Rádio Câmara

Reportagem Especial

Série sobre os 75 anos das CPIs - Bloco 3

23/04/2008 - 00h00

Os caminhos tomados por uma CPi nem bola de cristal revela.

Dramas, riscos e surpresas são uma constante para quem participa de uma CPI.

Para o relator da CPI do Orçamento, Roberto Magalhães, o trabalho é ingrato.

"Eu diria que é sobretudo ingrato. Porque você fica muito visado. O presidente, o relator e aqueles que se destacam pela defesa ou pela acusação dos indiciados. Eu não me arrependo mas eu lamento ter tido que fazer"

O deputado do Democratas de Pernambuco que produziu o relatório que condenou o comportamento de outros parlamentares, diz que não se arrepende do texto apresentado. Roberto Magalhães lembra que quatro parlamentares de Pernambuco estavam sendo investigados pela CPI do Orçamento. Um deles, grande amigo, o ex-deputado Ricardo Fiuza.

Fiuza teve nomeado um relator especial, que pediu sua condenação. Roberto Magalhães admite que a tristeza pela condenação parcial do amigo permanece.

"Fiuza, foi pedida a cassação dele. Ele foi absolvido em Plenário. Só que Ricardo Fiuza nunca mais saiu do processo de depressão, profundo sofrimento e angústia. Morreu de um câncer. E eu, quando penso nisso, falo meu Deus... Na minha vida nunca quis ser juiz por isso. Prá não ter que julgar"

Cidinha Campos, relatora da CPI da Previdência, e hoje deputada estadual pelo PDT do Rio de Janeiro, se orgulha de ter participado de CPIs que resultaram em prisões.

"Eu nunca participei de uma CPI que não resultasse em prisão. Todas que eu participei acabaram por prender, nem que fosse por pouco tempo alguns dos envolvidos"

Mas não esconde que o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Cidinha Campos foi processada por um dos indiciados.

"O presidente do INSS da época, José Arnaldo Rossi, inclusive me processou pelo que eu disse dele. Não ganhou nenhuma ação contra mim. Mas conseguiu constrangimentos. Em primeiro grau no Rio de Janeiro ele ganhou ação contra mim, e o oficial de Justiça entrou na minha casa penhorando coisas. Mas no final ele foi condenado a doze anos e hoje responde ao processo em liberdade. E ele é uma pessoa qualquer? Não. Ele tem muito dinheiro"

Uma CPi no Congresso também assume números gigantes.

É um trabalho exustivo relata o diretor do departamento de Comissões da Câmara, Silvio Avelino da Silva.

"É um trabalho bastante exaustivo. Principalmente quando há quebra de sigilo bancário e telefônico, o volume de documentos que chega à CPi é muito grande. Na CPI do Narcotráfico, foram quatro caminhões de documentos que chegaram"

A atual CPI das Escutas Telefônicas recebeu cerca de 50 mil documentos. E todos eles precisaram ser trabalhados pelos funcionários.

Silvio lembra ainda que o trabalho na CPI é de extrema responsabilidade. Isso porque ficam sob custódia da comissão documentos de grande importância para o país.

Vida de operário numa CPI também têm os repórteres. O trabalho de cobertura da imprensa é destacado pelo jornalista Carlos Chagas.

"A imprensa reflete o que está acontecendo. Alguns usando cores mais veementes, outros usando cores apagadas. De qualquer forma, o papel da imprensa é refletir. Agora, em certos momentos a coisa vai tão devagar, que a imprensa substitui a CPi. Não raro a imprensa lança-se num trabalho de investigação e verificação de fatos que o poder constituído não faz. Em momentos, a imprensa presta um grande serviço"

Com todos os perigos da alta exposição na mídia, como lembra Carlos Chagas.

"Nós somos jornalistas, temos que reconhecer, a imprensa zela pelos valores fundamentais da sociedade. Mas também quer vender jornal e ter audiência maior. Então, muitas vezes a imprensa exagera nessas investigações. Em vez apenas de investigar, a imprensa julga, condena e executa. Dou um exemplo atual. A imprensa está abrindo muito espaço para as críticas à Polícia Federal e ao Ministério Público. A imprensa exagera às vezes no espaço aberto para um lado e omite o outro. Nós estamos vendo o principal acusado nessa CPI (das Escutas Telefônicas), Daniel Dantas, deitar e rolar, e vendo os investigadores comendo o pão que o diabo amassou. porque a imprensa exagerou ao dar guarida às críticas às instituições que são feitas para investigar."

Os excessos cometidos pela imprensa fazem parte do jogo democrático, defende Carlos Chagas, Para o jornalista, caberia à sociedade encontrar formas de limitar esses excessos.

Para a deputada estadual Cidinha Campos, a imprensa a ajudou a obter resultados na CPI da Previdência,

"Quando ela (a CPI) ganhou uma importância na mídia, a mídia começou a me ajudar, começou a cobrar, a se interessar pelo Cezar Arrieta, e daí com a ajuda da imprensa ela (a CPI) foi sendo prorrogada"

O deputado Roberto Magalhães também defende o trabalho realizado pelos jornalistas.

"Eu acho que o jornalismo brasileiro atingiu excepcional grau de eficiência na investigação. Já naquele tempo, eu muitas vezes chegava à noite em casa, assistia o Jornal Nacional e a emissora estava muito mais bem informada do que eu, porque ela cobria as subcomissões. E isso só tem feito melhorar com o tempo"

O jornalista Carlos Chagas lembra ainda que para o sucesso de uma CPI é de grande importância a atuação de instituições civis, como a Ordem dos Advogados do Brasil e a Associação Brasileira de Imprensa, e religiosas, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Segundo ele, muitas vezes a posição defendida por essas instituições foram fundamentais para o sucesso de CPIs históricas do Congresso brasileiro.

De Brasília, Eduardo Tramarim

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h