Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Hidrelétricas 3 - Repotenciação de usinas pode aumentar de forma significativa o fornecimento de energia - ( 05' 54" )

11/06/2007 - 00h00

  • Especial Hidrelétricas 3 - Repotenciação de usinas pode aumentar de forma significativa o fornecimento de energia - ( 05' 54" )

NA TERCEIRA REPORTAGEM SOBRE AS HIDRELÉTRICAS BRASILEIRAS, VOCÊ VAI SABER COMO PODE FUNCIONAR A REPOTENCIAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS, QUE PROMETE UM AUMENTO SUBSTANCIAL NO FORNECIMENTO DE ENERGIA. ESTUDOS DA UNICAMP E DA USP APONTAM QUE É POSSÍVEL AUMENTAR A OFERTA DE ENERGIA APENAS COM A MELHORIA DAS USINAS JÁ CONSTRUÍDAS, MAS O GOVERNO DISCORDA DA EFICÁCIA DESSA PROPOSTA. ACOMPANHE OS DETALHES COM DANIELE LESSA

Estudos de duas universidades brasileiras apontam que o Brasil não precisa construir mais usinas hidrelétricas para aumentar sua oferta de energia. A possibilidade de fazer uma repotenciação nas usinas mais antigas surge justamente quando o governo defende a construção de novas obras para garantir a energia necessária ao crescimento econômico do país. Estudo da Universidade de São Paulo indica que pode haver um aumento de 8% na atual capacidade de geração de energia se 70 usinas mais antigas receberem novas turbinas. A Unicamp também aposta na repotenciação para melhorar a eficiência energética sem construir novas obras. O pesquisador da Unicamp, Gilberto de Martino Jannuzzi, afirma que até 2020, o Brasil pode adquirir mais 5 gigawatts de potência apenas com a modernização e correção de turbinas e geradores. Essa ganho significa quase a metade da energia produzida pela usina de Itaipu. Gilberto destaca que essa alternativa garante custos econômicos e ambientais muito menores.

" O custo disso com certeza é menor. O custo econômico, sem falar nos custos ambientais, porque você está trabalhando em cima de empreendimentos já feitos, já realizados. Novas usinas vão provocar novos impactos que a gente não consegue nem traduzir nos custos econômicos que a nova usina vai ter, são custos ambientais difíceis de quantificar economicamente, mas são impactos muito sérios e permanentes".

No entanto, setores do governo enxergam a repotenciação com reservas. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, afirma que o potencial para a repotenciação no Brasil é limitado e não atenderia a toda demanda que o país precisa. Tolmasquim não descarta a repotenciação, mas enfatiza que a modernização das usinas atuais não deve ser vista como a solução dos problemas de energia elétrica.

"Seria uma ilusão achar que você vai atender o país seja com repotenciação, seja com aumento da eficiência energética. Ambos são fundamentais, é importante, devem ser estimulados. Mas sem a construção de novas usinas, o país está condenado a não crescer".

O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Nelson Hubner, também critica aqueles que apontam a repotenciação como uma alternativa à construção de novas usinas. O secretário afirma que tecnicamente a repotenciação não fornece mais energia, mas tão somente aumenta a potência das turbinas. Segundo ele, na prática isso pode significar mais segurança para sistema nos horários de maior consumo de energia. Nelson Hubner explica que o aumento da energia produzida está relacionada com o volume de água que passa pelas turbinas, e não com a potência das máquinas.

"Energia é água, é capacidade instalada que você tem, é a altura do barramento, é o volume de água que está armazenada. Repotenciação acrescenta um pouquinho de potência, mas praticamente nada em termos de energia. Isso jamais vai resolver o problema de suprimento energético no Brasil e isso tem que ser colocado no devido lugar".

Porém o professor da Unicamp Gilberto Jannuzzi rebate o argumento do secretário. Na avaliação do pesquisador, é verdade que nem todas as usinas podem ser beneficiadas com uma repotenciação, mas isso não seria justificativa para que essa alternativa não fosse explorada, já que os benefícios podem ser bastante expressivos.

"Eu duvido que esse seja um fato para eliminar essa alternativa.Eu acho que podem ter em algumas ocasiões, em alguns períodos do ano, onde isso realmente aconteça. Eu acho muito estranho que esse argumento inviabilize essa alternativa assim de pronto. Acho necessário analisar com mais calma, acho muito pouco provável que para todas as usinas que a gente poderia fazer esse tipo de ação, durante o ano inteiro, essa situação que ele está falando seja verdadeira".

Gilberto Jannuzzi apresentou um estudo em parceria com o ong WWF. A proposta, chamada de Agenda Elétrico Sustentável, afirma que, até 2020, é possível reduzir a demanda esperada de energia elétrica em até 40%, apenas aumentando a eficiência energética e investindo em fontes alternativas. Em termos práticos, essa energia corresponde à energia de sessenta usinas nucleares de Angra III ou seis hidrelétricas de Itaipu. Além disso, o estudo enfatiza que com o aumento da eficiência energética pode reduzir em sete vezes a área inundada planejada para a construção de reservatórios de hidrelétricas, o que diminuiria os impactos sobre as populações tradicionais e a biodiversidade nacional.

De Brasília, Daniele Lessa

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