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Reportagem Especial

Câmara quer mobilizar sociedade para a importância da doação de medula óssea - Bloco 3 (08'42'')

19/02/2009 - 00h00

  • Câmara quer mobilizar sociedade para a importância da doação de medula óssea - Bloco 3 (08'42'')

De vez em quando, vemos na mídia campanhas em prol da doação de sangue. Mas você já viu alguma campanha pela doação de medula óssea? Você sabe o que fazer para doar a medula? Você já ouviu falar que, para fazer parte do cadastro de medula óssea, basta tirar 10 mililitros de sangue? Para mudar a realidade brasileira de desconhecimento dos benefícios desse tipo de doação é que o deputado Beto Albuquerque, do PSB gaúcho, apresentou, no ano passado, um projeto criando a Semana de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea. Ele elaborou o projeto baseado em seu drama pessoal: seu filho Pietro tinha leucemia e lutava para encontrar um doador de medula óssea para curá-lo da doença. Pietro morreu no dia 3 de fevereiro, e no dia seguinte, a Câmara aprovou o projeto, que dedica a semana de 14 a 21 de dezembro a atividades de esclarecimento e incentivo à doação de medula óssea. A lei servirá como instrumento de mobilização nacional para despertar a solidariedade no coração do brasileiro, diz o deputado.

"E vamos usar a mídia comercial ou não, educativa, como fonte de esclarecimento, para que a leucemia não continue sendo aquilo que foi para mim: um meio de fazer um pai enterrar um filho. Um meio de fazer um filho morrer antes do pai, que é um crime, do ponto de vista dos sentimentos, e que milhares, todos os anos, acabam convivendo com isso. O Congresso dá uma resposta que a mim conforta, como alguém que perdeu um filho ... com leucemia, porque não achamos um doador compatível no Brasil, e que nós vamos fazer algo por aqueles que um dia vão atravessar esse calvário também."

O diretor do centro de transplante de medula óssea e Coordenador Médico do Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário, do Instituto Nacional do Câncer - Inca, Luís Fernando Bouzas, explica que, para se cadastrar na rede de doadores de medula óssea, chamada de Redome, o candidato deve estar em boas condições de saúde e ter entre 18 e 55 anos. Basta procurar o Hemocentro da cidade onde mora e preencher um formulário, onde será colhida uma pequena amostra de sangue. Esse sangue será testado e fará parte de um banco nacional. Se, por acaso, um paciente for compatível com o doador, ele será chamado e convidado a realizar o transplante propriamente dito. O diretor do centro de transplante do Inca, Luís Fernando Bouzas, explica que existem dois métodos para o transplante de medula.

"O método que a gente chama de tradicional, é feito sob anestesia, no centro cirúrgico, e são feitas punções com agulha nos ossos da bacia, na região posterior. Existe um outro procedimento, que é chamado de coleta por aférese de sangue periférico, que é feito no serviço de hemoterapia ou no banco de sangue, em que o doador recebe uma medicação durante 5 dias e depois desse tempo, a célula tronco que está na medula óssea passa a circular no sangue periférico, então com uma máquina no banco de sangue a gente coleta a célula, então ele não precisa ir ao centro cirúrgico, fazer anestesia. Então existem esses dois métodos, os dois são seguros e não deixam nenhum tipo de sequela para o doador. A recuperação do doador é rápida, na primeira semana ele já pode retornar às atividades normais, em torno de 15 dias ele está com a medula óssea que ele doou completamente reconstituída."

Para o militar da reserva Edvaldo Gama, ter doado sua medula óssea e, provavelmente, ter contribuído para salvar a vida de alguém, é motivo de muita felicidade. Em 2005, Edvaldo já era cadastrado na rede de doadores de medula óssea há cerca de dez anos quando recebeu um telefonema informando que havia um receptor compatível com ele. O carioca Edvaldo diz o que sentiu quando recebeu a ligação.

"Com certeza com surpresa e com muita alegria. Porque a surpresa pelo fato de eu estar inscrito há muito tempo e saber que as chances de se encontrar um doador compatível são bem pequenas. E com muita alegria por saber que eu tinha sido escolhido, por Deus, pela natureza, sei lá."

Ele diz que o procedimento de retirada de medula foi simples e começou com uma série de exames para avaliar o seu estado de saúde e confirmar a compatibilidade com o receptor. Depois disso, passou por entrevistas com médicos e psicólogos no INCA no Rio de Janeiro. Todo o procedimento foi minuciosamente explicado, relembra Edvaldo.

"A retirada da medula é uma punção que é feita no lado direito e esquerdo, na altura mais ou menos da bacia, que é feita no osso da bacia... É feita essa punção para retirada do líquido. A gente não leva ponto, em 24 horas a gente retorna para casa e aguarda a recuperação, numa semana já estou voltando a fazer as atividades normais."

Edvaldo não sabe para quem sua medula foi doada, mas espera que sua doação tenha contribuído para salvar a vida do receptor. Aos 53 anos, ele diz que ainda tem esperança de que possa ter novamente a sorte de encontrar outro receptor compatível com sua medula, que ele doaria novamente, feliz da vida.

É pensando em mobilizar novos Edvaldos que o deputado Beto Albuquerque aposta as fichas no projeto que cria a semana Nacional de Mobilização Nacional para Doação de Medula Óssea. Ele lembra que as leucemias atingem dez mil brasileiros todos os anos.

"Um Brasil como o nosso de 200 milhões de habitantes, nós temos apenas 940 mil doadores hoje cadastrados, é um número que evidentemente avançou muito nos últimos 5, 6 anos, mas ainda é pequeno, para nossas necessidades. O Brasil tem muitos brasis, geneticamente falando. É possível, mas é pouco provável, que você ache, no Amazonas, no Pará, algum doador de medula que seja compatível ou vice-versa, com alguém nascido no Rio Grande do Sul. Então nós precisamos ter um cadastro nacional de doadores de medula, que seja amplo, estratificado, e que tenha muita adesão em todos os estados brasileiros, pelo menos 300 mil doadores, em cada estado do Brasil (nos maiores, evidentemente), deveriam estar cadastrados."

Luís Fernando Bouzas explica que o Brasil tem uma rede de doadores de medula óssea com 950 mil cadastros. Isso nos coloca como o terceiro maior registro do mundo em número de doadores. E esse número só cresce com o tempo, já que em 93, havia apenas 35 mil doadores cadastrados. Dr. Bouzas diz que o tempo de espera para encontrar um doador compatível no Brasil é de 6 meses a um ano, longo se comparado aos 4 meses nos Estados Unidos. O maior problema em nosso país no momento está no número de leitos para o transplante e muito menos na dificuldade de encontrar doadores, destaca dr. Bouzas. São realizados no Brasil, por ano, uma média de 1.700 transplantes de medula óssea. 10% deles são feitos com doadores não-aparentados, ou seja, com busca nos bancos de medula óssea.

De Brasília, ADriana Magalhães.

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