Reportagem Especial
Programa Nuclear Brasileiro - Perspectivas para o futuro(03'59'')
16/12/2009 - 00h00
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Programa Nuclear Brasileiro - Perspectivas para o futuro(03'59'')
Desde 2005, o programa nuclear brasileiro tem passado por uma revitalização por causa da necessidade de o país ampliar e diversificar a sua matriz energética. Pelo menos, é isto que o governo justificou para retomar a construção de Angra 3 e planejar outras 4 usinas que devem ficar prontas até 2030.
Até 2005, quem continuou desenvolvendo a tecnologia de maneira ininterrupta foi a Marinha, interessada no submarino de propulsão nuclear, que significará um salto de qualidade no patrulhamento da costa brasileira. É o que explica o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende:
"Ele só não esteve paralisado completamente porque a Marinha nunca deixou de trabalhar nesta área. A Marinha, nestas últimas décadas, fez uma coisa importantíssima. Foi não só dominar a tecnologia, principalmente de enriquecimento de urânio através do processo de ultracentrifugação; mas de aperfeiçoamento, de modo que o Brasil tem hoje uma tecnologia a mais avançada para esta etapa essencial do ciclo de produção do combustível que é o enriquecimento".
Para o ex-ministro da pasta, Roberto Amaral, a falta de uma definição sobre a importância do programa nuclear, acabou trazendo prejuízos para o Estado:
"Não é sério um estado que leva 35 anos para desenvolver... para desenvolver não! Desenvolvendo e não concluindo o desenvolvimento do submarino de propulsão nuclear. Este submarino é importante pura e exclusivamente do ponto de vista da segurança nacional. Mas todos sabem as consequências tecnológicas para o desenvolvimento do país que decorrem do reator para o nosso submarino".
Amaral também cita o caso de Angra 3:
"E ninguém responde, nenhuma instância, não há um funcionário público que se apresente como responsável por este prejuízo. E ninguém calcula o prejuízo dado à União, dado à nação, por um projeto desta ordem estar parado 23 anos com algo mais de 50% de seus equipamentos adquiridos".
Para o ex-ministro, outra parte da culpa está relacionada a dificuldades gerenciais do Estado, que estaria dividido em dois:
"Um estado imcubido de fazer e um estado imcubido de impedir que o estado imcubido de fazer faça alguma coisa".
O fato é que, apesar dos percalços -e do acidente com material hospitalar radioativo que contaminou várias pessoas em Goiânia em 1987- o país tem hoje, segundo o governo, domínio sobre todo o ciclo tecnológico que envolve a energia nuclear, embora não realize todas as etapas no país. O presidente das Indústrias Nucleares do Brasil, Alfredo Tranjan Filho, explica o ciclo de produção do combustível:
"Ele passa pela exploração do urânio e seu beneficiamento, a transformação deste produto em gás -porque só se consegue enriquecer na forma gasosa... Então você transforma em gás e este gás você enriquece. Depois você reconverte para o pó, do pó você faz a pastilha que vai encher aqueles tubinhos que formam o elemento combustível".
A etapa da conversão em gás é feita hoje no Canadá e o país começou em 2009 a enriquecer o urânio no país. Vale lembrar que a energia nuclear é térmica. Aquelas pastilhas de urânio enriquecido sofrem uma fissão nuclear, aquecendo um reator que vai movimentar as turbinas da usina.
De Brasília, Sílvia Mugnatto