Rádio Câmara

Reportagem Especial

Iniciativas para melhorar o ensino de ciências na escola (07'37'')

03/11/2009 - 00h00

  • Iniciativas para melhorar o ensino de ciências na escola (07'37'')

O astrofísico Thyrso Vilela é diretor da Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira. Com uma vida dedicada à ciência, ele conta que o gosto pelos mistérios do espaço vem desde o tempo de garoto.

"Meu bisavô foi uma das pessoas que começaram a área aeronáutica no país. Então, eu sempre ouvi essas histórias, eu sempre me interessei muito pela parte científica de uma maneira geral, quer dizer, de entender por que as coisas são como são, como as coisas funcionam. E daí, obviamente, na época de jovem, final da década de 60. Estava no auge a corrida espacial e a gente via o quão curiosa é essa área e o que a gente poderia aprender estudando essa área. Realmente, tive uma felicidade de ter o apoio da família nessa carreira."

O estímulo à ciência que Thyrso Vilela recebeu desde a infância ainda não é uma realidade para todos os jovens brasileiros. O próprio ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, reconheceu recentemente, durante a abertura da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que a educação científica passa por dificuldades no país. Tanto é assim que, segundo o ministro, um dos eixos prioritários do plano elaborado pelo governo para o setor são a popularização da ciência e a melhoria do ensino básico na área.

"O Brasil tem hoje cerca de 150 mil pesquisadores, cientistas em áreas de ciência, tecnologia e inovação. Pela proporção da nossa população, para corresponder ao que há nos países industrializados, nós precisávamos ter cerca de 700 mil pesquisadores. Isso quer dizer o seguinte. Temos um grande trabalho para fazer, que é exatamente de formar pesquisadores. Mas para isso precisamos atrair os jovens. E isso depende, primeiro, de a ciência brasileira ser mais conhecida pela sociedade brasileira. Dos jovens estarem vendo exposições, demonstrações de ciência nos vários cantos do Brasil para eles se interessarem. (...) Precisamos ter em cada lugar do Brasil estudantes interessados em ciência, escolas com bom ensino porque, com isso, vamos estar recrutando jovens para serem futuros cientistas em todos os cantos do Brasil. Aí vamos ser também campeões mundiais da ciência."

O Brasil ocupa a 13ª posição no ranking mundial de produção científica, medido pelo número de artigos publicados em revistas científicas de excelência internacional. Apesar de a colocação brasileira vir melhorando a cada ano, outros dados relacionados ao tema despertam preocupação. Na última avaliação internacional sobre aprendizado de ciências, o Pisa 2006, os brasileiros ficaram em 52º lugar. Elaborado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o Pisa avaliou estudantes de 15 anos de idade de 57 nações.

No esforço para mudar a cara do ensino de ciências nas escolas brasileiras, o Ministério da Ciência e Tecnologia tem apostado em algumas práticas para popularizar a divulgação científica e também torná-la mais atraente.

Desde 2004, o ministério organiza a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Neste ano, foram quase 25 mil atividades cadastradas em 472 cidades do país. Aqui em Brasília, o estudante Aron Miranda Rocha Borges, de 10 anos, participou do evento e gostou do que viu.

"Eu fiz um carrinho que é movido ao ar do balão. A gente enche o balão, depois solta e ele é movido pelo ar do balão."

O carrinho-foguete foi feito por Aron com material reciclável, em uma oficina organizada pela Agência Espacial Brasileira. A atividade faz parte do programa AEB Escola, que, entre outras ações, capacita professores no ensino de ciências. Gente como a professora de Geografia Lana da Silveira, de Brasília.

Responsável pelas turmas do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental em um colégio particular da capital federal, Lana participa de cursos de extensão da agência espacial desde 2004. A professora também é voluntária em uma ONG voltada à educação.

O diferencial de seu trabalho, segundo ela, está no ensino por meio de oficinas.

"A gente percebe que, na oficina, eles aprendem melhor. Alguns alunos falam para mim: professora, gosto mais da oficina porque a gente aprende brincando. Eles levam pela brincadeira. Até uma colega falou assim: às vezes, a gente pensa que uma oficina não é levada a sério. A gente pensa que é só uma diversão e acabou ali. Mas, depois da oficina, eles têm que fazer teste, prova. Eu chamo a atenção nas provas e no teste. A oficina do dia tal, a oficina que fizemos no laboratório, como foi? Peço na prova, no teste e eles lembram, gostam. Aí na prova eles fazem, dizem que lembraram. Devido à oficina, eles lembram mais do que a gente fez do que na própria aula tradicional. "

Por enquanto, os cursos de capacitação do programa AEB Escola são feitos apenas em Brasília, mas já existem planos para a expansão do projeto. Outras atividades, como a Olímpiada Brasileira de Astronomia e Astronáutica, atingem todo o país. Neste ano, a competição contou com a participação de mais de 860 mil crianças.

Outras escolas têm apostado nas parcerias com universidades para incrementar o ensino de ciência. O Instei, Centro de Ensino na cidade satélite de Ceilândia, no Distrito Federal, é uma delas. A escola participa do projeto Engama, desenvolvido pelos cursos de Engenharia da Universidade de Brasília no Gama para atrair o interesse de jovens do Ensino Médio para essa área do conhecimento.

Segundo a coordenadora do Engama no Instei, Arquidânea Dunice, o programa permite que o ensino de disciplinas como Matemática, Física, Química e Biologia seja feito de forma mais lúdica.

A participação no projeto é voluntária, como conta Pedro Paulo Van-Els, de 17 anos, aluno do 3º ano do Ensino Médio no Instei.

"O maior incentivo são os alunos mesmo, a galera que quer estudar mais Física, que quer entrar na Unb num curso mais voltado à Física. (...) Esse é o objetivo do projeto. (...) Entrar no curso de engenharia. No meu caso, na minha escola, parece que já está funcionando o projeto, que tem a galera que já está querendo marcar Engenharia, Matemática. (...) Eu mesmo já marquei Engenharia no vestibular."

Nas escolas públicas, outras iniciativas têm dado resultados positivos. A Sociedade Brasileira de Matemática e Instituto de Matemática Pura e Aplicada realizam, desde 2005, a Olímpiada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. A competição envolve a participação de 19 milhões de alunos.

De Brasília, Ana Raquel Macedo

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