Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Família Real 2 - Saiba como foi o primeiro contato entre mundo dos colonos e mundo da corte européia (06'21")

03/03/2008 - 00h00

  • Especial Família Real 2 - Saiba como foi o primeiro contato entre mundo dos colonos e mundo da corte européia (06'21")

NA REPORTAGEM ESPECIAL DE HOJE, VOCÊ VAI SABER COMO FOI A VIAGEM DA CORTE PARA O BRASIL HÁ 200 ANOS. VOCÊ VAI CONHECER TAMBÉM COMO ERA NOSSO PAÍS NAQUELA ÉPOCA, E SABER COMO FOI O PRIMEIRO CONTATO ENTRE O MUNDO DOS COLONOS E O MUNDO DA CORTE EUROPÉIA.

Os navios portugueses, há 200 anos atrás, eram desenhados para impedir a entrada de água e resistir às tempestades. Por isso, eram como caixas hermeticamente fechadas com pequenas escotilhas, o que tornava o ambiente interno asfixiante e extremamente quente. Não havia água corrente nem banheiros. A viagem da família real de Portugal para cá durou quase dois meses, em navios apinhados: a nau que levava d. João, por exemplo, conduzia mais de mil pessoas. Esse ambiente favoreceu a multiplicação de pragas: uma infestação de piolhos obrigou as mulheres do navio que levava Carlota Joaquina a raspar os cabelos e jogar suas perucas ao mar.

Depois dessas espantosas condições de viagem, aportaram no Brasil os cerca de 50 navios portugueses. Os historiadores não têm consenso sobre quantos vieram, alguns falam em até 15 mil pessoas. O Brasil tinha 3 milhões de habitantes na época. Mais da metade da população era de negros, mulatos e índios, como conta Laurentino Gomes, autor do livro 1808, sobre a vinda da família real.

"Era portanto um grande deserto verde escassamente povoado, havia ilhas habitadas ao longo do litoral, pouca coisa no interior. O Rio de Janeiro, que era a capital da colônia, tinha apenas 60 mil habitantes. Portanto, é um vilarejo colonial muito pequeno, Salvador tinha 40 mil habitantes. Então você imagina o impacto que foi a chegada dessas dez mil pessoas no Rio de Janeiro em 1808."

O historiador Jurandir Malerba é professor da Unesp, em Franca, e chama de bombástico o impacto da chegada da corte às terras do Rio de Janeiro. Uma cidade de 60 mil habitantes, sendo que 40 mil eram negros e metade deles escravos. Eles viram espantados a chegada dos 15 mil portugueses, com hábitos refinados. Laurentino Gomes ilustra o cenário desses dois mundos diferentes.

"Era uma corte refinada, usando polainas, casacos de veludo, de lã, perucas, galardões nos ombros, todo mundo esbaforido sob o calor dos trópicos, e do outro lado, uma população composta por negros, escravos, traficantes de escravos, comerciantes, mineradores de ouro e diamante, uma sociedade muito ignorante, muito primitiva, o número de analfabetos era enorme no Brasil."

Laurentino conta que houve uma imediata troca de favores entre as duas culturas. Foi uma época de muita corrupção e promiscuidade nos negócios públicos e privados no Brasil.

"A corte chegou da Europa muito pobre, ela estava financeiramente quebrada pela luta contra Napoleão, pela viagem, o rei tinha que bancar as despesas de todas as milhares de pessoas que vieram para cá. Dava roupa, dava casa, dava comida, salários. Até o confessor da rainha, um padre, ganhava um salário enorme para confessar a rainha, e chegou aqui sem dinheiro. Mas a corte tinha um privilégio, a prerrogativa de fornecer títulos de nobreza. Do outro lado tinha uma colônia rica, porém plebéia, que não tinha títulos de nobreza. Então, se estabeleceu de imediato uma troca de interesses, em que os ricos da colônia doavam dinheiro ao rei, ou em listas de subscrição voluntária ou se tornando acionistas do Banco do Brasil, de onde a corte tirava dinheiro sem fundo."

Em 13 anos, d. João distribuiu mais títulos de nobreza do que os 500 anos anteriores. E o professor Malerba destaca que os problemas entre esses dois mundos não demoraram a surgir.

"Mas essa sociedade corte, que era estamental, uma sociedade de ordens, com suas hierarquias de títulos de nobreza, foi muito refratária à entrada desses novos personagens no círculo da corte. Então, geraram-se muitos conflitos aí também."

E nos primórdios dessa relação entre a corte e os nativos, um exemplo do bom humor carioca em meio às agruras. Laurentino conta que, quando toda essa gente chegou ao Rio de Janeiro, não havia espaço para todos. Então, foi criado um sistema de desapropriação das casas para a corte portuguesa. Laurentino explica que colocavam na porta das casas escolhidas as iniciais PR, significando Príncipe Regente. Mas em pouco tempo o carioca passou a fazer piada disso.

"O carioca que já naquela época era muito gozador, interpretou esse PR como Ponha-se na Rua. Era um sintoma de que mesmo naquela época, o carioca enfrentava suas agruras e dificuldades com muito bom humor."

Os dois mundos rapidamente criaram uma simbiose, conta o professor Jurandir Malerba.

"Os nativos vão adotar as maneiras, muitas vezes afetadas, dessa elite aristocrática, de uma burquesia comercial que chega na cidade. Houve uma via de mão dupla. Os que estavam aqui tentaram copiar, imitar os costumes das pessoas que chegaram. E a sociedade corte que veio com D. João vai dar uma relaxada na etiqueta por causa do próprio ambiente que encontraram no Rio de Janeiro."

Jurandir destaca que não se pode comparar o Rio às capitais européias da época, mas admite que a vinda dos portugueses trouxe mudanças drásticas na cidade, principalmente em termos culturais . Foram criados teatros, inclusive o Real teatro São João, com mais de mil lugares, que traziam levas de músicos europeus para espetáculos e óperas nos trópicos.

De Brasília, Adriana Magalhães.

AMANHÃ, A REPORTAGEM ESPECIAL MOSTRA AS MUDANÇAS QUE OCORRERAM NO BRASIL DEPOIS DA CHEGADA DOS PORTUGUESES EM 1808.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h