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Reportagem Especial

Bicicleta: pedalada segura e saudável - Primeira parte (07'32")

07/07/2009 - 00h00

  • Bicicleta: pedalada segura e saudável - Primeira parte (07'32")

Há muita controvérsia sobre a história da invenção da bicicleta. A teoria mais aceita mostra a evolução dos veículos de duas rodas a partir do fim do século 18.

Naquela época, surgiu o celerífero francês: uma geringonça de duas rodas ligadas por ponte de madeira e movida pelo impulso dos pés sobre o chão. Já no início do século 19, a Alemanha apresentava a draisiana, que nada mais era do que o mesmo celerífero, mas com guidão.

O pedal só apareceu em 1855, inventado pelo francês Ernest Michaux. Inicialmente, o novo equipamento foi colocado na roda dianteira de um veículo que tinha outras duas rodas traseiras e que ganhou o nome de velocípede.

A primeira bicicleta movida por um mecanismo de pedal, com pedivela giratório na roda da frente, também é invenção francesa: o pioneiro foi Pierre Lallement em 1862. Posteriormente, foram introduzidos a corrente, o pneu e o sistema de pedal ligado à roda traseira, que juntos garantiram maior velocidade, flexibilidade e conforto às bicicletas.

Essa novidade chegou ao Brasil no fim do século XIX, importada da Europa, e logo caiu no gosto da população.

Nos últimos anos, cresceu muito o uso da bicicleta como esporte, meio de transporte ou simplesmente lazer.

Para as crianças, é um dos presentes mais aguardados em datas especiais, como aniversário e Natal. O menino João Pedro, por exemplo, tem 12 anos, superou sem problemas a fase dos tombos e já curte, ao lado dos pais, os primeiros passeios mais longos de bicicleta pelas trilhas de Brasília.

"Comecei no fim do ano passado. De vez em quando meu pai me leva para fazer as trilhas. Eu amo pedalar, eu amo pedalar".

A paixão que João Pedro tem pelas magrelas vem de berço. O pai, o engenheiro Sérgio de Moraes, usa a bicicleta no dia-a-dia, inclusive para ir ao trabalho. Para ele, essa é uma típica opção em que se pode unir o útil ao agradável.

"Eu gosto e a minha esposa gosta e a gente fez essa opção para a nossa prática física e também para o nosso lazer".

A mãe de João Pedro, a fonoaudióloga Aline Areias, conta que a bicicleta se transformou mesmo em uma opção de família.

"Tenho dois menores que também pedalam com a gente em distâncias menores. Acho que é uma opção prazerosa para a gente e é um momento gostoso em família. É uma coisa por esporte, por lazer. Mas acho que é uma atividade em que tenho também a oportunidade de ensinar coisas para eles: ensinar bons hábitos de alimentação, bons hábitos de atividade física, bons hábitos em relação à saúde, em relação ao ambiente. É só começar e não tem como parar".

Não existem dados oficiais sobre o número de bicicletas em circulação no Brasil, mas estima-se que seja algo entre 60 e 70 milhões.

Só para se ter uma idéia da dimensão desse número, a frota nacional de automóveis é de pouco mais de 32 milhões de veículos e a de motos não chega a 12 milhões, segundo o Departamento Nacional de Trânsito.

O Brasil só começou a fabricar bicicletas após a Segunda Guerra Mundial. A primeira indústria do setor surgiu em 1948.

Hoje o país já é o terceiro maior fabricante do mundo, com a produção de 5 milhões e meio de bicicletas por ano, de acordo com a Abraciclo, a associação nacional dos fabricantes.

O país só fica atrás da China, que fabrica 80 milhões de bicicletas por ano, e da Índia, que tem produção anual de quase 12 milhões de unidades.

Outro detalhe importante: as 5 milhões e 500 mil bicicletas produzidas anualmente no Brasil são exclusivamente destinadas ao mercado interno.

Ainda de acordo com a Abraciclo, 50% delas são usadas como meio de transporte, 32% vão para o público infantil, 17% são destinadas a recreação e lazer e apenas 1% vai para esportes de competição.

O uso das bicicletas como meio de transporte, que era um fenômeno mais típico das pequenas cidades do interior, é hoje uma realidade também presente nas capitais, sobretudo nas periferias e nas áreas industriais.

O vice-prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Muniz, que acumula o cargo de secretário municipal de Meio Ambiente, confirma e incentiva essa mudança de hábito nas grandes cidades.

"A bicicleta é uma alternativa de transporte que não deve ser vista simplesmente como uma opção de lazer. Ela é um instrumento e um transporte sustentável e não poluente. É muito importante que ela seja disseminada em todo o país".

Clever de Almeida, presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, também reafirma a tendência.

"A gente tem feito bastante pela bicicleta já há alguns anos, aqui em Curitiba. Nós temos 120 Km de ciclovias na cidade de Curitiba, que nasceram lá na década de 70 mais com o objetivo de ligar parques da cidade, ou seja, um objetivo de lazer, e ao longo do tempo a gente veio trazendo essas ciclovias para o ambiente das vias públicas, com o objetivo da utilização da bicicleta como um meio de transporte no dia-a-dia das pessoas".

A veterinária Nara Benato costumava pedalar com tranquilidade pelas ruas de Jaboticabal, no interior de São Paulo, sobretudo no período em que estava na faculdade.

Quando se mudou para Brasília, a bicicleta foi praticamente aposentada. Mas, recentemente, Nara redescobriu o prazer de pedalar, mesmo diante de um sistema de trânsito urbano que ainda não dá o devido respeito ao ciclista.

"Durante a faculdade, eu utilizava a bicicleta como locomoção. Era mais locomoção do que esporte. Então, eu andava todo dia. De vez em quando a gente fazia algumas trilhas. E aí, depois, a bicicleta ficou um bom tempo parada: uns cinco ou seis anos, ela ficou parada. No fim do ano passado, eu retomei a pedalar com o pessoal aqui em Brasília".

O "pessoal" a que Nara Benato se refere pertence a grupos de ciclistas que, assim como ocorre em várias outras grandes cidades do país, saem para pedalar em conjunto por ruas, estradas e trilhas, em atividades de cicloturismo e de passeio.

Juntos, solidários e conscientes das regras de trânsito, esses ciclistas se sentem mais seguros para extravasar a paixão pela bicicleta.

De Brasília, José Carlos Oliveira

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