Rádio Câmara

Reportagem Especial

Câncer Hereditário 2 - Como funcionam os testes genéticos para o câncer(07'52'')

02/07/2007 - 00h00

  • Câncer Hereditário 2 - Como funcionam os testes genéticos para o câncer(07'52'')

DENTRO DA SÉRIE DE REPORTAGENS ESPECIAIS SOBRE CÂNCER HEREDITÁRIO, HOJE VOCÊ ACOMPANHA COMO FUNCIONAM OS TESTES GENÉTICOS PARA DETECTAR MUTAÇÕES QUE AUMENTAM O RISCO DE TER CÂNCER. ESSE TESTE PODE CUSTAR DE 2 A 4 MIL REAIS E AINDA É REALIZADO EM POUCOS LUGARES DO PAÍS. OUÇA OS DETALHES NA REPORTAGEM DE DANIELE LESSA

De 10% a 15% dos tumores cancerígenos têm origem hereditária. Isso acontece quando os pais transmitem aos filhos uma mutação em algum gene que determina o aumento do risco de ter câncer. Em alguns casos, a chance de desenvolver a doença se aproxima de 90%. Já foram mapeadas algumas alterações genéticas associadas ao câncer de mama, de intestino e de tireóide, entre outros. E já existem testes genéticos que indicam a existência dessas mutações.

É importante destacar que o teste genético não é indicado para qualquer pessoa. Hoje, a investigação genética não consegue apontar se uma pessoa tem um risco maior de ter câncer de maneira geral. Então o teste é indicado em casos onde existem indícios claros de câncer hereditário. Os sinais mais evidentes são vários casos do mesmo tipo de câncer na família e quando os tumores aparecem em pessoas jovens. Atualmente, os genes mais testados são o BRCA 1 e BRCA2, que são associados ao câncer de mama e ovário. Nesse caso, por exemplo, se a mulher recebeu um teste positivo para a alteração genética, ela vai receber orientações sobre dieta, uso de anticoncepcionais,e exames preventivos. Até mesmo a possibilidade de uma cirurgia preventiva será discutida entre a paciente e a equipe médica. O oncogeneticista do Inca, o Instituto Nacional do Câncer, José Cláudio Casali, destaca que a realização do teste se justifica pois o médico pode oferecer alternativas de prevenção e tratamento se o resultado for positivo.

"Quando você sabe que o câncer é hereditário, a informação do teste genético é muito útil, porque ela permite programas de prevenção. Isso é uma coisa que a gente pode oferecer ao paciente e isso é passado antes do teste genético ser feito. Quer dizer, a motivação de fazer um teste não é simplesmente a curiosidade ou o diagnóstico apenas do problema hereditário, mas ela tem que existir junto com uma possibilidade de ação."

Para fazer o teste genético, uma pequena quantidade de sangue é colhida e testada em laboratório. O custo é alto, entre dois e quatro mil reais. Além dos laboratórios privados que fazem o procedimento, na rede pública de saúde apenas o Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro e o Hospital de Clínicas de Porto Alegre fazem o teste para detectar as mutações genéticas que aumentam o risco de ter câncer. José Cláudio Casali informou que o Inca trabalha em um projeto para a implantação de uma rede de câncer familiar. A meta é levar os serviços de aconselhamento genético e os testes para sete capitais brasileiras nos próximos dois anos.

Na maioria das vezes, o teste genético é realizado em pessoas que já estão com um tumor e desejam saber do risco de desenvolverem outro. Ou então em pessoas que apresentam diversos casos de câncer na família e buscam uma orientação. Mas em qualquer situação, o impacto psicológico de fazer um teste dessa natureza é indiscutível. Todos os oncogeneticistas entrevistados por essa reportagem destacam que um aconselhamento genético é fundamental. O paciente deve saber exatamente o que o teste vai procurar, qual o risco de câncer se a alteração genética for encontrada e quais as possibilidades de prevenção e tratamento, como detalha a oncogeneticista responsável pelo serviço de aconselhamento genético do hospital AC Camargo, Maria Isabel Achatz.

"É muito importante um apoio psicológico nesse momento, porque o impacto é muito grande para o paciente. O paciente provavelmente já sabia que ele era um paciente de alto risco, mas ele vai precisar entender que apesar desse alto risco, existem maneiras atualmente de acompanhar e com isso fazer com que esse risco não tenha tanta força nesse paciente. Então são todos os exames que nós vamos propor para esse paciente e até, em alguns casos, as cirurgias profiláticas."

Dependendo da situação, uma cirurgia preventiva para a retirada das mamas pode ser indicada. Casos de câncer hereditário no intestino e na tireóide também tem indicações cirúrgicas, mesmo que os pacientes ainda não tenham a doença.

A realização de um teste genético relacionado ao câncer desperta questões que envolvem toda a vida do paciente. Além da possibilidade de descobrir que tem um risco maior de desenvolver tumores, a pessoa precisa confrontar o fato de que familiares próximos também podem ter sido afetados. Para quem já formou uma família a questão é ainda mais dolorosa, pois existe a chance de 50% do pai ou da mãe ter transmitido a mutação aos filhos. Quando se colocam esses fatos na mesa, é natural que angústias e receios venham com muita intensidade. Apesar disso, quando existem indícios de câncer hereditário, o oncogeneticista do hospital Oswaldo Cruz, Jorge Sabbaga, enfatiza que o paciente deve ser alertado sobre a exietência do teste, e que essa informação deve ser levada aos familiares. Jorge Sabbaga dá o exemplo de uma mulher jovem com histórico de câncer na família e que tenha chegado ao consultório já com um tumor em uma das mamas.

"Aí eu acho que você tem o dever de pedir a pesquisa do gene, porque inclusive isso tem repercussões terapêuticas. Você vai propor a mastectomia, por exemplo, no outro lado, porque a probabilidade dela vir a ter um tumor no outro lado é maior que 50%. Tem a obrigação de perguntar e de informar que esse teste existe, e que os familiares destas pessoas têm que ser, ou devem ser testados, porque você não pode sonegar essa informação. E depois o que fazer com o resultado é uma questão, mas você não pode sonegar essa informação."

Jorge Sabbaga diz ainda que o teste pode ter um efeito tranquilizador nos casos em que a pessoa não apresenta a mutação genética que aumenta o risco de câncer.

"Você poupar em 50% das vezes a neurose que a irmã dessa mulher teve a vida inteira de ficar esperando o seu câncer, e ela pode não ter herdado esse gene. É importante também que a gente avise essas pessoas que elas não precisam ser submetidas àquele rigor que elas seriam submetidas se elas tivessem o gene, -pelo menos o rigor do ponto de vista de diagnóstico precoce. Elas podem casar tranquilamente, não precisam se preocupar com os seus descendentes, então isso também é importante".

Jorge Sabbaga finaliza dizendo que o teste é benéfico independentemente do resultado. Se a mutação for encontrada, a pessoa pode iniciar um programa de prevenção. E se não for encontrada, a pessoa tira dos ombros o enorme peso de saber que apresenta um risco maior de ter câncer.

De Brasília, Daniele Lessa

AMANHÃ, NA TERCEIRA REPORTAGEM DA SÉRIE, VOCÊ VAI SABER MAIS SOBRE ESSAS CIRURGIAS PREVENTIVAS QUE PODEM SER REALIZADAS QUANDO UM TESTE GENÉTICO APONTA UMA MUTAÇÃO GENÉTICA QUE AUMENTA O RISCO DE DE TER CÂNCER. ACOMPANHE AMANHÃ EM QUE CASOS ESSAS CIRURGIAS SÃO INDICADAS

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