Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Família Real 5 - Saiba mais sobre o princípe regente dom João VI (07'20")

03/03/2008 - 00h00

  • Especial Família Real 5 - Saiba mais sobre o princípe regente dom João VI (07'20")

NA ÚLTIMA REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE OS DUZENTOS ANOS DA FAMÍLIA REAL NO BRASIL, VOCÊ VAI CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE D. JOÃO SEXTO. VAI SABER QUAL É A OPINIÃO DOS PORTUGUESES SOBRE AQUELE PERÍODO. POR FIM, SAIBA O QUE ESTÁ SENDO FEITO NO BRASIL PARA COMEMORAR OS DUZENTOS ANOS DA CHEGADA DA FAMÍLIA REAL.

Fisicamente grotesco, desleixado com a higiene pessoal, glutão, indeciso, bonachão. Esses são apenas alguns dos adjetivos que os historiadores costumam dar a d. João VI. Ele já foi retratado em filmes e TV com hábitos bizarros como, por exemplo, o de comer dezenas de frangos por dia. Mas quem foi, na verdade, esse monarca? D. João não foi talhado para ser rei. O ocupante do cargo seria seu irmão, que estava sendo preparado para isso. Mas ele morreu cedo demais, cabendo a d. João ocupar o lugar. Laurentino Gomes, o autor do livro "1808", que retrata o período, diz que, apesar dos pontos negativos, d. João foi injustiçado pela História.

"O d. João era, sim, um príncipe muito medroso, indeciso, tinha crises de depressão, era fisicamente muito feio, não tomava banho. Era um rei que tinha subido ao trono sem estar preparado para governar, porque o irmão mais velho morreu de varíola, a mãe ficou louca logo em seguida, ele era o segundo e teve que assumir em circunstâncias improvisadas. Agora, em torno dele, havia homens muito experientes, espertos, com visão estratégica muito grande."

A cientista política Isabel Lustosa concorda que d. João tinha qualidades estratégicas.

"Mesmo essa dificuldade de tomar decisões, o processo lento, e a maneira de ir empurrando com a barriga muitas coisas, acabaram funcionando como uma estratégia de enganar o inimigo. Essas pressões do Napoleão sobre d. João foram intensas durante o tempo que durou até a partida do rei, ele assinando esses tratados, mas de alguma forma não realizando os compromissos que tinha com a França. Então ele acaba sendo relativamente hábil, tinha ambições de soberano, ele chega no Brasil e algum tempo depois determina a invasão da Guiana francesa, como represália à invasão de Portugal, ele tem política para o sul, com relação à nossa antiga colônia de Sacramento, que era parte do Uruguai, hoje. Enfim, ele tinha uma estratégia política, claro que orientada e discutida com seus ministros, mas que só poderia acontecer com ele."

O historiador Jurandir Malerba, professor da Unesp em Franca, diz que há uma grande diferenca entre História e construção da memória. Ele comenta que, no século 19, a imagem construída de d. João foi de uma figura benevóla e grande estrategista. Com a queda da monarquia, os historiadores republicanos passam a denegrir a imagem do rei, inserindo uma visão caricatural. Para Malerba, d. João não representava nenhum desses extremos.

E os portugueses, o que pensam de um rei que abandonou a população às vésperas de uma invasão estrangeira? O embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Seixas da Costa, diz que, na memória portuguesa, a vinda da corte foi sempre um fator controverso. No século XIX, os historiadores portugueses enxergavam a vinda de d. João como abandono do país.

"A idéia é de que o rei fique com seu povo e sofra aquilo que seu povo teria que sofrer. Portanto, a vinda de d. João VI para o Brasil, foi interpretada como uma fuga, com alguma dimensão estratégica, mas maioritariamente como evitando aquilo que seria sua prisão e a tomada da corte."

Com a passagem dos anos, outros olhos passaram a enxergar essa história, explica o embaixador. A ausência da corte em Portugal, no fundo, motivou que a classe política daquele país adquirisse mais autonomia. A fuga da família real proporcionou o surgimento de idéias liberais em Portugal. Por isso, diz o embaixador, o país que d. João VI encontrou quando retornou em 1821 é muito diferente daquele Portugal que tinha abandonado treze anos antes. Aliás, o embaixador Francisco Seixas da Costa questiona por que d. João passou tanto tempo no Brasil, já que as tropas napoleônicas haviam abandonado Portugal em 1811.

"Por que d. João ficou no Brasil mais dez anos? Eu percebo que o Brasil é um país muito simpático para se estar, mas em termos de História, essas coisas têm que ter uma explicação um pouco mais fundamentada. Provavelmente d. João também terá percebido que a evolução das liberdades em Portugal iria nos sentidos de por em causa aquilo que era o paradigma tradicional ao qual estava habituado e ao qual sua própria corte estava habituada. Portanto, o Brasil prolonga o antigo regime português, fora-portas, fora da capital."

Portugal e Brasil estarão juntos nas comemorações dos duzentos anos da família real aqui. Uma série de eventos acontecem a partir de março, inclusive com a presença dos presidentes dos dois países: Lula e Cavaco Silva. O Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, vai abrigar uma grande mostra, como explica sua diretora, Vera Lúcia Bottrel Tostes.

"E o museu histórico, enquanto maior e mais importante museu de História do Brasil, não poderia estar ausente. Por isso estamos abrindo essa grande exposição que ocupará mil e 200 m2 e que terá expostos aqui documentos e objetos originais da época, de Portugal e do Brasil. Pela primeira vez vai ser mostrado um conjunto de documentos que antes nós nunca víamos, como o documento da abertura dos portos, da elevação, o documento que as cortes portuguesas recomendam a vinda de d. João para o Brasil. Depois que o próprio governo de Portugal pede a volta do rei de Portugal."

A mostra acontece de 8 de março a 8 de junho. Das dez às cinco e meia da tarde, de terças a sextas. Nos sábados, domingos e feriados, o museu funciona das duas às seis horas da tarde. A prefeitura do Rio de Janeiro desde o ano passado está promovendo uma série de eventos para comemorar os duzentos anos da corte portuguesa no Brasil. As comemorações de março incluem a reabertura da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, antiga Sé, inteiramente restaurada.
Adriana Magalhães, para a Rádio Câmara. Acontece, também em março, uma exposição chamada "Lisboa no Rio: construções de um Império". A mostra é um desdobramento de exposição análoga realizada em novembro em Lisboa, organizada pela Câmara Municipal de Lisboa e pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

De Brasília, Adriana Magalhães.

TERMINA AQUI A REPORTAGEM ESPECIAL SOBRE OS DUZENTOS ANOS DA FAMÍLIA REAL NO BRASIL. AS MATÉRIAS CONTARAM COM A PRODUÇÃO DE MÔNICA LION E LUCÉLIA CRISTINA, REPORTAGEM DE ADRIANA MAGALHÃES, TRABALHOS TÉCNICOS DE NEWTON GOMES, EDIÇÃO DE ANA DELMONTE E COORDENAÇÃO DE APRÍGIO NOGUEIRA. SE VOCÊ QUISER, PODE ACESSAR ESTAS MATÉRIAS PELA INTERNET. ANOTE O ENDEREÇO: WWW.RADIO.CAMARA.GOV.BR

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h