Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Gargalos da Economia 1: falta de investimentos no setor de infra-estrutura - (05'31'')

01/10/2007 - 00h00

  • Especial Gargalos da Economia 1: falta de investimentos no setor de infra-estrutura - (05'31'')

A economia brasileira vem crescendo há 22 trimestres consecutivos. De abril a junho deste ano, o Produto Interno Bruto avançou 5,4% em comparação a igual período do ano passado. O governo espera um crescimento de 4,7% para este ano e de 5% para o ano que vem. O setor produtivo, porém, se queixa de uma série de fatores que hoje freiam a expansão do PIB. Problemas de infra-estrutura, alta carga tributária e dúvidas sobre a capacidade energética do país estão entre os empecilhos apontados. O escoamento da produção esbarra em rodovias precárias, gestão deficiente dos portos e malha ferroviária limitada. Todos esses gargalos afastam os investimentos, conforme destaca José de Freitas Mascarenhas, presidente do Conselho Temático de Infra-Estrutura da Confederação Nacional da Indústria.

"Ninguém faz investimento privado sem estar pautado numa infra-estrutura pública eficaz. O setor privado não investe em infra-estrutura, a não ser em situações limitadas, quando é chamado nas concessões, e assim mesmo por tempo determinado. Então, a infra-estrutura é crucial para a atividade privada."

Recentemente, a Companhia Vale do Rio Doce, segunda maior mineradora do mundo, anunciou o adiamento de projetos por falta de infra-estrutura interna para desenvolvê-los. Para superar os limites do crescimento econômico, o governo federal lançou, no início deste ano, o Programa de Aceleração do Crescimento. O PAC prevê investimentos de mais de 500 bilhões de reais até 2010, grande parte recursos públicos. Mas faltam medidas de incentivo aos investimentos privados, na opinião de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.

"O PAC comete o pecado original de não trazer medidas pró-negócios, medidas que deixem claro e incentivem o setor privado a colocar recursos na infra-estrutura. E sem recursos privados não se consegue vencer o estrangulamento e pode, no limite, comprometer o crescimento econômico por falta de infra-estrutura. O que precisa ser entendido pelo governo é que o setor privado tem agilidade suficiente para resolver problemas que o setor público não tem."

Responsável por X% da economia brasileira, a agropecuária também se ressente das deficiências logísticas. Nos últimos 30 anos, as fronteiras agrícolas se ampliaram do Sul e do Sudeste para o centro-norte do Brasil. As áreas novas, entretanto, ainda carecem de infra-estrutura adequada para o escoamento da produção, principalmente no setor portuário. Segundo Luiz Antonio Fayet, consultor de Logística e Infra-Estrutura de Transportes para o Agronegócio da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, isso resulta em custo maior para o produtor rural.

"Essa é uma razão que explica o que eu tenho chamado de paradoxo do setor rural brasileiro. O setor rural brasileiro está na vanguarda mundial em termos de capacidade produtiva, tecnologia, é de primeiro time, os preços internacionais estão ótimos e o setor rural brasileiro está quebrado. Está quebrado porque perde em uma série de fatores: no câmbio, na tributação, mas perde muito, fundamentalmente, na estrutura logística do país. O custo Brasil é muito elevado."

Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, alerta que o custo elevado da produção pode fazer o Brasil perder competitividade no mercado mundial.

"O Brasil hoje tem setores altamente competitivos no mercado internacional - carne, soja, etanol e outros produtos industriais. Agora, sem logística, você começa a não ter competição, tanto no sentido de fazer com que chegue o produto ao país externo como perde competitividade. Sem logística adequada, os preços dos produtos sobem muito."

O setor produtivo assinala algumas medidas necessárias para permitir um crescimento maior da economia brasileira. Entre elas estão investimentos público e privado em rodovias, modernização da gestão dos portos, solução de questões que dificultam o tráfego ferroviário, como o das habitações em áreas de domínio das ferrovias e o grande número de passagens de nível. José de Freitas Mascarenhas, do Conselho Temático de Infra-Estrutura da CNI, resume a dimensão do desafio.

"Vamos precisar de vários PACs, um só não é suficiente. Mas que faça este com eficiência e já é um avanço."

Na segunda reportagem da série sobre os entraves ao crescimento econômico do Brasil,
a mais indesejável das cargas para as empresas, a carga tributária.

De Brasília, Marise Lugullo

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