Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Cinema 1 - Do cinema mudo às chanchadas (07'20'')

21/01/2008 - 00h00

  • Especial Cinema 1 - Do cinema mudo às chanchadas (07'20'')

A PARTIR DE HOJE, A RÁDIO CÂMARA EXIBE UMA SÉRIE DE CINCO REPORTAGENS SOBRE O CINEMA NACIONAL. VOCÊ VAI CONHECER UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA DA SÉTIMA ARTE NO BRASIL; DOS MOVIMENTOS DE VANGUARDA, COMO O CINEMA NOVO; E DA ATUAL FASE DE PRODUÇÃO, QUE GANHOU FORÇA A PARTIR DA DÉCADA DE 90, POR MEIO DAS LEIS DE INCENTIVO CULTURAL.

PARA COMEÇAR A SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS, O REPÓRTER JOSÉ CARLOS OLIVEIRA TRAÇA UM PANORAMA DOS PRIMEIROS PASSOS DO CINEMA BRASILEIRO, DESDE A ÉPOCA DO CINEMA MUDO ATÉ AS CHANCHADAS.

No princípio, um cinematógrafo movido a manivela. Corria o ano de 1895. No subterrâneo do Grand Café, em Paris, os irmãos Lumière fazem a primeira exibição pública e paga de cinema no mundo. Em cartaz, dez filmetes rudimentares, com cerca de um minuto, cada um, mostram passagens do cotidiano parisiense.

A novidade não demora a chegar ao Brasil. Apenas sete meses após a exibição dos Lumière, o Rio de Janeiro sedia a primeira sessão de cinema do país. A produção nacional dá os primeiros passos em 1898, quando os irmãos Alfonso e Paschoal Segreto filmam imagens, também rudimentares, do cotidiano carioca.

A sétima arte contagia empresários, sobretudo aqueles estrangeiros radicados no Brasil, que atuam ao mesmo tempo como produtores de filmes e donos de salas de exibição. O cinema artesanal começa a ganhar traços de indústria na primeira década do século passado. Em 1908, o fotojornalista português António Leal realiza "Os estranguladores", considerado o primeiro filme de ficção brasileiro. Tinha 40 minutos de duração e se baseou num fato policial verídico ocorrido no Rio de Janeiro. Naquela época, músicos eram contratados para dar um certo estímulo sonoro ao cinema mudo.

Por volta dos anos 30, o Brasil já se dá ao luxo de reunir uma cinematografia expressiva em quantidade e qualidade. Mário Peixoto dirige "Limite", obra-prima do cinema mudo, influenciada pelo estilo avant-garde francês. Em Minas Gerais, surge o cineasta que iria influenciar gerações futuras: Humberto Mauro, autor de clássicos, como "Ganga bruta" e uma série de filmes regionais, realizada na cidade mineira de Cataguases. O documentarista Vladimir Carvalho relembra a influência que Humberto Mauro exerceria sobre a vanguarda do Cinema Novo, anos mais tarde.

"O Humberto Mauro fez filmes interessantíssimos. Tanto que, depois, o movimento do Cinema Novo com Joaquim Pedro, Glauber, Leon Hirszman e o próprio Nelson Pereira dos Santos consideraram o Humberto Mauro como se fosse quase um padrinho do Cinema Novo, um ancestral ilustre, por causa de seus filmes muito ligados a uma temática lírica do campo."

Vladimir Carvalho, que também já foi professor de cinema na Universidade de Brasília, ressalta ainda o papel fundamental das primeiras grandes produtoras de cinema do país. A Cinédia foi a primeira delas, nos anos 30. Nasceu no Rio de Janeiro por esforço do cineasta Ademar Gonzaga. Além de produzir alguns filmes de Humberto Mauro, também levou para as telas dramas populares e comédias musicais. Depois veio a Atlântida, em 1941. O organizador da "Enciclopédia do Cinema Brasileiro", Fernão Ramos, afirma que uma das grandes virtudes da Atlântida foi produzir as chanchadas estreladas por Grande Otelo e Oscarito.

