Rádio Câmara

Reportagem Especial

Brasil avança em pesquisas com células-tronco - Bloco 1 (06'40'')

19/02/2009 - 00h00

  • Brasil avança em pesquisas com células-tronco - Bloco 1 (06'40'')

A paulista Patrícia Ianne d'Amaral tem 34 anos e há dez anos começou a sentir uma dormência total nas pernas. Patrícia e os médicos consultados por ela atribuíram isso a estresse causado por problemas pessoais que estava enfrentando na época. Depois de algum tempo investigando, chegaram ao diagnóstico: Patrícia tinha esclerose múltipla. Ela não tinha nenhum conhecimento da doença e achou que a médica estava louca, porque esclerose, pensava, era doença de idosos. A esclerose múltipla é uma doença neurológica crônica, que destrói estruturas do Sistema Nervoso Central da pessoa. Fraqueza muscular, rigidez articular, dores articulares e descoordenação motora são alguns dos sintomas. A doença é progressiva e o doente perde sua capacidade motora muito rapidamente. Patrícia sentiu na pele esses efeitos, e cinco anos depois da descoberta da esclerose múltipla, ela precisava de ajuda até para comer e amarrar o sapato. Patrícia foi convidada a participar de uma pesquisa com células-tronco, em 2003, quando sua situação era crítica. Ela foi uma das primeiras pessoas a fazer transplante de células tronco no Brasil, em 2003. Mesmo sabendo que era uma pesquisa, Patrícia não hesitou em participar do estudo: ela diz que não tinha outra coisa a fazer, porque os medicamentos não faziam efeito.

"Eu sei que eram dois medicamentos. Eu usei, não fez efeito nenhum, e as crises foram piorando. Então, os médicos falaram assim: 'olha, a gente não pode garantir a cura, (porque ninguém fala) mas é uma pesquisa que a gente está fazendo, junto com outros hospitais, de Ribeirão', e ele perguntou se eu queria participar. Eu falei assim: 'querer, eu quero, eu quero ficar boa, é isso o que eu quero'."

Depois do transplante de células-tronco, Patricia comemora: tudo ficou diferente na sua vida.

"Tudo, tudo, eu estou fazendo quase tudo agora. Só preciso um pouquinho mais de equilíbrio, o resto está muito bem."

Para quem não conseguia comer sozinha, Patrícia vibra ao poder dirigir seu carro. E comemora o dia em que as células-tronco fizeram efeito como seu segundo aniversário.

A mudança na vida de Patrícia é uma esperança apontada há anos pelos pesquisadores e que começa a se tornar realidade em várias frentes. As células-tronco têm a capacidade de diferenciar-se em tecidos humanos. Com essa característica, elas podem recompor tecidos danificados e tratar várias doenças, como alguns tipos de câncer, o mal de Parkinson, doenças degenerativas, como a de Patrícia, e cardíacas, com a Doença de Chagas. Mayana Zatz, Coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP e uma das maiores especialistas em células-tronco do Brasil, diz que os pesquisadores estão muito animados com os rumos da pesquisa com células-tronco no Brasil. No Genoma Humano, laboratório de Mayana Zatz, o foco é de pesquisas em doenças ósseas e neuromusculares.

"Estamos conseguindo, em modelos animais, resultados muito interessantes tanto em regeneração óssea quanto em regeneração muscular. E estamos tentando diferentes fontes de células-tronco, então estamos utilizando células-tronco de cordão umbilical, de tecido adiposo, de polpa dentária, de sangue menstrual, para comparar qual é a melhor fonte, entre essas células, para reconstituir músculo e osso... E ao mesmo tempo estamos começando novas pesquisas para a gente derivar neurônios, células nervosas, porque as células-tronco adultas não conseguem fazer células nervosas."

As células tronco adultas podem ser as da medula óssea, do cordão umbilical, polpa de osso, sangue menstrual. As células-tronco embrionárias, cujas pesquisas foram liberadas em maio do ano passado pelo Supremo Tribunal Federal, conseguem dar origem a qualquer um dos 216 tecidos que formam
o corpo humano. Depois de liberadas as pesquisas, a dra. Zatz diz que existem muito menos embriões do que se esperava. Além disso, a grande maioria é inviável, destaca a geneticista.

"Os embriões que são congelados são aqueles já de má qualidade. Os bons são implantados, porque estamos falando de casais que querem se reproduzir, e nas clínicas são inseridos no útero os melhores embriões. Aqueles que são congelados são os de pior qualidade. E depois que congela, quanto mais tempo fica congelado, menor a viabilidade."

E quais são as chances de cura para quem recebe um transplante de medula óssea, para tratamento com células-tronco? Quem responde é o diretor do centro de transplante de medula óssea e Coordenador Médico do Banco de Sangue de Cordão Umbilical e Placentário, do Instituto Nacional do Câncer - Inca, Luís Fernando Bouzas.

"De uma maneira grosseira e geral, é em torno de 50%. Mas a gente não pode colocar todas as doenças nem todos os pacientes num mesmo estágio, num mesmo nível. Porque existem doenças que respondem melhor ao transplante, outras que respondem pior, existem pacientes com diferentes idades, com diferentes estágios de doença... pode variar por exemplo, doenças que a resposta é de 20% de sobrevida com 5 anos, até doenças que você tem doentes que respondem 80, 90% em 5 anos."

As doenças que mais frequentemente requerem um transplante de medula óssea são as leucemias, explica dr. Bouzas. Em seguida há as mielodisplasias, alguns tipos de anemias graves e linfomas. São cerca de 70 doenças que podem se beneficiar com o transplante, informa o dr. Bouzas. Inclusive cardiopatias, como a Doença de Chagas. Mas isso é assunto para o Reportagem Especial de amanhã.

De Brasília, Adriana Magalhães.

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