Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Água 4 - Iniciativas voltadas à recuparação dos rios - ( 09' 01" )

19/03/2007 - 00h00

  • Especial Água 4 - Iniciativas voltadas à recuparação dos rios - ( 09' 01" )

HOJE, EM TODO O MUNDO, É COMEMORADO O DIA MUNDIAL DA ÁGUA.// PARA MARCAR A DATA, DURANTE ESTA SEMANA, A RÁDIO CÂMARA TEM TRAZIDO UMA SÉRIE DE REPORTAGENS SOBRE A SITUAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL E NO MUNDO.// NESTA QUARTA MATÉRIA DA SÉRIE, A REPÓRTER MONICA MONTENEGRO CONTA UM POUCO DAS INICIATIVAS QUE VEM SENDO DESENVOLVIDAS PELA SOCIEDADE EM TODO O PAÍS PARA RECUPERAR OS NOSSOS RIOS E ASSEGURAR ÁGUA DE BOA QUALIDADE PARA TODOS.

"É impressionante ver um homem chorando, dizendo que não tem mais peixe no rio".
O relato do frei Francisco Poel (Pul), que durante um ano percorreu toda a extensão do rio São Francisco, é um exemplo de como o país mais rico em água doce maltrata essa riqueza. O desmatamento das matas ciliares e o lançamento de materiais como esgoto e rejeitos industriais comprometem a qualidade das águas não só do São Francisco, mas de grande parte dos rios brasileiros.

E as conseqüências dessa falta de cuidado têm impactos diretos na qualidade de vida das populações, com a transmissão de doenças causadas pela água de má qualidade, como diarréia, amebíase e hepatite. Dados do IBGE indicam que quase metade das cidades brasileiras não coletam nem tratam o seu esgoto. O resultado está nas filas dos hospitais e postos de saúde. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro estimam que 80% das consultas e 60% das internações na rede pública estão relacionadas a enfermidades provocadas pela contaminação da água.

Além de provocar doenças, a má gestão dos recursos hídricos acaba agravando a pobreza em regiões em que a pesca é um elemento fundamental para a sobrevivência, como lembra o engenheiro agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, João Suassuna.

"Existem espécies de peixes que só desovam através da piracema, que é um fenômeno que acontece com os peixes, que eles precisam de correnteza, subir algumas cachoeiras para desovar. Com a construção de hidrelétricas nesses locais de cachoeiras simplesmente o peixe deixou de subir o rio e está escasseando algumas espécies. A mais importante delas é o surubim, que é o peixe que é a cara do São Francisco, que tá desaparecendo. Antigamente, se pescava surubim de 40, 50 kg. Hoje em dia quando se pega um de 6, 7 kg é uma festa"

A volta do peixe ao rio das Velhas, maior afluente do São Francisco, é o objetivo principal do projeto Manoelzão, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais. A idéia pode parecer restrita, mas depois de ouvir a explicação do médico e coordenador do projeto, Apolo Heringer Lisboa, percebe-se a importância de haver um sentido prático para ações de recuperação e conservação das águas.

"Todo mundo sabe o que tem que fazer pro peixe voltar, ou deixar de fazer. Deixar de lançar esgoto no rio, deixar de desmatar, não jogar óleo diesel dos postos de gasolina, não jogar agrotóxico. Tudo isso vai trazer o peixe de volta. Se o peixe voltar ao rio, é porque mudou a mentatliadde das pessoas. Dá pra conviver a produção econômica com o rio cheio de peixe. O nosso objetivo é nadar e pescar no Rio das Velhas até 2010. E tudo começou com a preocupação da saúde humana. A volta do peixe vai indicar que a água está em boa qualidade e as crianças vão poder nadar"

O coordenador do projeto faz questão de destacar que até o ano 2000 a cidade de Belo Horizonte lançava todo seu esgoto sem tratamento diretamente no rio. Além das ações de mobilização e educação ambiental, o projeto Manuelzão trabalha com pesquisas que já apontam um aumento gradual de oxigênio nas águas do Rio das Velhas.

A mobilização da sociedade também já provoca mudanças positivas no principal rio da cidade de São Paulo. Em 1991, um forte movimento social iniciou ações para promover a despoluição do Tietê. O movimento chegou a agregar 1 milhão e 200 mil pessoas, que pressionaram o poder público e se tornaram voluntárias na coleta de água para análise da sua qualidade.
A coordenadora da organização não governamental Rede das Águas, Malu Ribeiro, conta que as perspectivas para a revitalização do Tietê são animadoras, justamente devido à participação intensa da sociedade no projeto de despoluição financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, o BID.

