Rádio Câmara

Reportagem Especial

Amazônia Azul - O desconhecido território aquático (07'01")

07/09/2009 - 00h00

  • Amazônia Azul - O desconhecido território aquático (07'01")

O Brasil tem no mar uma área que equivale à metade da extensão do nosso território terrestre. Fonte de alimentos, energia, fármacos, lazer, além de importante via de transporte, a chamada Amazônia Azul também abriga alguns dos grandes desafios nacionais: conhecer e usar racionalmente tais riquezas.

Pesquisadores e especialistas em recursos marinhos são unânimes em pedir mais atenção às nossas águas.

O comandante da Marinha, Flávio Giacomazi, defende que o país se lance ao mar para saber o que abriga. Mas um dos principais entraves é a falta de estrutura para a pesquisa em campo.

"Uma das dificuldades que temos para pesquisa no mar é a falta de navios apropriados para o desenvolvimento da pesquisa. As universidades brasileiras e os institutos de pesquisa não têm estrutura para manter navios e para ter navios de pesquisa. A tripulação é cara, o quantitativo de tripulantes normalmente é grande, os custos são altos"

Apesar de possuir poucos navios adequados para pesquisa, a Marinha é uma das principais apoiadoras dos estudos em campo, colocando suas embarcações à disposição da comunidade científica.

Mesmo sem precisar ir tão longe no mar para desenvolver suas pesquisas sobre geração de energia a partir das ondas, o engenheiro Eliab Beserra tem a mesma percepção que o comandante da Marinha.

"É um mundo, uma imensidão em todas as formas. O Brasil hoje, com seu mar territorial, possui no mar uma superfície equivalente à metade do que ele possui em terra. A gente diria, é nosso, mas não dominado, nós não estamos sobre essa superfície determinando o nosso poder e a nossa utilidade com relação a esse novo universo que é o mar, essa Amazônia Azul. Eu acho que a gente está em um bom momento pra que a gente possa verdadeiramente pomar posse e ser conhecedor um pouco mais do nosso mar e de tudo aquilo que ele pode nos oferecer"

O potencial pesqueiro do país já foi levantado pelo Revizee, um amplo trabalho de mapeamento que durou quase dez anos, envolvendo centenas de pesquisadores de diversas universidades e instituições. Os estudos em outras áreas, no entanto, como o desenvolvimento de fármacos, ainda engatinham.

Mas para o químico da Universidade de São Paulo, Roberto Berlinck, o desafio vai além de conhecer o que temos. É necessário saber como queremos que esses recursos sejam usados. Ele cita a indústria turística como um exemplo disso.

"As regiões que vivem do turismo costeiro, se houver um empenho do poder público de forma séria, o próprio poder público só tem a ganhar, você vai ter ambientes muito mais apropriados para a visita de turistas, isso só vai gerar renda. Por exemplo: no Havaí, é proibido se instalar qualquer tipo de indústria que gere resíduo pro mar, então o arquipélago do Havaí é totalmente preservado. É óbvio que só com planejamento, só com estratégia e conhecimento é que você vai poder implementar uma política pública de conservação dessas áreas que são de altíssimo interesse econômico e social"

Já o biólogo e oceanógrafo Frederico Brandini, do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná, critica a percepção de que o universo marinho é apenas uma fonte de riquezas a serem exploradas.

"As pessoas não têm essa visão, acham que mar é um lugar de garimpo, um lugar simplesmente para extrair proteína fácil. Pescar nada mais é que caçar peixe. E infelizmente no mar hoje a gente retira 100 milhões de toneladas, isso equivale a mais ou menos 44 maracanãs cheios até a boca de peixe. É isso que se tira do mar todos os anos e não se coloca nada de volta, a não ser poluição, plástico, produtos químicos, todo tipo de porcaria. Infelizmente, por causa da lei da gravidade, tudo o que o homem produz na nossa sociedade industrial vai parar no mar. O mar sofre com isso, e recursos marinhos estão sendo desperdiçados"

Brandini defende uma ideia radical: que todos os oceanos sejam considerados áreas de proteção, por serem ecossistemas que abrigam grande biodiversidade, além de terem relação direta com o clima e a socioeconomia dos países.

Mas a bandeira levantada pelo oceanógrafo está mais do que longe de ser alcançada. Em todo o planeta, só 1% das águas marinhas estão protegidas. Aqui no Brasil, os números são ainda piores: apenas 0,4% dos mares brasileiros são unidades de conservação.

Conservar os recursos naturais presentes na costa brasileira é um desafio que envolve principalmente as diversas instâncias de governo.

Mas a sociedade tem um papel importante nesta tarefa, como destaca a bióloga e coordenadora da Campanha Oceanos do Greenpeace, Leandra Gonçalves.

"Não consumir espécies de peixes que estão ameaçadas, algumas são encontradas no site do Greenpeace, não jogar lixo na praia, sabendo que esse lixo que é jogado na areia ele vai parar nos oceanos depois e faz parte dessa grande mancha de lixo que a gente tem hoje nos oceanos. O cidadão pode não comprar artesanato feito com espécies marinhas, normalmente essas espécies são espécies ameaçadas. Pode também exigir do governo políticas públicas voltadas à conservação dos oceanos, investir em energias renováveis, trocar suas lâmpadas em casa por lâmpadas mais econômicas. Na verdade, ações que a gente pratica hoje, no dia-a-dia, para o meio ambiente elas estão totalmente relacionadas, então até mesmo você usar carona, transporte público, você tá ajudando a reduzir emissão de CO², esse CO² que, com certeza, está impactando nossos oceanos"

Ao longo desta semana, você conferiu um apanhado sobre as riquezas presentes na Amazônia Azul, as pesquisas em curso e as principais ameaças à conservação desse patrimônio.

Mas além de deter tantos recursos e inspitar tantos cuidados, o mar é, sem dúvida, uma das principais fontes de inspiração dos artistas. Por isso, essa série termina com a canção preferida daquele que tanto se inspirou nas águas marinhas: o mestre Dorival Caymmi.

"O mar quando quebra na praia é bonito, é bonito. O mar... pescador quando sai nunca sabe se volta nem sabe se fica. Quanta gente perdeu seus maridos, seus filhos nas ondas do mar, o mar quando quebra na praia é bonito, é bonito..."

De Brasília, Mônica Montenegro

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

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