Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Produção Científica 1 - Conheça mais sobre as dificuldades para desenvolvimento da pesquisa no Brasil (06'12")

13/08/2007 - 00h00

  • Especial Produção Científica 1 - Conheça mais sobre as dificuldades para desenvolvimento da pesquisa no Brasil (06'12")

A PRODUÇÃO CIENTÍFICA TEM CRESCIDO NO PAÍS A CADA ANO. APESAR DISSO, AINDA SÃO INÚMERAS AS DIFICULDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA NO BRASIL, COMO ENTRAVES NA LEGISLAÇÃO E DESIGUALDADES REGIONAIS NO QUE DIZ RESPEITO À DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS E PESSOAL.
PARA DISCUTIR O TEMA, AS JORNALISTAS ANA RAQUEL MACEDO E MÔNICA MONTENEGRO PREPARARAM UMA SÉRIE ESPECIAL DE CINCO MATÉRIAS. E NA PRIMEIRA REPORTAGEM, A ANA RAQUEL NOS TRAZ UM PANORAMA SOBRE A POSIÇÃO OCUPADA PELO BRASIL NO RANKING DOS PAÍSES COM MAIOR PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO MUNDO E COMO O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA NO PAÍS AINDA ENFRENTA INÚMERAS DESIGUALDADES.

O Brasil ultrapassou Suécia e Suíça e agora ocupa o 15º lugar entre os 30 países com maior número de artigos publicados nas mais importantes revistas científicas do mundo. Estados Unidos, Alemanha e Japão são os primeiros colocados. O ranking, que constitui um dos melhores termômetros sobre a produção científica de um país, foi divulgado recentemente pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação, a Capes.

De acordo com o levantamento, a nova posição do Brasil representa um crescimento de 33% em relação a 2004. Um avanço que, segundo o presidente da Capes, Jorge Guimarães, estava previsto para acontecer somente em 2008.

"O Brasil cresceu no triênio 33%. Não é trivial crescer 33%. Só a china cresce mais. Mas a qualidade nossa é melhor do que da China, Índia e Coréia do Sul, que são as três que estão à nossa frente na produção quantitativa de ciência. A próxima a ser ultrapassada agora é a da Rússia, que teve uma queda brutal de quase 17% nesses dois triênios. Seguindo nesse ritmo, Brasil deve assumir a 14ª posição tão logo, dois anos, mas é possível que ocorra antes.

Apesar da boa notícia, o país ainda enfrenta grandes desafios em relação a um maior desenvolvimento da pesquisa científica em território nacional. E um deles está relacionado às desigualdades regionais quanto ao acesso a recursos e formação de mestres e doutores.

Segundo a Capes, a maior parte da produção científica do Brasil é resultado da publicação de teses e dissertações, desenvolvidas no âmbito de universidades e centros de pós-graduação. Mas, enquanto no Sudeste, são 2024 cursos de pós-graduação, na região Norte, o número cai para 133. As desigualdades aparecem também no número de doutores presentes em cada região. Levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, com base em dados do IBGE, mostra que, em 2004, eram mais de 28.800 doutores no Sudeste do país para cerca de 1700 no Norte.

Na última reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, a SBPC, realizada em Belém, no Pará, em julho passado, o novo presidente da entidade, Marco Antônio Raupp, comentou que a redução das desigualdades regionais na produção da ciência constitui uma das prioridades de sua gestão. E, para Raupp, um dos pontos fundamentais é o investimento em pessoal porque, segundo ele, de nada adianta a ampliação da infra-estrutura de universidades e centros de pesquisa se não houver um empenho na formação de especialistas.

"O pesquisador, o homem, o engenheiro, as várias especialidades vêm em primeiro lugar. Não adianta colocar dinheiro se não temos pessoas qualificadas em número suficiente para desempenhar os projetos, as missões.

Em conjunto com o ex-presidente da SBPC, Ênio Candotti, Raup lançou, durante a reunião dos cientistas em Belém, um desafio ao governo federal: a formação de 10 mil doutores na Amazônia nos próximos dez anos. Uma meta que, segundo eles, poderia ser cumprida com um investimento de R$ 20 milhões por mês.

Em 2006, segundo estimativas do Ministério de Ciência e Tecnologia, o Brasil investiu cerca de R$ 11 bilhões em Ciência e Tecnologia. Somente por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq, foram cerca de R$ 900 milhões em bolsas e fomento à pesquisa. Desse total, 57% foram para a região Sudeste. O Norte ficou com 5%, o Centro-Oeste com 6%, o Nordeste com 15% e o Sul com 16%.

Na avaliação do reitor da Universidade Federal do Pará, Alex Fiúza, um melhor desenvolvimento da pesquisa científica no país depende de uma distribuição mais eqüitativa de recursos e pessoal entre as diferentes regiões do país.

"Se o petróleo está no Rio de Janeiro, está correto investir pesadamente na Universidade Federal do Rio de Janeiro e criar uma Coppe para sustentação na atuação. Se a água está na Amazônia, precisamos ter os maiores especialistas brasileiros em água aqui, com apoio de governo federal formando núcleos de conhecimento nessa área, como em floresta também. Os maiores engenheiros florestais do Brasil, os maiores pólos de conhecimento deveriam ser na Amazônia, porque a floresta está na Amazônia. "

Fiúza defende que o país construa um plano nacional de desenvolvimento científico e tecnológico que tenha como um dos principais focos a diversidade existente no país.

De Brasília, Ana Raquel Macedo

E NA PRÓXIMA MATÉRIA DA SÉRIE ESPECIAL SOBRE A PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO PAÍS, A REPÓRTER ANA RAQUEL MACEDO FALA DE UM OUTRO PROBLEMA QUE AFETA O TRABALHO DOS CIENTISTAS BRASILEIROS: A DIFICULDADE PARA SE TRANSFORMAR O RESULTADO DE UMA PESQUISA EM UM PRODUTO PATENTEADO.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h