Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Religiosidade 5 - Sincretismo e Ecumenismo nas relações religiosas (06'44")

24/12/2007 - 00h00

  • Especial Religiosidade 5 - Sincretismo e Ecumenismo nas relações religiosas (06'44")

HOJE, NO ENCERRAMENTO DA SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS SOBRE A RELIGIOSIDADE DO BRASILEIRO, VAMOS DESTACAR O SINCRETISMO E O ECUMENISMO NAS RELAÇÕES RELIGIOSAS NO PAÍS.

Salvador, Largo do Pelourinho, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, toda terça-feira, às seis da tarde: Católicos fervorosos, Umbandistas e seguidores do Candomblé dividem espaço pacificamente na mais perfeita dimensão do sincretismo religioso baiano.

"Canto XI", c/Geraldo Filme
"Otê! Pade Nosso cum Ave Maria,
securo camera qui
t´Angananzambê, aiô..."

A "missaxé" tem liturgia e ritos católicos, mas os cânticos ganham o vigor dos tambores, atabaques, agogôs e cavaquinho do afoxé. No ofertório, mães de santo entram na igreja conduzindo pão e rodopiando ao som de sons afros, demonstrando fé na divindade suprema, que ora é Deus, ora é Oxalá.

"Canto XII", c/Clementina de Jesus
"São João foi céu, foi passiá;
Foi visitá Noss´Sinhô..."

Mais do que sincretismo, o encontro respeitoso entre católicos e seguidores de cultos afros celebra ideais de bondade, amor ao próximo e respeito à vida, que estão presentes em todas as religiões. O psicólogo Eduardo Chakora já teve ligações com o cristianismo e o budismo, mas hoje prefere dar vazão a uma religiosidade mais livre dos tradicionais dogmas religiosos. A relação respeitosa que mantém com todas as religiões lhe permite comungar dos momentos sublimes de reflexão espiritual, presentes em todos os credos.

"Eu não me oponho às religiões. São muitas as casas de Deus e onde eu vou, eu entro na história, entro nos lugares, abaixo a cabeça e fico ali participando. Eu quero entrar em comunhão onde quer que eu esteja. Uma pessoa religiosa não está se opondo. Ela está sempre com uma atitude de receptividade dentro dela, aprendendo em cada lugar, em cada ambiente em que ela está, por mais que ela divirja sobre alguns pontos de vista."

A empresária Nádia Ali já foi discípula de OSHO, passou pelo Catolicismo, Espiritismo, Budismo, Xamanismo, Santo Daime, igreja Messiânica, Seicho-no-ie e Umbanda até chegar hoje ao Protestantismo. Para quem estranha a trajetória por religiões de dogmas tão distintos, ela tem uma resposta na ponta da língua.

"Eu sempre achava que, naquela hora, eu estava no lugar certo. Eu sempre busquei o encontro com Deus e a busca interior. Talvez até a tônica da minha vida tenha sido essa. E eu sempre me orgulhei de ser uma pessoa que respeitava: eu tenho uma filha católica, um filho que não está nem aí para nenhuma religião e um outro que era evangélico desde pequenininho."

Na casa de Nádia Ali, em Brasília, reina o espírito ecumênico, que permite a convivência pacífica e respeitosa de várias religiões. É, mais ou menos, o que acontece no Brasil inteiro, onde convivem seguidores de todos os credos, como constata o subsecretário nacional de promoção e defesa dos direitos humanos, Perly Cipriano.

"Uma religião que é maioria num país pode ser minoria em outro, num estado ou numa região. Cristão é maioria no Brasil, mas na Indonésia, não. Essa convivência da família humana, com as diferentes maneiras de manifestar a religiosidade, precisa ser compreendida e respeitada. O Brasil tem avançado muito neste sentido."

Uma pesquisa recente do Datafolha mostrou que os espíritas são os que mais freqüentam cultos de outras religiões: 26 por cento deles admitiram esse comportamento e a maioria revelou predileção por missas católicas. Entre os evangélicos neopentecostais, como os da Universal do Reino de Deus, por exemplo, 15 por cento disseram ir a outras igrejas, principalmente às católicas e às pentecostais, como a Assembléia de Deus. E 19 por cento dos católicos também confessaram que costumam visitar outras religiões, mostrando preferência pelas igrejas evangélicas pentecostais.

Ainda estão vivos na memória do país os atos ecumênicos que reuniram católicos, evangélicos, judeus, espíritas e seguidores de cultos afros na luta pela redemocratização do Brasil durante a ditadura militar. Os fantasmas daquele período de trevas na história do país estão sendo gradualmente exorcizados. No entanto, o Brasil de hoje convive com outros fantasmas, como a violência urbana, os crimes hediondos e a corrupção, que também podem ser combatidos por meio dos laços de união ecumênica. O psicólogo Eduardo Chakora aposta na velha linguagem da religião para a reconstrução da solidariedade e dos vínculos sociais que reduzam a fragmentação e o conflito generalizado na sociedade.

"As religiões em si são o que a gente chama de ciência do interior. Elas ajudam você a tomar conhecimento do que existe dentro de você e além de você. E isso é muito importante no mundo de hoje, onde a gente está muito focado na matéria, no ter as coisas, ter poder, dinheiro e projeção. As religiões, muitas vezes, vêm na contramão disso porque vêm trazendo a importância de você resgatar valores simples da vida, do cuidado, do amor, da amizade, de curtir o planeta."

Chakora deixa o recado que, independentemente de ser ateu ou seguidor de uma das cerca de 80 denominações religiosas presentes no Brasil, o importante é buscar a religiosidade que existe dentro de cada pessoa. Solidariedade, harmonia e bondade são objetivos comuns a todos os credos e ingredientes indispensáveis para a construção de um mundo de paz.

MÚSICA: "Guerra santa" (Gilberto Gil)
"O nome de Deus pode ser Oxalá, Jeová, Tupã, Jesus, Maomé. Maomé, Jesus, Tupã, Jeová, Oxalá e tantos mais. Sons diferentes, sim, para sonhos iguais."

De Brasília, José Carlos Oliveira

A REPORTAGEM ESPECIAL DESSA SEMANA TEVE PRODUçãO DE LUCéLIA CRISTINA E MôNICA LION E EDIÇÃO DE APRÍGIO NOGUEIRA. AS CINCO MATéRIAS DA SéRIE SOBRE RELIGIOSIDADE ESTãO DISPONíVEIS PARA AUDIçãO OU DOWNLOAD NO ENDEREçO WWW.CAMARA.GOV.BR/RADIO.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h