Rádio Câmara

Reportagem Especial

A hora do café: a paixão do brasileiro e a situação do setor cafeeiro

04/01/2010 - 00h00

O significado do café para a economia brasileira, os problemas do setor, perspectivas de novos negócios e pesquisas. É o que você acompanha na terceira reportagem
Os números mostram a paixão pelo café. Mais de 160 países no mundo recebem o café brasileiro, como destaca o diretor-executivo da ABIC, a Associação Brasileira da Indústria do Café, Natan Herszkowicz.

"Um terço de cada xícara de café que é consumida diariamente no mundo todo contém café brasileiro. Por outro lado, internamente os brasileiros consomem mais de 18 milhões de sacas de café fazendo com que o Brasil seja o segundo maior país consumidor de café em todo o mundo, só perdemos para os Estados Unidos. Cada brasileiro consome em média cerca de 78 litros de café por ano."

Segundo a ABIC, o café é uma quase unanimidade no país, consumido por 97% da população acima de 15 anos. Nos próximos três anos, a expectativa é que o Brasil se transforme no maior consumidor mundial. Além disso, o país observa o crescimento do consumo no mundo.

"As perspectivas futuras continuam sendo boas para o Brasil porque o mundo está aumentando o consumo de café. Países que antes não consumiam café, como os países asiáticos - China, Tailândia, Coréia, Índia - são países que estão começando a aumentar o consumo de café. Então nos próximos 20, 30 anos, o mundo vai precisar de mais grão, de mais café, e o Brasil é o país que pode suprir essa demanda mundial."

Segundo a ABIC, o problema do setor cafeeiro é que, nos últimos anos, os preços para os consumidores não cobrem os custos de produção. Mesmo com essa perspectiva mundial positiva, o setor vivencia um endividamento crônico, como destaca o presidente da Frente Parlamentar do Café, deputado Carlos Melles, do DEM mineiro.

"O custo de produção do café é aproximadamente R$ 320 a saca. E o mercado hoje está praticando um preço médio de R$ 260 a R$ 270. Mas muito dessa pressão e o preço baixo é em função de um endividamento crônico, não só do café, mas da agricultura como um todo."

Diferente dos tempos áureos onde o café ditava o rumo da economia, hoje o produto representa cerca de 3% das exportações. Carlos Melles defende que o governo precisa subsidiar a atividade, considerando que as lavouras desempenham também um papel social. Cerca de 1800 municípios brasileiros têm no café a sua maior fonte de emprego e renda.

"E o café, embora tenha uma área pequena de dois milhões de hectares, perto da soja que é quase trinta milhões de hectares e outras mais, mas o café é o que gera o maior número de empregos no Brasil nessa pequena área, é uma cultura altamente dependente da mão de obra. Então, tem um aspecto social muito forte."

No mês de maio, Carlos Melles e integrantes da cadeia produtiva do café debateram a situação do setor junto ao Ministério da Agricultura. A expectativa é que nas próximas semanas o governo possa implementar soluções para o setor.

Mas os negócios cafeeiros vão muito além da bebida. Junto com uma amiga, a bioquímica Vanessa Araújo abriu a Kapeh, uma empresa de cosméticos. Kapeh significa café no dialeto maia, e as profecias indicam que os negócios irão muito bem.

Com seus produtos com o aroma de café, Vanessa foi finalista de um prêmio da ONU que destaca mulheres empreendedoras. A empresa quer conquistar o mercado interno, mas o fama do café brasileiro ajudou a iniciar as exportações.

"Enviamos remessas para Portugal e Holanda. O nosso foco maior é o mercado interno, por que o Brasil é o terceiro maior mercado em termos de consumo de cosméticos. Mas é claro que a gente quer aproveitar todas as oportunidades do mercado externo."

E as preocupações com as mudanças climáticas também orientam as perspectivas futuras. Os cafezais preferem climas amenos, sem frio intenso e nem calor excessivo. A Embrapa Café é referência em pesquisas com sementes adaptadas a regiões e climas diferentes daqueles que são naturais para o café, como explica a gerente Mirian Eira:

"Que sejam mais tolerantes à seca, de modo que elas sobrevivam melhor se o espaço entre uma chuva e outra aumentar. Estamos trabalhando com variedade adaptadas a regiões abaixo de mil metros, que é pra você ampliar a sua área produtora."

Com o passar do tempo, as mudanças acontecem na economia, na sociedade e até mesmo no clima. Mas permanece a vontade de tomar um bom cafezinho.

De Brasília, Daniele Lessa

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