Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Reciclagem 4 - Nova destinação de lixo pode gerar renda e resgatar cidadania (05'41'')

09/04/2007 - 00h00

  • Especial Reciclagem 4 - Nova destinação de lixo pode gerar renda e resgatar cidadania (05'41'')

RESTOS DE COMIDA, VIDRO, ALUMÍNIO, PAPEL E PLÁSTICO QUE SERIAM JOGADOS NO LIXO ESTÃO, NA VERDADE, GERANDO RENDA E RESGATANDO A AUTO-ESTIMA E A CIDADANIA DE MUITA GENTE PELO BRASIL AFORA.
A REPORTAGEM ESPECIAL DE HOJE VAI FALAR SOBRE O QUE SE PODE CHAMAR DE RECICLAGEM DE VIDAS. ACOMPANHE NA QUARTA MATÉRIA DA SÉRIE, COM O REPÓRTER JOSÉ CARLOS OLIVEIRA.

MÚSICA: "Vira lixo" c/ Ceumar
Tudo vira lixo
Tudo pode virar lixo
Carta de amor vira lixo
Conta pra pagar vira lixo
Seja como for tudo pode virar lixo
Namorado, gato, tio
Até seu pavio
Também pode virar lixo

Para provar que nada é lixo, iniciativas de reciclagem no Brasil inteiro estão garantindo um destino mais nobre a tudo que muita gente ainda costuma jogar fora. De quebra, a conscientização ecológica ainda vem acompanhada de inclusão social. Restos de comida e de merenda escolar, por exemplo, estão virando adubo em Santo Antônio do Descoberto, no interior de Goiás. O educador ambiental Raílson Ribeiro detalha a experiência em curso na horta criada na escola municipal "A caminho da luz".

"Com esse projeto da horta, a gente pega todo o resto de comida da escola e transforma em adubo orgânico, através de um processo chamado compostagem. A gente tritura esse alimento, monta camadas com esterco, capina, resto de folhagem e mais o resto de alimento. Passa por um processo de fermentação e, em torno de 60 a 90 dias, todo aquele resto de comida se tornou adubo orgânico natural, sem químico nenhum e pronto para ser utilizado na horta."

Na Universidade de São Paulo, cerca de 500 pessoas, entre alunos, professores e funcionários, estão envolvidos no programa USP Recicla. Trata-se de um projeto audacioso que visa a construção de sociedades sustentáveis por meio da educação ambiental e da gestão de resíduos. O carro-chefe das experiências é a substituição de copinhos descartáveis por canecas dentro da USP, como explica o educador ambiental Paulo Diaz Rocha,

"A gente usa um copo descartável em cinco minutos, que vai rapidamente para o lixo. É um gasto grande. A gente prefere investir mais numa caneca, que dure muitos anos e não vai para o lixo."

Ainda na linha de prolongar ao máximo o uso de produtos, Paulo Diaz lembra que a USP também está preocupada com a reutilização do papel, que representa o maior volume de resíduo sólido produzido em universidades em geral. Já houve campanhas para incentivar a comunidade acadêmica a usar o verso do papel para rascunho e a digitar teses, dissertações e monografias em frente e verso.

SOBE TRILHA

Já na cidade de Ponta Grossa, o projeto Reciclando Tecnologias, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, tem uma experiência elogiada no aproveitamento de outros dois vilões do lixo: o vidro e o alumínio. Embora nem todos saibam, o vidro pode ser totalmente reciclado. Com o uso de cacos, é possível reduzir, sensivelmente, a quantidade de areia, barrilha, calcário e outras matérias-primas usadas na produção do vidro. Além do aspecto econômico, o coordenador do projeto, Luís Maurício Resende, ressalta a preservação ambiental e a inclusão social atreladas a essa iniciativa.
"A nossa proposta é desenvolver uma tecnologia tanto de fusão de alumínio quanto de sinterização de vidro, a partir de reciclados, para que comunidades carentes possam se utilizar dessa tecnologia para fazer artesanato. O material é resíduo urbano: o vidro vem a partir de garrafas do lixo, e o alumínio vem principalmente de latinhas, que é a fonte mais freqüente que a gente encontra em resíduo urbano."

Segundo Luís Maurício, o projeto piloto foi desenvolvido dentro da universidade, em parceria com a associação de catadores de Ponta Grossa. A partir deste mês, o alcance do projeto será ampliado, com potencial de atender 100 pessoas do município na produção de artesanato e confecção de peças a partir de vidro e do alumínio descartado no lixo.

MÚSICA: "Bienal" (Zeca Baleiro)
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana

Em Belo Horizonte, a Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável, mais conhecida como "ASMARE", recolhe 450 toneladas de resídiuos recicláveis por mês. A catadora Maria das Graças Marçal, que ajudou a fundar a Asmare há 17 anos, afirma que o sucesso da iniciativa depende do apoio do poder público, de empresas e do cidadão comum em torno de uma coleta seletiva bem organizada.

"A gente tem um galpão só com catador, que sai para a rua coletando. Temos um galpão de coleta seletiva, com triadores, que são ex-moradores de rua e que ficam só triando dos doadores, empresas e condomínios que fazem a coleta seletiva e mandam para esse galpão. E a gente vende para as indústrias de reciclagem. Artesanato com material reciclado, tem muita gente fazendo já."

O slogan da Asmare é "reciclando vidas", já que a inclusão social de catadores e ex-moradores de rua devolve a auto-estima e a cidadania de uma população historicamente excluída. Nas oficinas culturais da associação, o lixo de Belo Horizonte se transforma em diversos produtos de papelaria, vestuário e joalheria. No mesmo espaço, mais de mil e quinhentas pessoas, muitos delas ex-excluídos, ganham trabalho, renda e vida mais cidadã.

De Brasília, José Carlos Oliveira

PARA ENCERRAR A SÉRIE DE MATÉRIAS SOBRE RECICLAGEM, A REPORTAGEM ESPECIAL DE AMANHÃ VAI MOSTRAR SUGESTÕES ECOLOGICAMENTE CORRETAS QUE PODERÃO SER ADOTADAS POR QUALQUER PESSOA EM CASA E NO TRABALHO. NÃO PERCA.

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h