Rádio Câmara

Reportagem Especial

Teotônio Vilela foi precursor da luta pela redemocratização do Brasil (06'44'')

13/04/2009 - 00h00

  • Teotônio Vilela foi precursor da luta pela redemocratização do Brasil (06'44'')

O Brasil, nos fins dos anos 70 e início da década de 80, apresentava sinais de cansaço do regime militar, que vigorava no país desde 1964.

Em 1979, o presidente Figueiredo assinava a Lei da Anistia, que permitiu o retorno ao país de exilados, como Leonel Brizola e Miguel Arraes. No ano seguinte, eram restabelecidas as eleições diretas para governadores de Estado.

Nesse cenário, um ex-defensor do regime militar começava a despontar como um defensor da liberdade. Teotônio Vilela foi eleito senador pela Arena, partido dos militares, mas a repressão e a truculência do regime desagradaram o usineiro de Alagoas, que mudou-se para o partido de oposição.

No MDB, assumiu a defesa incessante dos perseguidos políticos, visitando prisões, enfrentando forças repressoras e fazendo pregações cívicas por todo o Brasil.

Começou a ser chamado de Menestrel das Alagoas, o que lhe rendeu uma homenagem até de Milton Nascimento e Fernando Brant.

O filho do Menestrel das Alagoas, Teotônio Vilela Filho, é hoje governador de Alagoas e tem belas recordações de quando seu pai estava engajado na luta contra a ditadura.

Teotônio Vilela Filho lembra que o cartunista Henfil era um companheiro querido de seu pai, ambos doentes, e conta uma passagem em que os dois discutiam estratégias para mobilizar a população pelo restabelecimento da democracia em nosso país:

"O Henfil disse: 'Olha Teotônio, nós vamos fazer uma marcha. A gente sai de São Paulo e vai até Brasília, caminhando, e o povo vai começando a acompanhar, quando a gente chegar em Brasília, já vamos estar com um milhão de pessoas'. Aí meu pai dizia: 'Mas Henfil, você não consegue caminhar direito, ainda por cima vai me carregar?'. Ele dizia: 'Vou te empurrando numa cadeira de rodas'. Eles eram dois loucos maravilhosos, e combinaram isso até que os médicos dos dois os dissuadiram, disseram que aquilo não podia, que eles iam morrer nessa caminhada."

Ele se orgulha de que, em cada cidadezinha do país que já visitou, foi convidado a conhecer uma rua, uma praça, uma escola dedicada a seu pai.

Teotônio Vilela Filho lembra com carinho da música "Menestrel das Alagoas".

Em janeiro de 1983, já restabelecido o pluripartidarismo no país, o MDB havia se transformado no PMDB. Partido do deputado mato-grossense Dante de Oliveira, que apresentou no Congresso Nacional uma emenda restabelecendo as eleições diretas para a Presidência da República.

A proposta entrou para a história como a emenda Dante de Oliveira. Dante morreu em 2006, mas numa entrevista dada à TV Câmara, ele dizia que a reação do povo sempre surpreendeu a todos os políticos da época.

"Depois de 20 anos de ditadura, já havia um certo esgotamento da sociedade com aquele ciclo militar, cada hora era um que saía e entrava outro. O descontentamento com a inflação, com desemprego, enfim, este projeto pode se encaixar no momento histórico em que queria se ver livre da ditadura. Eu tenho muito orgulho de dizer que este que foi o maior movimento cívico que este povo brasileiro já fez em toda a sua história, nasceu aqui no Congresso Nacional."

A deputada Thelma de Oliveira, do PSDB de Mato Grosso, é viúva de Dante de Oliveira, e confirma que toda a mobilização das Diretas Já foi muito além do que o próprio Dante esperava acontecer.

Para ela, seu marido soube canalizar o desejo de democracia da população ao elaborar a emenda:

"Eu acho que o Dante soube captar esse sentimento e colocou isso numa emenda, agora, ele próprio não esperava que fosse ter uma aceitação tão grande, que a população fosse se envolver da forma como se envolveu. Eu entendo que foi o maior movimento de massas, de mobilização, que já aconteceu no nosso país."

Depois da apresentação da emenda Dante de Oliveira, a semente estava lançada. E todo o movimento pelas Diretas foi crescendo e se espalhando pelo país.

Em junho de 1983, os governadores de São Paulo, Franco Montoro; do Rio de Janeiro, Leonel Brizola; e o presidente nacional do PT, Luís Inácio Lula da Silva, reuniram-se para articular uma frente suprapartidária pela volta das eleições diretas.

Em 27 de novembro de 1983, em São Paulo, uma manifestação organizada pelo PT e entidades da sociedade civil reuniu cerca de 10 mil pessoas pelas eleições diretas.

Estava lançada a campanha das Diretas Já. E por uma artimanha do destino, justamente nesse dia, morria de câncer Teotônio Vilela, o Menestrel das Alagoas.

De Brasília, Adriana Magalhães.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

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