Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Licença-Maternidade 3 - Especialistas avaliam impactos do aumento da licença-maternidade no mercado (06'07")

10/12/2007 - 00h00

  • Especial Licença-Maternidade 3 - Especialistas avaliam impactos do aumento da licença-maternidade no mercado (06'07")

NA SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS DESTA SEMANA, A RÁDIO CÂMARA APRESENTA UM DEBATE SOBRE A AMPLIAÇÃO DA LICENÇA MATERNIDADE.

A CÂMARA DOS DEPUTADOS E O SENADO APROVARAM PROJETOS QUE AMPLIAM A LICENÇA MATERNIDADE DE QUATRO PARA SEIS MESES, SENDO QUE ESSAS PROPOSTAS AINDA ESTÃO TRAMITANDO NO CONGRESSO.

NA MATÉRIA DE HOJE, ESPECALISTAS DO MERCADO DE TRABALHO AVALIAM SE O AUMENTO DA LICENÇA PODE INTERFERIR NO ESPAÇO DA MULHER NO MERCADO

As conquistas profissionais para as mulheres demoraram para chegar. O espaço no mercado e as leis trabalhistas foram batalhadas ao longo de décadas, especialmente no século XX. E quando se fala em ampliação da licença maternidade, o primeiro questionamento é como a medida vai afetar a vida profissional das trabalhadoras. E parece haver um consenso entre analistas e empresários: a despeito de todos os benefícios que a ampliação da licença maternidade pode trazer, a mudança deverá atrapalhar a vida profissional das mulheres, em especial as que trabalham nas fábricas e no comércio. É o que pondera Silvana Case, que é vice-presidente do grupo Catho, empresa especializada em encaminhamento de profissionais ao mercado.

"Eu até acho que seis meses é pouco, tanto para a mãe quanto para a criança. É uma fase de adaptação, e como toda fase de adaptação, ela é difícil. Porém, olhando do lado do mercado de trabalho, eu acredito que isso pode complicar um pouco para mulher. Eu acredito que o todo o espaço que a gente conquistou nos últimos vinte anos poderá retroceder um pouquinho, principalmente no nível não executivo, no nível chão de fábrica, onde o número de filhos é maior".

Para Silvana Case, as mulheres de classe média serão as maiores beneficiadas com as propostas que poderão aumentar a licença maternidade de quatro para seis meses. Ela aponta que as executivas que ocupam cargos de direção dificilmente ficam quatro meses afastadas da empresa. E mesmo estando em casa, algumas seguem acompanhando a rotina profissional por telefone ou internet. No entanto, a mulher que exerce atividades mais corriqueiras seria mais frágil nessa cadeia, de acordo com consultor Gutemberg de Macedo.

"A minha preocupação não é com essa mulher executiva, porque a mulher executiva tem mais conhecimento, mais recursos, mais opção, mais caminhos de saída. A mulher operária não. A mulher operária que trabalha em uma fábrica textil ela não tem quase que opção de carreira. Então essa mulher poderá ser prejudicada se ela se afasta da empresa por seis meses".

Mesmo que a Previdência pague pela licença maternidade ou que o governo conceda incentivos fiscais para empresas que aderirem aos seis meses, Gutemberg de Macedo prevê que os empresários irão avaliar a contratação de mulheres com mais cuidado.

A Câmara dos Deputados está analisando uma proposta de emenda constitucional que amplia a licença maternidade de quatro para seis meses para todas as trabalhadoras formais. Já o Senado aprovou e enviou para a análise na Câmara um projeto de lei que cria benefícios fiscais para empresas que ampliarem a licença. Antônio Augusto de Moraes é presidente do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal e dono de oito lojas de material esportivo. Ele é taxativo: a ampliação da licença maternidade vai prejudicar a contratação de mulheres na faixa etária dos 20 aos 35 anos.

"Na hora da admissão entre uma pessoa do sexo masculino e outra do sexo feminino que esteja nessa faixa etária, obviamente irá pesar bastante contra as mulheres. Por isso nós queremos chamar a atenção, considerando também o alto custo que isso leva à empresa, lembrando que terá que ter mais uma outra pessoa para repor aquela que está de férias, e isso irá com certeza dificultar muito a contratação de mulheres".

Na sua crítica aos projetos de ampliação da licença maternidade, o empresário lamenta que os custos dos benefícios sociais tenham de ser pagos pelo setor produtivo em vez de serem bancados pelo governo.

Seja de quatro ou seis meses, um dia a licença maternidade acaba e a mulher precisa deixar seu bebê em casa para voltar ao trabalho. Um dos conflitos mais presentes para a mulher de hoje é como conciliar suas múltiplas jornadas. Manter uma vida profissional com todas as suas cobranças e dar atenção aos filhos pode ser uma equação difícil de solucionar. A psicanalista Magdalena Ramos, do Núcleo de Casal e Família da PUC de São Paulo, explica que nos primeiros anos os filhos realmente querem a mãe por perto o tempo todo. Mas ela destaca que não é preciso dedicação integral para ter uma boa relação com as crianças. Na avaliação da terapeuta, o que conta é a qualidade do tempo que pais e filhos passam juntos.

" Uma mãe que trabalha, se ela pode dedicar três, quatro horas do dia bem dedicadas, e não por exemplo, chegar em casa e começar a ir para o computador, ou ficar ligando pelo telefone ou vendo televisão, coisas que obviamente a mulher também gosta de fazer, mas que essas horas, eu diria que são sagradas para se dedicar para o filho, o filho precisa muito disso".

Magdalena Ramos finaliza dizendo que se houver atenção de qualidade nessas poucas horas, o filho cresce sabendo que pode contar com a mãe. Mais do que muitas horas juntos, é esse elo de confiança que traz proximidade para a relação de pais e filhos.

De Brasília, Daniele Lessa

AMANHÃ, NA SÉRIE ESPECIAL SOBRE A AMPLIAÇÃO DA LICENÇA MATERNIDADE, AS MAMÃES VÃO CONTAR UM POUCO DE SUA EXPERIÊNCIA E OPINAR SOBRE ESSE DEBATE. ESPECIALISTAS TAMBÉM VÃO DETALHAR A IMPORTÂNCIA DA PROXIMIDADE ENTRE A MÃE E O RECÉM NASCIDO. AS CINCO REPORTAGENS DESTA SÉRIE SOBRE A AMPLIAÇÃO DA LICENÇA MATERNIDADE TAMBÉM PODEM SER OUVIDAS NA PÁGINA DA RÁDIO CÂMARA NA INTERNET PELO ENDEREÇO WWW.RADIO.CAMARA.GOV.BR

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De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h