Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Povos da Florestas 1 - O cotidiano e a cultura dos povos indígenas ( 06' 29" )

26/09/2007 - 00h00

  • Especial Povos da Florestas 1 - O cotidiano e a cultura dos povos indígenas ( 06' 29" )

A PARTIR DE HOJE, A RÁDIO CÂMARA APRESENTA UMA SÉRIE DE REPORTAGENS SOBRE O SEGUNDO ENCONTRO NACIONAL DOS POVOS DAS FLORESTAS. ATÉ A PRÓXIMA SEXTA-FEIRA, VOCÊ VAI CONFERIR QUAIS AS BANDEIRAS DEFENDIDAS HOJE PELAS POPULAÇÕES INDÍGENAS E PELOS MORADORES QUE CONVIVEM DIRETAMENTE COM A VEGETAÇÃO, COMO SERINGUEIROS E PEQUENOS PRODUTORES RURAIS. O EVENTO, QUE ACONTECEU EM BRASÍLIA ENTRE OS DIAS 18 E 23 DE SETEMBRO, REUNIU MAIS DE 3.000 PARTICIPANTES PARA A DISCUSSÃO DE TEMAS COMO O USO SUSTENTÁVEL DAS FLORESTAS, MUDANÇAS CLIMÁTICAS, REDUÇÃO DA POBREZA E MELHORES CONDIÇÕES DE MORADIA E QUALIDADE DE VIDA PARA OS POVOS TRADICIONAIS QUE VIVEM NA AMAZÔNIA E NOS BIOMAS DA MATA ATLÂNTICA, PANTANAL, CERRADO, PAMPA E CAATINGA. NA MATÉRIA DE HOJE, A REPÓRTER DANIELE LESSA CONTA UM POUCO DO COTIDIANO E DA CULTURA DE ALGUNS DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL. CONFIRA OS DETALHES

Para eles, a vida trouxe outros rituais. Em vez da valsa dos quinze anos para as meninas, são os meninos que ganham uma festa, e nessa celebração, a moça mais bonita é a Tucandeira, formiga gigante e venenosa. O poder das plantas é celebrado todos os dias, e os homens ainda podem se casar com várias mulheres. Os povos indígenas do Brasil são uma riqueza inesgotável e apaixonante de cultura.

Os Satere Mawe, que vivem perto de Parintins, no Amazonas, são conhecidos como os filhos do guaraná. O líder Jecynaldo conta que sua tribo domesticou a planta que hoje corre o mundo. Todos os dias, antes do trabalho, os índios se sentam em roda e esperam que uma das mulheres rale o guaraná, chamado de sapó. Usando uma pedra ou a língua do pirarucu, ela vai tirando o sumo da planta, que estimula a inteligência e dá energia. Jecynaldo explica que a cuia deve passar pela roda várias vezes.

"E não pode tomar uma vez só não, tem que tomar duas, três ou quatro vezes. Porque se tomar só uma vez você pode ter vários problemas: você pode perder a sua mulher, seu filho pode nascer com algum problema ou você ser prejudicado na sua saúde".

Quando tinha catorze anos, Jecynaldo se apaixonou pela Tucandeira, e para conquistá-la, colocou sua mão em uma luva repleta das formigas venenosas. É o rito de passagem dos Satere Mawe para que os jovens meninos mostrem que já podem ser homens.

"Essa Tucandeira é uma mulher muito bonita, ela é mulher muito bonita. Nós, jovens, a gente se apaixona por ela, a gente enxerga na Tucandeira, nessa formiga, uma mulher, e nós quer se apaixonar por ela. A gente enfrenta a dor pela mulher,e aí a gente já tá preparado pra enfrentar a vida, pra fazer nossa roça, pra ter nossa mulher, pra ter nosso filho, pra plantar, pra caçar, pra pescar, pra fazer todos os trabalhos de nosso povo".

Ter muitos filhos é algo absolutamente comum entre os povos indígenas, que se casam logo depois da puberdade, aos catorze ou quinze anos. Aos 29 anos, Jecynaldo Satere Mawe é casado com duas mulheres. A primeira está em sua tribo, com dois filhos. A segunda, que é do povo Tikuna, ele conheceu no movimento indígena, e com ela tem mais dois filhos. Jecynaldo garante que não há conflitos entre as duas.

A moça que ouvimos cantar é Cláudia Tikuna, uma das mulheres de Jecynaldo. A moça que divide um marido sem grandes conflitos culturais possui uma beleza impressionante e transmite força em suas palavras. Aos 16 anos, ela saiu da aldeia Tikuna, no Alto Solimões, para aprender português. Logo em seguida, entrou no movimento indígena e conta que havia um certo preconceito por ela atuar na causa sem estar casada. Hoje ela faz da música um meio de conscientização para que outras mulheres percebam a importância de suas próprias idéias e opiniões.

"É importante que nós estejamos entendendo o que nossos homens estão fazendo e como é que nós, mulheres indígenas, sendo guerreiras e preparadas para estar ao lado dos guerreiros, o que fazer nessa hora. Vamos ficar paradas em casa ou vamos para a batalha juntos? Então nós decidimos ir para a batalha juntos".

Cláudia fala que é preciso sair da aldeia em busca de ferramentas que possam justamente preservar a cultura e o conhecimento antigo. Sobre a dificuldade que encontra por ser mulher, ela diz simplesmente que as pessoas respeitam aquelas que se impõem e exigem respeito.

A imagem que temos do pajé indígena velho e sábio ainda se mostra dentro das aldeias, mas os tempos atuais abriram espaço para a juventude. Odair José Borari é da tribo dos Tapajós-Arapiuns, que fica a 14 horas de barco da cidade de Santarém, no Pará. O cocar em sua cabeça indica que é cacique em sua tribo, e ele conta como jovens e velhos decidem juntos os caminhos a serem trilhados.

"Porque aí unifica as forças, tanto a sabedoria do cacique idoso, com a força e a energia daquele jovem, então os dois se juntando temos trabalhos melhores. Na nossa região está sendo assim, eu sou o segundo cacique da minha aldeia, mas o meu avô, que está com 65 anos, ele é o cacique geral, então ele fica mais na aldeia. E eu sou aquele cacique político e fico mais em busca de melhoramento, saúde, educação, questão territorial, não só para a minha aldeia, mas para todas as aldeias que eu trabalho".

Odair mostra respeito ao cacique geral, dizendo que seguir seguir seus conselhos é uma preparação importante para ele como liderança. Para o segundo cacique da tribo dos Tapajós-Arapiuns, as decisões em conjunto e a junção de forças só fortalecem o movimento indígena.

De Brasília, Daniele Lessa

NA MATÉRIA DE AMANHÃ DA SÉRIE ESPECIAL SOBRE O SEGUNDO ENCONTRO NACIONAL DOS POVOS DAS FLORESTAS, VOCÊ VAI CONFERIR QUAIS AS QUESTÕES QUE OS POVOS INDÍGENAS APONTAM COMO OS PRINCIPAIS PROBLEMAS HOJE E COMO ELES ENXERGAM A ATUAL DISCUSSÃO SOBRE AQUECIMENTO GLOBAL E PRESERVAÇÃO DA NATUREZA. NÃO PERCA!

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