"Se o projeto continuar com a transparência que vem tendo nesses cinco anos e com a participação da sociedade, nos próximos 40 anos teremos um rio utilizado pela sociedade na região metropolitana de São Paulo. E já nos próximos cinco anos, a volta da vida aquática e da qualidade de vida das populações ribeirinhas nas cidades que ficam abaixo da capital de SP. São mais de 80 cidades que seriam beneficiadas com a despoluição do Tietê"

Malu Ribeiro alerta que, em menos de 20 anos, a sociedade conseguiu acabar com a vida no trecho metropolitano do rio Tietê e que agora será necessário pelo menos o dobro do tempo para a sua recuperação. Ela destaca a importância da participação de todos de forma permanente, para evitar que os rios brasileiros se transformem em depósitos de lixo, esgoto e rejeitos industriais.

No sertão nordestino, o acesso à água de qualidade não é mais um sonho tão distante. Graças à construção de cisternas que captam água de chuva, a vida de pessoas como o agricultor Cícero Sabino, que vive no município alagoano de Olho D´Água do Casado, mudou consideravelmente nos últimos anos.

"Aos poucos a gente vai tirando o carro pipa. Porque antes da cisterna existia aquela pendência do carro pipa. Agora com a cisterna, as pessoas têm água da chuva, água pura, que é captada no telhado e enche a cisterna. Depois das cisternas as pessoas têm água limpa que só usam pra beber e cozinhar. Então era água de barreiro, água de açude, onde os animais bebiam as pessoas também iam buscar pra beber"

As 300 cisternas de Olho D´Água do Casado foram construídas em regime de mutirão com o apoio da ASA, Articulação pelo Semi-Árido. A organização não governamental lançou, em 2003, o projeto 1 milhão de cisternas, que conta com o apoio da Febraban, do Ministério do Desenvolvimento Social e de pessoas físicas de todo o país. O custo de uma cisterna fica em torno de mil e quinhentos reais.

Mas o coordenador da ASA na Bahia, Naidison Baptista, faz questão de destacar que apenas cisternas não resolvem o problema do sertanejo, que também precisa de crédito e assistência técnica para ter autonomia.

Embora o país abrigue realidades tão distintas quanto as vividas às margens do São Francisco, do Tietê ou mesmo no semi-árido nordestino, cada brasileiro tem em comum a responsabilidade de cuidar bem das nossas águas. O secretário nacional de Recursos Hídricos, João Bosco Senra, afirma que o fato de o Brasil abrigar cerca de 18% da água potável do mundo gera uma falsa sensação de abundância, que leva ao desperdício e prejudica a conservação desse recurso.

"É necessário também as pessoas terem a noção de bacia hidrográfica. Entender que se ela joga lixo em um local inadequado esse lixo com a chuva vai pra dentro de um rio, vai poluir ou a água superficial ou a água subterrânea. Se ele joga óleo no esgoto isso vai contaminar as nossas águas. Então essa percepção de que ele pode, na sua casa, na sua escola, no seu trabalho, contribuir é fundamental. Compreender que quando você desmata uma área, está contribuindo para a impermeabilização do solo, pra aumentar a velocidade da água, que faz um processo de arraste desse solo, que inclusive tira a capacidade desse solo produzir e gera processo de erosão, que vai assorear os rios e vai dificultar a infiltração dessa água para que ela saia no período de estiagem"

Além da mobilização em torno da universalização do saneamento e da recuperação de rios, é necessária a colaboração de cada um para preservar os nossos recursos hídricos. Com medidas simples, como o reúso da água, tanto pequenos consumidores, quanto industriais e agricultores podem colaborar para que a água de qualidade esteja disponível em quantidade suficiente para todos os brasileiros nos próximos anos.

De Brasília, Mônica Montenegro

E NA ÚLTIMA MATÉRIA DA SÉRIE, VOCÊ VAI CONFERIR COMO A ÁGUA ESTÁ FORTEMENTE PRESENTE EM NOSSA CULTURA, SEJA EM MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS, QUANTO EM CERIMÔNIAS RELIGIOSAS. NÃO PERCA!

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h