Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Antártica 3 - Desafios para realizar pesquisas no continente Antártico - ( 07' 06" )

14/05/2007 - 00h00

  • Especial Antártica 3 - Desafios para realizar pesquisas no continente Antártico - ( 07' 06" )

A TERCEIRA REPORTAGEM SOBRE A ANTÁRTICA MOSTRA COMO OS CIENTISTAS ENCARAM OS DESAFIOS DE REALIZAR PESQUISAS NO CONTINENTE MAIS GELADO DO PLANETA.

Os pesquisadores e militares brasileiros têm um abrigo garantido na Antártica: a Estação Comandante Ferraz. Inaugurada em 1984, a estação tinha na época apenas 150 m2, divididos em oito compartimentos formados por contêineres metálicos. 23 anos depois, a estação brasileira cresceu. Hoje, ela tem mais de 64 unidades, algumas com grandes dimensões, e cerca de 2 mil metros quadrados de área construída. Além disso, existem refúgios e acampamentos para acomodar pesquisadores em áreas afastadas da estação. Obviamente, toda essa estrutura demanda segurança e alta tecnologia, principalmente no controle de temperatura interna, uma vez que lá fora o frio costuma ultrapassar os 20 graus negativos no verão. O professor aposentado Metry Bacila tem 84 anos. Ele esteve três vezes na Antártica e fez parte do grupo que implantou a pesquisa biológica na Estação Antártica Brasileira, em 1984. O professor Bacila observa que o ambiente na estação é bem agradável, inclusive na parte culinária.

"A vida na estação é uma vida muito agradável, os laboratórios funcionam plenamente, com grande atividade científica, o que valoriza muito a participação brasileira na pesquisa antártica."

O professor Bacila conta que a segurança é um item fundamental na permanência no continente antártico. E é preciso estar preparado para obedecer aos caprichos do clima, ensina o cientista.

"Mesmo no verão, a gente tem que tomar muito cuidado porque nós saímos sempre num barco especial para fazer a coleta de material, várias vezes fazendo isso também. Numa das vezes nós tinhamos uma atividade na estação polonesa, nós fomos até lá. Quando estávamos para retornar, o meteorologista da estação me disse não, vocês não vão, vão ficar aqui porque o tempo não vai permitir e de fato, nós ficamos quase uma semana na estação polonesa, porque as condições atmosféricas não permitiam que a gente retornasse à nossa estação."

A coordenadora do Laboratório de Planejamento e Projetos da Universidade Federal do Espírito Santo, Cristina Engel de Álvarez, realiza pesquisas na Antártica há 20 anos. Ela conta que já passou por uma situação delicada, em que agiu contrariando as recomendações. Ela saiu sozinha do acampamento, apesar de uma pequena distância que seria percorrida. No meio do caminho, Cristina se viu numa tempestade repentina, perdida no meio do branco total.

"Fica tudo branco e você já naõ sabe para que lado está indo. Aí tinha um lado que eu sabia que tinha uma escarpa de uns 50 m, do outro lado tinha um rio de degelo, e que seu caísse no rio a coisa ia complicar. Então eu acabei ficando parada, quieta, esperando a tempestade passar, encolhidinha, começando a congelar, até que um da minha equipe, enxergando melhor do que eu, foi lá e me resgatou."

TRILHA

O Programa Antártico Brasileiro dá grande importância à questão da segurança das pessoas que ficam instaladas na estação antártica. Tanto que, cada pesquisador passa antes por um treinamento de uma semana, organizado pela Marinha, com técnicas de orientação, deslocamento em regiões glaciadas, alpinismo, acampamento, navegação e salvamento. Além disso, foi formado um grupo de pesquisa na área de arquitetura que está estudando as edificações brasileiras na Antártica. O objetivo do projeto é avaliar a situação atual das construções, para otimizar seu funcionamento e minimizar os impactos ambientais. A coordenadora do Projeto é Cristina Engel de Álvarez. Na opinião da cientista, a tecnologia nos acampamentos brasileiros na Antártica foi uma das coisas que mais avançou nesses 20 anos em termos de conforto e segurança. Além disso, ela comemora a qualidade dos serviços de internet e telefonia para os pesquisadores brasileiros.

"Essa parte de comunicações é o melhor. Então a gente tem telefone por satélite, dentro do acampamento já é possível ter pelo menos um forninho de microondas, já consegue ter um sistema de energia bom. Alguns acampamentos levam até botas de neve, então a própria ferramenta de montagem das barracas, algumas são estruturadas com fibra, mais fácil de montar, mais leve, mais segura."

TRILHA

De qualquer forma, os cientistas se sentem privilegiados podendo realizar pesquisas na Antártica. É o que confirma a pesquisadora Cristina Engel de Alvarez.

SONORA: Cristina1: "Você tem a chance de, primeiro fazer o que você optou por fazer, todos são voluntários. E você tem a chance de se dedicar integralmente para aquilo que você se propôs a fazer. Aí, você está num lugar que não tem poluição, você não tem que se preocupar em estacionar carro, não tem banco, e que você trabalha com pessoas normalmente altamente qualificadas, pessoas felizes, está bem alimentado, bem vestido. Então você tem todas as condições para fazer um bom trabalho."

Uma pesquisa realizada na antártica sobre tratamento de esgoto com radiação ultravioleta é a menina dos olhos do laboratório que Cristina chefia na Universidade Federal do Espírito Santo. Ela explica que o esgoto é decantado, sendo, ao final, submetido a uma radiação ultravioleta, o que acaba com mais de 99% das bactérias restantes. Com isso, o esgoto é lançado ao mar praticamente isento de bactérias. A pesquisa foi testada na Antártica e o projeto já está em fase de implantação. O professor Metry Bacila também se orgulha de uma das pesquisas que realizou na Antártica, em que analisou a resistência dos peixes e aves antárticos às altíssimas concentrações de flúor daquelas águas.

De Brasília, Adriana Magalhães.

AMANHÃ, A ÚLTIMA MATÉRIA SOBRE A ANTÁRTICA TRAZ NOVIDADES SOBRE O TURISMO NO CONTINENTE GELADO.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h