Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Mulheres 5 - Tomie Ohtake (06'27")

28/01/2008 - 00h00

  • Especial Mulheres 5 - Tomie Ohtake (06'27")

Falar sobre a vida e a obra de Tomie Ohtake não é tarefa muito fácil. Como transmitir, em palavras, a riqueza de formas e cores de suas obras? Então pedimos ajuda à curadora de arte Maria Alice Milliet. Ela resume o patamar Tomie Ohtake está na arte brasileira.

"A Tomie é ela mesma uma instituição. Ela é veneranda e venerável. Ela, pessoalmente, é uma pessoa digna de ser conhecida. Alguns dizem que ela é a dama das artes plásticas. Mas eu acho que como mulher e como artista, ela tem um lugar muito especial no panorama da cultura brasileira nesse momento."

Tomie Ohtake nasceu em Kyoto, no Japão, em 1913. Foi criada em uma família japonesa tradicional, onde as mulheres não escolhiam os próprios maridos e viviam para o casamento. Para fugir desse destino, aos 21 anos veio visitar o irmão mais velho no Brasil, e não mais retornou. Por aqui, casou, teve dois filhos, e se separou, criando os dois meninos sozinha. Somente aos 40 anos, Tomie Ohtake uniu-se oficialmente com a arte, construindo um caminho que poucos artistas brasileiros conseguiram. Maria Alice Milliet lembra que a artista conseguiu unir a experiência de ter filhos e cuidar de uma família com a vivência de sua arte.

"Ela tem essa complementariedade entre a mulher que se dedica à casa e a mulher que se projeta como criadora no mundo, no caso, como artista. De maneira que ela conjuga esses dois universos. Ela não precisou negar um para se afirmar no outro. Uma experiência desembocou na outra, vamos dizer assim".

Hoje, aos 93 anos, ela segue produzindo. Quando lhe pedem para dar uma palavra aos jovens, Tomie Ohtake responde de que maneira foi abrindo seus caminhos:

"Eu quero falar, é só fazer, fazer, fazer. Só isso."

Aos longo de mais de 50 anos de trabalho, a artista atravessou diferentes cenários na sociedade brasileira e a grandeza de seu trabalho é indiscutível. Sua obra pode ser encontrada tanto em museus e coleções, como nas ruas de São Paulo e outras cidades do país. O diretor de assuntos institucionais do Instituto Tomie Ohtake, Bruno Assami, fala que conviver com a artista é um privilégio. Mais do que a sua obra, ele conta que é a base de valores que mais impressiona quem convive com Tomie Ohtake.

"Não é à toa que eu acho que Tomie transcende as artes porque ela acaba garantindo outros sentidos e significados para nossa sociedade brasileira. Se você pensar nela como mulher, uma mulher de mais de 90 anos de idade, com essa pujança, esse dinamismo em cima do seu trabalho. É indubitável, as pessoas reconhecem isso"

Em sua convivência com a artista, Bruno Assami percebe que, em seu processo criativo, Tomie Ohtake parte em busca de sua própria inquietação. E muitas vezes esse encontro demanda paciência. Ele se recorda de uma ocasião em que a artista terminou uma coleção insatisfeita com o resultado final.

"E não teve dúvida. Já com todos os trabalhos concluídos, e não satisfeita, ela simplesmente pintou tudo de novo. Ela anulou todo aquele trabalho de sei lá quanto tempo, meio ano, um ano de trabalho da vida dela, e começou tudo de novo. É de uma coerência, se você pensar. O mercado também tem uma expectativa que ela produza, para poder absorver a obra dela. Mas ela, quando enquanto ela não sente que o trabalho dela está amadurecido o suficiente, ela simplesmente não se expõe. Ela está lá, tentando descobrir o caminho da inquietação dela, e enquanto isso não estiver claro, ela não solta."

Tomie explica de um jeito simples: se gosta do trabalho final, fica contente. Se não gosta, fica triste, mas segue e enfrenta o resultado. E assim foram feitas suas pinturas, esculturas e obras públicas. A influência japonesa é visível em sua arte: nela, as cores e as formas se harmonizam com o vazio e o silêncio. Tomie Ohtake trabalha com uma pintura abstrata genial em sua simplicidade. As cores e texturas transmitem os sentimentos e sensações. A curadora Maria Alice Milliet descreve as obras de Tomie como gestos espontâneos, em que as linhas e cores parecem flutuar no ar. Algo que só pode ser entendido ao olhar sua arte de frente. Sinta-se convidado para essa viagem.

De Brasília, Daniele Lessa

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h