Rádio Câmara

Reportagem Especial

Projeto Ana e Maria dá esperança a meninas carentes grávidas - Bloco 1

08/12/2008 - 00h00

  • Projeto Ana e Maria dá esperança a meninas carentes grávidas - Bloco 1

A Maré é o maior complexo de favelas do Rio de Janeiro. São dezesseis comunidades com mais de 130 mil habitantes. A densidade demográfica é muito alta: são mais de 21 mil moradores por km2, número muito superior à média da cidade do Rio de Janeiro, que é de 328 habitantes por km2. Nesse ambiente, a gravidez entre adolescentes é fato comum. Preocupados com o abandono dos estudos por parte das adolescentes grávidas na comunidade, os integrantes do Instituto Viva Rio criaram o projeto Ana e Maria. A proposta é dar apoio emocional e orientação às adolescentes grávidas e com filhos até dois anos de idade, estimulando a inclusão dos jovens pais e da família no processo. As meninas grávidas participam de palestras sobre sexualidade e doenças sexualmente transmissíveis, além de encontros em grupo ou individuais com psicólogas e técnicas de enfermagem capacitadas pelo Viva Rio.

A coordenadora do Projeto Ana e Maria, Cibele Dias, conta que as adolescentes grávidas são chamadas de Marias, e as Anas são as enfermeiras, que também encaminham as meninas ao pré-natal. Para auxiliar na renda das meninas, elas também realizam cursos pelo projeto, explica Cibele.

"A gente montou oficinas de bordado, bijuteria, vai começar agora bisqui, decoração de unha, teatro. Então a gente tenta também mobilizar com o intuito de gerar renda para essas meninas, para que elas possam estar ganhando o dinheirinho em casa. Dentro da comunidade ela pode estar fazendo um cabelo, fazendo uma unha, ela pode estar fazendo um bordado, bordar pano de prato, toalinha de mesa, e estar ganhando dinheiro nisso, porque em comunidade é normal, aqui tem barraquinhas, tem feirinhas permanentes nas ruas, onde as pessoas estão sempre comprando, nem que seja ela vender 20 reais por dia para tirar um lucro. Então a gente tenta ajudá-la nisso também".

As meninas também montam bazares para vender suas peças artesanais e participam de passeios fora da comunidade, quando vão à praia e ao cinema, por exemplo. Cibele explica que um dos focos do projeto está no combate à exploração sexual das adolescentes da comunidade.

"Porque em tese elas querem recuperar o tempo perdido, quando o aliciador chega para ela e diz 'você vai ganhar muito dinheiro, você vai ser modelo, você é muito bonita, você pode ir para o exterior'. Então a gente já alerta quanto a isso, porque elas estão com urgência, elas pararam de estudar, se chega uma pessoa e conta uma história assim, um conto de fadas, aquela coisa de princesa, de conseguir ganhar dinheiro, fazer um bom casamento, morar no exterior, resolver o problema da mãe, da família, tirar a família da comunidade."

Cibele conta que as meninas recebem doações e ganham um chá de bebê às vésperas do parto. Mas ela salienta que o projeto não é assistencialista, e a idéia é fazer com que a adolescente aprenda a se virar por conta própria. Ariane Maria de Souza tem 19 anos e tem um filho de um ano. Durante a gravidez, participou do projeto Ana e Maria e diz que gostou porque aprendeu muita coisa nova, como doenças sexualmente transmissíveis e o perigo da bebida na gravidez.

"Ajuda bastante porque quando eu preciso ir a médico, eles me ajudam, eles já marcaram oftalmologista para ele, eu já fui."

O programa Ana e Maria, passou a se preocupar também com os Josés, que são os jovens pais da comunidade. Eles também aprendem a se prevenir de doenças sexualmente transmissíveis, a evitar uma gravidez indesejada e passam a ter consciência da paternidade responsável. O projeto também desenvolve um programa na TV Comunitária da Rocinha, o Saia Frouxa, em que os jovens discutem assuntos de seu dia-a-dia, como sexo e saúde. O próximo passo é transmitir esse programa também por rádio.

De Brasília, Adriana Magalhães.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h