Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Samba 5 - O lirismo, o humor e a crítica social do samba (07'01'')

03/12/2007 - 00h00

  • Especial Samba 5 - O lirismo, o humor e a crítica social do samba (07'01'')

NA SÉRIE ESPECIAL SOBRE O SAMBA QUE APRESENTAMOS DURANTE TODA ESTA SEMANA, HOJE É DIA DO LIRISMO, DO HUMOR E DA CRÍTICA SOCIAL QUE ENCERRAM, COM CHAVE DE OURO, AS REPORTAGENS EM HOMENAGEM AO DIA NACIONAL DO SAMBA, COMEMORADO EM 02 DE DEZEMBRO.

MÚSICA: "As rosas não falam" (de Cartola)
"Queixo-me as rosas, mas que bobagem
As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti, ai..."

De descendência africana, o samba foi ganhando elementos locais ao longo dos anos até se transformar em manifestação genuinamente brasileira a ponto de ser declarado "patrimônio cultural" do país. Gente simples do morro, das periferias, às vezes sem muito estudo, conseguiram imprimir lirismo, humor e crítica social ao samba dolente ou contagiante. Cartola, autor desse poema musical chamado "As rosas não falam", vivia na favela, foi pedreiro e freqüentou a escola só até o primário. Mas, seu parceiro Elton Medeiros explica porque essas limitações nunca inibiram a maestria das músicas do líder mangueirense.

"O curso primário do tempo do Cartola não é o curso primário de hoje. O Cartola lia muito poesia. Ele gostava de Guerra Junqueira, do (Olavo) Bilac, do Vinícius (de Moraes). Gostava de poetas de diferentes tendências e de épocas diferentes. O Cartola era muito sensível. Sobre ele eu sei porque era meu parceiro e eu estava muito junto dele."

O próprio Cartola, em entrevista à TV Cultura em 1974, revelava que é um erro sempre associar a malandragem e a vida despojada dos sambistas ao abandono dos estudos. Ele cita, por exemplo, o caso de Carlos Cachaça, fundador da Mangueira e seu parceiro em clássicos como "Alvorada" e "Não quero mais amar a ninguém".

"O Carlos Cachaça foi nascido em Mangueira. Eu não. Fui para Mangueira com 11 anos e já o encontrei lá. Era vagabundo, jogador, bebedor, mas com todas essas bagunças que ele fazia, ele estudou. Estudou muito e se aposentou como escriturário da Estrada de Ferro Central do Brasil."

E quando se unem a voz inigualável de Clara Nunes com a poesia de Nelson Cavaquinho?

MÚSICA: "Juízo final" (de Nelson Cavaquinho, com Clara Nunes)
"O sol
Há de brilhar mais uma vez
A luz
Há de chegar aos corações
Do mal
Será queimada a semente
O amor
Será eterno novamente..."

Não existe uma receita única de samba que justifique preciosidades como essa. Os próprios mestres da música tentam explicar suas fórmulas. Noel Rosa, por exemplo, dizia que "o samba nasce do coração".

MÚSICA: "Feitio de oração" (de Noel Rosa, com Francisco Alves)
"Batuque é um privilégio,
Ninguém aprende samba no colégio,
Sambar é chorar de alegria,
É sorrir de nostalgia,
Dentro da melodia..."

Paulinho da Viola foi buscar explicação naqueles momentos de solidão do sambista.

MÚSICA: "Quando bate uma saudade" (de Paulinho da Viola)
"Quando o poeta se encontra
Sozinho num canto qualquer do seu mundo
Vibram acordes, surgem imagens
Soam palavras, formam-se frases..."

Tais acordes, imagens, palavras e frases podem remeter a assuntos simples do cotidiano, como sempre faz com maestria o baiano Dorival Caymmi.

MÚSICA: "Maracangalha" (de Dorival Caymmi, com Jussara Silveira e Irmãos Almeida)
"Eu vou pra Maracangalha, eu vou
Eu vou de uniforme branco, eu vou
Eu vou de chapéu de palha, eu vou
Eu vou convidar Anália, eu vou...

Mas os problemas sociais, políticos e econômicos também servem de temas para sambas. Alguns, como Moreira da Silva, o rei do samba-de-breque, preferem o humor para, como um cronista do dia-a-dia, reclamar dos efeitos das enchentes no Rio de Janeiro.

MÚSICA: "Cidade Lagoa" (de Cícero Nunes e Sebastião Fonseca, com Moreira da Silva)
"Que maravilha nossa linda Guanabara
Tudo enguiça, tudo pára
Todo trânsito engarrafa
Quem tiver pressa, seja velho ou seja moço
Entre n´água até o pescoço
E peça a Deus pra ser girafa..."

Adoniran Barbosa era outro adepto do humor, mas também denunciava, com seriedade, a opressão contra as comunidades carentes.

MÚSICA: "Despejo na favela" (de Adoniran Barbosa)
"Quando o oficial de justiça chegou
Lá na favela
E contra o seu desejo
Entregou pra seu Narciso
Um aviso, uma ordem de despejo
Assinada "Seu Doutor"
Assim dizia a petição:
"Dentro de dez dias quero a favela vazia
E os barracos todos no chão..."

Seja qual for o tema, nossos sambistas tradicionais sempre associam a técnica musical do samba com a inspiração que sabe-se lá de onde vem. Aliás, não importa de onde ela venha. O que importa é que ela retrate a alma de nossa gente, como sugerem Silas de Oliveira e Mano Decio da Viola, nesta "Apoteose ao samba".

MÚSICA: "Apoteose ao samba" (de Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola, com Jamelão)
"Samba, quando vens aos meus ouvidos
Embriagas meus sentidos
Trazes inspiração
A dolência que possuis na estrutura
É uma sedução
Vai alegrar o coração daquela criança
Que com certeza está morrendo de paixão
Samba, soprado por muitos ares
Atravessastes os sete mares
Com evolução
O teu ritmo quente
Fica ainda mais ardente
Quando vem da alma de nossa gente"

De Brasília José Carlos Oliveira

ESTA MATÉRIA SERÁ REPRISADA LOGO MAIS, ÀS 11 DA NOITE. A REPORTAGEM ESPECIAL DESTA SEMANA TEVE PRODUÇÃO DE LUCÉLIA CRISTINA E MÔNICA LION, REPORTAGENS E APRESENTAÇÃO DE JOSÉ CARLOS OLIVEIRA, EDIÇÃO E COORDENAÇÃO DE APRÍGIO NOGUEIRA E TRABALHOS TÉCNICOS DE RIBAMAR DE CARVALHO.

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De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h