"Foi uma tentativa de se fazer cinema baseado no Rio de Janeiro: um cinema nacional de cunho progressista. O primeiro e talvez o mais conhecido filme da Atlântida foi ´Moleque Tião´, com Grande Otelo. E a Atlântida também é famosa pelos filmes carnavalescos dirigidos pelo Watson Macedo: ´Não adianta chorar´, ´Fantasma por acaso´, enfim, chanchadas que aproveitavam o carnaval."

Um dos filmes de maior sucesso nesse período foi "Carnaval no fogo", de Watson Macedo, lançado em 1949. Oscarito encarna Romeu e Grande Otelo vive Julieta numa paródia típica das chanchadas, que os consagra como os principais comediantes da época.

FILME: "Carnaval no Fogo" (de Watson Macedo)
"-Julieta, quero sentir o perfume do corpo teu. Quero beijar a poupa virginal dos lábios teus, para que sintas a rubla flor dos lábios meus.
- Oh, Romeu. A máscara noturna esconde a minha face e tu não podes ver o meu pudor de donzela.
- Meu amor, minha amada, por que és tão bela?"

Segundo Fernão Ramos, as chanchadas da Atlântida acabaram atropeladas pelos grandes estúdios paulistas dos anos 50. Vladimir Carvalho concorda e cita a Vera Cruz como a grande produtora da época, responsável por um rigor mais técnico nas produções.

"Os maiorais do cinema paulista, junto com empresários importantes de origem italiana, fizeram um estúdio em São Bernardo do Campo. E dessa empreitada, surgiram filmes importantíssimos, como ´O cangaceiro´, por exemplo, que ganhou prêmio em Cannes. Muitos técnicos, assistentes e pessoas que tinham uma certa cultura cinematográfica vinda da Europa. De repente aquilo se tornou uma coisa importantíssima para o cinema brasileiro, embora um tanto quanto desvinculada do mercado."

"O Cangaceiro", lançado pela Vera Cruz em 1953, foi dirigido por Lima Barreto e ganhou o prêmio de melhor filme de aventura do Festival de Cannes, na França, e de melhor filme no Festival de Edimburgo, na Escócia. A obra inaugura a temática do cangaço no cinema nacional.

Outro grande estímulo vindo do exterior foi a almejada Palma de Ouro do Festival de Cannes, na França, concedida ao filme brasileiro "O pagador de promessas", de Anselmo Duarte, em 1962. O ator Antônio Pitanga, que interpretou o personagem "Mestre Coca" nesse filme, relembra o impacto do reconhecimento internacional do cinema brasileiro, naquela época.

"Para as pessoas que faziam cinema, foi uma alavanca que se deu para que todos nós tivéssemos a certeza de que estávamos no caminho certo. Então, ´O pagador de promessas´ não só foi congrador para o reconhecimento do cinema brasileiro mundialmente, mas também para a legitimidade que o cinema brasileiro começava a ter em todos os países em que estavam acontecendo festivais."

Mesmo ainda longe dos padrões hollywoodianos e europeus, é inegável que o cinema nacional já havia chegado à maturidade, na década de 60. O cotidiano urbano e rural entupindo as telas, a cultura real e ficcional sobre temas ligados ao Brasil e as histórias contadas em bom português conquistam platéias e ajudam a formar gerações de aficcionados pela sétima arte.

De Brasília, José Carlos Oliveira

"UMA CÂMERA NA MÃO E UMA IDÉIA NA CABEÇA". O CINEMA NOVO ESTARÁ EM CARTAZ AMANHÃ, NESTA SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS SOBRE O CINEMA BRASILEIRO.

ESTA SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS VAI AO AR DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA EM DOIS HORÁRIOS: DENTRO DO JORNAL CÂMARA ABERTA, ÀS 07:30 DA MANHÃ E TAMBÉM AS ONZE HORAS DA NOITE. SE VOCÊ QUISER, AS MATÉRIAS TAMBÉM ESTÃO DISPONÍVEIS EM NOSSA PÁGINA NA INTERNET, NO ENDEREÇO WWW.RADIO.CAMARA.GOV.BR/RADIO

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h