Rádio Câmara

Reportagem Especial

Especial Mulheres 2 - Tata Amaral - ( 06' 27" )

05/03/2007 - 00h00

  • Especial Mulheres 2 - Tata Amaral - ( 06' 27" )

TRILHA Morricone

"Olha, na verdade, eu era cinéfila. Um dia eu tive que fazer uma opção e fui fazer cinema, porque era a única coisa que eu gostava. Foi assim quase que por acaso, sabe?"

Tata Amaral, diretora do filme Antônia, não tinha grandes pretensões ao começar na sétima arte. Ela foi ouvinte nas aulas de cinema na Universidade de São Paulo, e não sabia se realmente sairia de lá com uma profissão. Mas os primeiros trabalhos foram acontecendo e a cineasta começou como assistente de produção. Era a rotina agitada de quem é o faz-tudo de um set de filmagens: varre o chão, pega café, providencia tudo o que está faltando. Para Tata Amaral, a experiência no trabalho de produção lhe deu uma visão completa de como se realiza uma obra cinematográfica.

"Posso dizer que eu conheço as entranhas do cinema. Sei muito bem o que é o trabalho, ao contrário de alguns diretores que começam já dirigindo, eu sei no que consiste o trabalho. Por isso eu sempre tive um pensamento de produção muito grande, de como fazer as coisas, isso sempre me interessou.
Não só fazer o filme, contar uma história, mas como contar uma história e como preparar a equipe toda do filme para a realização de um projeto de direção."

Em 1986, Tata Amaral dirigiu seu primeiro curta-metragem, após ganhar um concurso de estímulo à produção de cinema. Depois disso, passou a trabalhar como assistente de direção de filmes publicitários. Alguns curtas depois e veio o primeiro longa, o filme Um Céu de Estrelas. Filmada em meio a pouquíssimo dinheiro, a estória tensa de uma cabeleireira que decide romper um relacionamento é filmada em apenas um cenário. A obra recebeu 18 prêmios no Brasil e no exterior e deu início a uma trilogia de filmes que exploram diferentes facetas do arquétipo da mulher. No ano 2000, Tata Amaral lançou o longa Através da Janela, filme que retrata as tensões e sutilezas de uma relação permeada de apego entre mãe e filho. E atualmente está em cartaz nos cinemas com Antônia, estória de quatro jovens mulheres negras que partem em busca do sonho de viver da arte de fazer música.

TRILHA

No latim, a palavra Antônia significa gloriosa, inestimável, aquela que não tem preço. Filmado com atores não profissionais, o filme narra a estória de quatro garotas da periferia de São Paulo que buscam no rap um canal de expressão. Para Tata Amaral, o filme reflete a afirmação simples do poder e da existência feminina.

"Elas não precisam necessariamente se impor. Elas são mais afirmativas. No filme Antônia, logo no começo tem um show na Brasilândia em que as meninas se apresentam. E a primeira que fala é a personagem da Negra Li, a Preta, e ela vai pra frente e fala: Essa sou eu sim, mulher sim, guerreira, com muito orgulho sim. É afirmativo. É diferente da lamúria, diferente da oposição. É afirmação."

SOBE SOM

Tata Amaral se assume como workaholic (uma pessoa viciada em trabalho), pois ela mergulha no cinema de maneira apaixonada. Mas destaca que desde o início batalhou por um toque mais feminino nas produções que realizou. E esse toque do feminino aparece não só nos temas das estórias, mas também na dinâmica da produção.
Estabelecer um ritmo de trabalho que lhe permita ter tempo para a casa e a família, por exemplo.

"Cinema tem uma coisa de hierarquia muito clara. O diretor está lá, se ele sabe fazer o seu trabalho ele é respeitado pela equipe, então eu realmente nunca senti nenhuma espécie de problema por ser mulher. O que eu batalho, até pela posição que eu ocupo, que é uma posição de autoridade, de respeito, é pra ter uma dinâmica mais feminina nas produções. Por exemplo, a coisa de horário. Quando eu fazia comercial, era um ambiente masculino, os caras não têm que estar em casa, cuidando da casa, dos filhos. E eu, ao contrário, eu gostava e gosto ainda da minha casa, na época a minha filha era pequena, gostava de estar com ela. Então eu brigava muito por um horário mais humano de trabalho."

Tata Amaral conta que também foi trilhando seu caminho como cineasta como as mulheres de Antônia, com confiança, garra e desejo. O filme já deu origem a uma série de televisão, e a cineasta está produzindo uma continuação. Enquanto as meninas de Brasilândia batalham por realizar o sonho de viver de música, Tata Amaral finaliza dizendo que seu sonho e simplesmente viver cada vez mais de cinema.

De Brasília, Daniele Lessa

A abordagem em profundidade de temas relacionados ao dia a dia da sociedade e do Congresso Nacional.

De segunda a sexta, às 3h, 7h20 e 23h