Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Cinema 5 - Novas tendências do cinema brasileiro (07'22'')

22/10/2007 - 00h00

  • Especial Cinema 5 - Novas tendências do cinema brasileiro (07'22'')

AS NOVAS TENDÊNCIAS DO CINEMA BRASILEIRO ENCERRAM HOJE A SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS. VOCÊ VAI VER QUE OS DOCUMENTÁRIOS ESTÃO EM ALTA NA PRODUÇÃO NACIONAL. CONFIRA COM O REPÓRTER JOSÉ CARLOS OLIVEIRA.

Ao longo dessa semana, vimos que o cinema brasileiro começou a engatinhar lá no fim do século XIX, no Rio de Janeiro; revelou modos bem próprios de produção, como nas chanchadas e no Cinema Novo, no século passado; e vem obtendo reconhecimento internacional cada vez maior no século atual. E qual é o futuro que está reservado para o cinema nacional? Hoje poucos se arriscam a entrar nesse jogo de aposta. Pode-se fazer, no máximo, a identificação de tendências que poderão ou não vingar na cinematografia nacional.

Quanto ao gênero, é inegável o despertar dos cineastas brasileiros para os documentários. Eles já correspondem sozinhos a uma média anual de cerca de 40 por cento dos filmes produzidos no país. Fernão Ramos, que já presidiu a Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema, constata essa atual tendência.

"A produção documentária, como se diz na gíria, ´está bombando´. Há um monte de jovens interessados em fazer documentários. Os festivais de cinema documentário também são muito dinâmicos. Essa é uma tendência forte no cinema contemporâneo, coisa que há 10 anos atrás ninguém falava de documentário e se achava que documentário era uma coisa do arco da velha, antiga, chata. Hoje em dia, não. As pessoas têm uma idéia diferente do documentário: uma coisa dinâmica, forte e, principalmente, com uma nova geração de documentaristas bastante talentosa."

Documentarista veterano, Vladimir Carvalho também se empolga com o atual momento desse gênero cinematográfico no Brasil. Ele relembra saudoso da primeira vez em que viu um documentário em Recife, na década de 50, e do trabalho como assistente de Eduardo Coutinho no clássico ´Cabra marcado para morrer´, que aborda o assassinato do líder da Liga Camponesa de Sapé, na Paraíba. Vladimir conta que a ditadura militar sacrificou o gênero, na década de 60. Seu filme ´O país de São Saruê´, inspirado em cordel para mostrar a dificuldade de sobrevivência no nordeste, só pôde ser exibido nove anos depois de concluído.

"A ditadura foi devastadora para o cinema, de modo geral. No meu caso, eu me considero uma vítima. Até hoje tenho as marcas de dívidas, porque o meu filme pronto foi praticamente interditado. Saiu no Diário Oficial: a proibição de ´São Saruê´ como um filme que atentava contra a dignidade e os interesses do país. Imagina você. Era até risível."

Hoje não é assim. Os documentários, sem censura, ajudam a mostrar a realidade brasileira e a despertar debates. José Padilha dirigiu "Ônibus 174", sobre o trágico seqüestro de um coletivo no Rio de Janeiro, e também produziu "Estamira", sobre uma mulher esquizofrênica que ganha a vida catando lixo num aterro sanitário da Baixada Fluminense. Essencialmente documentarista, Padilha já trabalha em outros dois projetos do gênero. Ele conta porquê teve de abrir mão do documentário ao decidir levar "Tropa de elite" para as telas.

"O documentário funcionou muito bem e aquilo motivou a gente a continuar fazendo documentários sobre problemas que a gente achava que deveriam ser debatidos e que era importante trazer ao conhecimento do público. Esse foi o nosso trabalho sempre, até que a gente chegou ao tema de ´Tropa de elite´, um tema policial. A gente também tentou fazer esse filme como documentário. Era muito difícil filmá-lo assim. Então, a ficção aconteceu para a gente pela impossibilidade de realização de um documentário."

As tecnologias modernas e a atuação de ONGs nas comunidades carentes têm facilitado a revelação de novos talentos. A jornalista e pesquisadora Maria do Rosário Caetano explica que essa combinação pode gerar incontáveis tendências para o cinema nacional.

"Com as novas tecnologias, qualquer jovenzinho vai com a câmera para as ruas e faz um filme, que pode ser ampliado para até 35 mm. Então, o cinema, que até os anos 70, era com câmeras pesadas, com pessoas muito qualificadas que se preparavam para enfrentar aquela tecnologia, hoje chega às favelas: a Cufa, Central Única das Favelas; o pessoal do ´Nós do morro´ e ´Nós do cinema´; aqui em São Paulo, as oficinas Quino Fórum. Jovens das grandes periferias urbanas estão fazendo seus filmes."

Para Maria do Rosário, a linha mais experimental e de pesquisa de linguagem, como nos filmes de Júlio Bressane, por exemplo, também apresenta uma trajetória firme de permanência no cinema brasileiro. Ela ainda aposta na temática social, que escancara aspectos do subdesenvolvimento do país e da violência urbana. Já Fernão Ramos, que também organizou a "Enciclopédia do Cinema Brasileiro", afirma que a influência televisiva sobre o cinema ainda vai durar por mais algum tempo.

"Eu acho que se tem uma tendência forte ligada à produção televisiva, com o aproveitamento de figuras públicas da televisão, desde Xuxa, passando por Casseta & Planeta. Uma tendência de vanguarda forte: esse que eu chamo de cinema um pouco mais ´dilacerado´, como ´Cheiro do ralo´, ´Querô´, ´Carandiru´ e ´Tropa de elite´ etc, que tematizam a questão da representação do povo."

Apesar de alguns problemas estruturais de produção, a atual fase do cinema nacional é tão promissora que até leva um veterano da dramaturgia a fazer declarações explicita e conscientemente ufanistas. Antônio Pitanga, que atuou em mais de 80 filmes brasileiros, enche o peito para falar do show de criatividade e de talento dos novos atores e cineastas de cada canto do país.

"O cinema renasce na era pós-Collor com uma vitalidade tamanha. Ele renasce exatamente a partir da descentralização, em que os estados começam a produzir. Você tem o Rio Grande do Sul fazendo o melhor filme, Bahia, São Paulo, Minas Gerais, Brasília, Rio de Janeiro... O futuro do cinema mundial está no cinema brasileiro por conta, exatamente, dessa riqueza de cultura que esse país emana. É importante eu estar vivo para registrar isso, começando lá atrás com todas as dificuldades. E com todas as dificuldades que ainda existam, mas com um encorajamento fantástico."

A profusão de culturas do Brasil pode realmente se transformar num trunfo inestimável para que o país se orgulhe da imensa variedade temática de filmes que produz. E, como num poema de Drummond, continue a se encantar com a magia da sétima arte.

TRILHA (bg) + POEMA ("Canto ao homem do povo", de Drummond)
"Falam por mim os que estavam sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo.
Que entraram no cinema com a aflição de ratos fugidos da vida,
São duas horas de anestesia, ouçamos um pouco de música,
Visitemos no escuro as imagens - e te descobriram e salvaram-se..."

De Brasília, José Carlos Oliveira

A SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS SOBRE O CINEMA NACIONAL TEVE COORDENAÇÃO DE APRÍGIO NOGUEIRA, PRODUÇÃO DE LUCÉLIA CRISTINA E MÔNICA LION E TRABALHOS TÉCNICOS DE CHICO MENDES, ANTÔNIO ARAÚJO E RODRIGO SANTOS.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h