dos Médicos Sem Fronteiras é mais intensa junto às comunidades carentes do Rio de Janeiro. Os projetos vão desde prevenção à Aids e apoio a crianças que vivem nas ruas até a instalação de um posto de emergência dentro do Complexo de favelas do Alemão, na zona norte da cidade, como explica o médico Paulo Reis.

"No Complexo do Alemão, a unidade que temos lá é de atendimento de emergência. Como é uma área muito violenta, é difícil qualquer serviço de emergência entrar na comunidade para resgatar alguém. E, se for noite ou durante algum tiroteio, a população não pode se mover. Não adianta chamar os bombeiros ou o Samu porque eles não vão conseguir entrar. Não que eles não queiram, é que eles não vão conseguir entrar. Então, a gente fez essa unidade para dar essa opção de a pessoa ter algum lugar para ir e ter algum atendimento".

Todas as iniciativas dos Médicos Sem Fronteiras no Brasil tiveram continuidade. Ao mesmo tempo em que inicia uma ação humanitária, a organização procura identificar órgãos públicos ou ONGs que viabilizem a manutenção do trabalho após o período emergencial. Além do reconhecimento de milhares de pessoas em todo o mundo que receberam a ajuda humanitária, os Médicos Sem Fronteiras foram formalmente agraciados com o Prêmio Nobel da Paz de 1999.

"Cada día cruzamos fronteras. Trabajamos para curarle a él y a los demás. Luchamos contra enfermedades que ya nadie recuerda. Hoy llegamos hasta donde se haya falta para hacer oír nuestra voz. Cada día intentamos superar cualquier frontera para salvar vidas, pero hay una que no podemos vencer solos, la que nos separa de tí. Cruza la frontera y hazte sócio de Médicos Sin Fronteras. Contigo prestaremos asisténcia médica y humanitária a quién más lo necesita con independencia de poderes políticos y económicos. Ayúdanos a continuar superando fronteras. Médicos Sin Fronteras".

Este anúncio que você acaba de ouvir é dos Médicos Sem Fronteiras da Espanha. O site da organização no Brasil é o www.msf.org.br e traz todas as informações para quem quiser doar dinheiro em apoio às ações dos Médicos Sem Fronteiras. As doações podem ser mensais ou pagas em única vez. A equipe brasileira é formada essencialmente por profissionais contratados, mas há vagas para atividades complementares que podem ser feitas por voluntários. Além do site www.msf.org.br, informe-se também pelo telefone 21-2215-8688.

De Brasília, José Carlos Oliveira

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