Rádio Câmara

Reportagem Especial

Programa Espacial Brasileiro: Pesquisas e aplicações tecnológicas (08'43")

07/12/2009 - 00h00

  • Programa Espacial Brasileiro: Pesquisas e aplicações tecnológicas (08'43")

Dos laboratórios de pesquisa espacial para a casa das pessoas. Esse é um caminho que vem se repetindo nas últimas décadas. O professor de Física da USP de São Carlos, Jarbas Castro, lembra que a obsessão norte-americana de levar o homem à lua deu origem ao computador que usamos hoje no dia-a-dia.

"Então esses microcomputadores que hoje estão na mão de qualquer criança e nos celulares, todo esse desenvolvimento da microeletrônica teve um grande impulso no programa Apollo. Apesar do programa Apollo ter um objetivo bem claro de colocar o homem na lua, ele gerou uma tecnologia que toda a sociedade usa hoje."

E a tecnologia espacial segue se desenvolvendo e sendo aplicada em áreas diferentes. Jarbas Castro também é presidente da empresa Opto Eletrônica, que constrói peças usadas nos satélites Sino- Brasileiros de Recursos Terrestres, os CBERS. Feitos pelo Instituto de Pesquisas Espaciais, o INPE, em parceria com a China, os CBERS são satélites de sensoriamento remoto usados para fazer imagens da Terra. Essas imagens são aplicadas em várias áreas como a agricultura, meio-ambiente e geologia. Jarbas Castro explica que a mesma tecnologia criada para fotografar a Terra é utilizada na medicina, em equipamentos que fazem imagens do olho.

"A gente desenvolve uma câmera, essas câmeras que fotografam lá do espaço a Terra, essa mesma tecnologia a gente utiliza nos equipamentos médicos que a gente fabrica. Exatamente a mesma tecnologia, essa tecnologia de imagem do CBERS, ela está no equipamento que tira foto do fundo do olho com alta precisão pra detectar doenças da visão."

Uma das aplicações mais importantes desse tipo de satélite nos dias de hoje é o mapeamento das áreas desmatadas na Amazônia. Esses equipamentos giram em torno da Terra com uma órbita mais baixa e, dessa forma, captam detalhes muito precisos do solo. Em cerca de cem minutos, cada satélite dá uma volta completa em torno do planeta, captando imagens de diferentes pontos. O presidente do INPE, Gilberto Câmara, destaca algumas aplicações dos satélites de observação.

"A cada quinze dias ele informa todas as novas áreas desmatadas, e isso é feito com o uso de imagem de satélite pelo INPE. Outra coisa que a população está acostumada é ver todo dia na televisão a previsão do tempo. O Brasil tem hoje um sistema moderníssimo de previsão de tempo com uma qualidade bastante boa, com índice de acerto de nove em cada dez previsões que estão certas. Isso sem a tecnologia espacial não seria possível."

Mas esse índice de acerto nas previsões meteorológicas está ameaçado. O Brasil ainda não tem um satélite geostacionário nacional. Esses satélites ficam a cerca de 36 mil quilômetros de altura e são fundamentais para as telecomunicações e para a previsão do tempo. O INPE usa as imagens do satélite norte-americano GOES 10, que vai sair de órbita em dezembro. Os Estados Unidos irão substituí-lo pelo GOES 12, que será posicionado em uma órbita que não capta as imagens do Brasil de forma tão direta. Estimativas apontam que o país pode ter o índice de acerto meteorológico reduzido pela metade. O resultado é que o Brasil está negociando com os Estados Unidos para resolver esse problema, como explica o ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende.

"Então há uma disposição da Agência de meteorologia americana de interagir com o INPE. Houve conversas detalhadas mas não houve uma definição mais detalhada de como será essa cooperação. Nós vamos ficar com uma precisão um pouco menor, mas isso não deve prejudicar o nosso serviço de meteorologia."

Um dos desafios para o Brasil é construir o seu próprio satélite geoestacionário.
Em tempos globais, quem tem informação é rei. Os satélites de observação produzem conteúdo que interessa ao mundo inteiro. O pesquisador do INPE, José Nivaldo Hinckel, lembra que os equipamentos produzem imagens de todos os lugares por onde passam, em todos os continentes. Em função disso, o Brasil faz parceria com outros países para troca ou comercialização de imagens.

"Existe uma quantidade muito grande de satélites no mundo, e cada satélite de observação, independente de quem fez, ele vai observar todo o mundo. O CBERS, ele não passa só sobre o Brasil, ele passa sobre todas as regiões do mundo. Então, é vantajoso, às vezes, você trocar imagens."

Saindo do INPE e indo para o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, o DCTA. Vamos conhecer o foguete brasileiro que está sendo comprado por países da Europa. O VSB-30 é um foguete de sondagem que já recebeu certificação internacional. Esse tipo de equipamento é usado em experimentos em ambientes de microgravidade como aqueles feitos na Estação Espacial Internacional. Mas usar um foguete é muito mais barato do que mandar um astronauta ao espaço, como destaca o presidente da Agência Espacial Brasileira, Carlos Ganem.

"Ele já é comercializado na Alemanha,na Suécia, é ambicionado por países com estado da arte em espaço muito grande, porque ele é bom, bonito, eficiente e muito barato se comparado aos custos de experimentos científicos em ambientes de microgravidade que a gente faça na Estação Espacial."

O diretor do DCTA, Brigadeiro Nicácio, destaca a importância comercial que esse tipo de foguete terá nos próximos anos.

"Existem dados que dizem que nos próximos anos, em torno de 10 a 15 anos, só na área de lançadores, um mercado da ordem de 52 bilhões de dólares no mundo, do qual o Brasil, acredito eu, tem o direito de participar."

Ao sair da Terra, cada foguete lançado leva um certo número de experimentos. Depois eles voltam a cair em terra ou no mar, onde são resgatados pelas equipes de pesquisa. E para que servem esses experimentos em ambientes de microgravidade? O pesquisador do DCTA, Ariovaldo Palmério, explica as aplicações que esses experimentos podem gerar no futuro.

"E lá dentro tem três, quatro experimentos, cada um tentando se beneficiar desse tal ambiente denominado microgravidade. Quando o experimento é submetido a esse ambiente ocorrem certos fenômenos que se revelaram muito interessantes para fins de medicina, metalurgia. Na verdade, se pensa no futuro, ter, por exemplo, um laboratório de produção de medicamento no espaço, em vez de ser na Terra. Por quê? Porque se verificou que as propriedades dos cristais que são desenvolvidos são melhores."

Ariovaldo destaca ainda a importância de se investir a longo prazo nesse tipo de tecnologia.

"O que se recupera disso em termos de educação do povo, trabalho, conhecimento, é espantoso. E é tudo investimento de futuro, não é nada pensando um ano ou dois, nada disso. É pensando trinta cinquenta anos lá na frente."

A energia elétrica e o telefone foram recebidos como milagres na época de seu descobrimento. O mundo de hoje é tão rápido que nem nos damos conta do salto tecnológico que tivemos nos últimos 200 anos. E o futuro do homem é algo desconhecido. Que o tempo nos diga se as fábricas intergalácticas e estações espaciais vão sair da ficção para a realidade.

De Brasília, Daniele Lessa

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