Rádio Câmara

Reportagem Especial

O Brasil pós-crise - As expectativas para o futuro (05'52")

26/10/2009 - 00h00

  • O Brasil pós-crise - As expectativas para o futuro (05'52")

Entre os economistas, há um grande debate agora sobre os efeitos da queda do dólar sobre as exportações brasileiras e, por outro lado, se discute a capacidade da economia brasileira crescer sem gerar inflação.

O economista da consultoria Tendências, Felipe Salto, acredita que o aumento dos gastos do governo vai contribuir para um possível aumento dos juros em 2010:

"Ou seja, como as despesas rígidas também cresceram, quando a economia voltar a crescer no médio prazo você vai ter duas pressões: a da economia doméstica do setor privado, que vai estar pressionando a demanda agregada, e a do setor público, com o consumo do governo elevado, que vai continuar elevado. Então tem duas saídas: ou o próximo governo adota um ajuste fiscal que reduza estas pressões, ou de novo a taxa de juros vai ter que subir. No cenário de que ela vai ter que subir, a Tendências vê que a partir de setembro do ano que vem, esta necessidade de aumentar juros já vai existir".

Segundo Felipe, um ajuste pelo lado governamental possibilitaria ao país taxas maiores de crescimento nos próximos anos:

"Pelo nosso cenário, o Brasil deve crescer nos próximos anos - se não houver mudanças estruturais, etc- deve ficar limitado a um crescimento em torno de 4%, ou abaixo disto, 3,5%.

Para que esta taxa seja elevada sem gerar inflação; ou sem correr o risco de superar sistematicamente as metas de inflação, não cumprir as metas de inflação; é preciso que o governo faça as reformas fiscais".

Mas o consultor Amir Khair afirma que a inflação não deve surpreender de novo:

"A Selic, no meu ponto de vista, tende a ficar comportada nos próximos anos porque nós estamos com um equilíbrio inflacionário importante. Eu não vejo nenhum risco inflacionário, mesmo porque o mundo está preocupado é com deflação e não com inflação".

A divergência de opiniões motivou até um comentário curioso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre uma ala de economistas que prevêem um crescimento superior a 5% para o país em 2010:

"Eu não acho também que nós vamos ter no ano que vem um crescimento acima de 5%, como estão dizendo. Eu acho que a trajetória é consistente com o que está sendo planejado. A recuperação este ano é consistente com 1% de crescimento até o final do ano, mas a primeira parte do ano foi dura, foi difícil, foi uma recuperação a partir de uma queda forte da economia. Então não se sustenta a ideia que nós estaremos crescendo acima destas expectativas. Está havendo, a meu ver, excesso de otimismo em relação a isto".

O boletim do Banco Central que faz uma média das projeções do mercado indicava, em meados de outubro, uma inflação de 4,41% em 2010, um pouco acima da prevista para este ano. Mas também apostava em uma aumento da taxa de juros básica de 8,75% ao ano para 10,5% em 2010.

Outro tipo de crítica é feita pelo consultor Amir Khair em relação ao aumento das reservas internacionais brasileiras, hoje em torno de US$ 230 bilhões:

"As reservas, como elas estão atreladas ao dólar fundamentalmente, elas vão perder com o tempo cada vez mais valor. Porque o dólar, a tendência mundial do dólar é perder força perante às outras moedas e o preços das outras commodities. Então, eu não vejo sentido no país continuar comprando reservas, mesmo porque se você tem reservas mais fortes você atrai mais capital. Ou seja, você atrai mais dólar para cá, consequentemente, obriga o Banco Central a comprar mais reservas".

Além da queda do dólar, as reservas rendem juros baixos em comparação com os juros que são cobrados pelo mercado para a rolagem da dívida em reais, que é feita para a compra destes dólares.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem afirmado, porém, que as reservas ajudaram o país a enfrentar o pior da crise no final de 2008.

Nos próximos anos, um outro desafio será lidar com a riqueza que será gerada pela exploração de petróleo na camada do pré-sal. Para Giambiagi, independentemente do modelo de exporação, é preciso saber usar o dinheiro:

"Um desafio tecnológico, estamos falando de conseguir extrair petróleo a 300 km da costa, a 7 km de profundidade, em terreno não explorado, com uma série de perigos. Um desafio logístico significativo ter uma grande quantidade de gente em alto mar para fazer a extração... Mas principalmente o desafio maior é fazer com que o país continue se beneficiando destes recursos, uma vez eles tendo se esgotado daqui a 20, 30 anos. Ou seja, temos que usar estes recursos para que sejam investidos em potencialidades para o dia em que o petróleo acabar".

O governo propõe um modelo que beneficie setores como educação e ciência e tecnologia de forma direta, concentrando a operação nas mãos da Petrobras.

De Brasília, Sílvia Mugnatto

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